quarta-feira, 29 de julho de 2009

UM TEMA BEM ACTUAL


O Vazio da Pressa e do Dinamismo

A pressa, o nervosismo, a instabilidade, observados desde o surgimento das grandes cidades, alastram-se nos dias de hoje de uma forma tão epidémica quanto outrora a peste e a cólera. Nesse processo manifestam-se forças das quais os passantes apressados do século XIX não eram capazes de fazer a menor ideia. Todas as pessoas têm necessariamente algum projecto. O tempo de lazer exige que se o esgote. Ele é planeado, utilizado para que se empreenda alguma coisa, preenchido com vistas a toda espécie de espectáculo, ou ainda apenas com locomoções tão rápidas quanto possível. A sombra de tudo isso cai sobre o trabalho intelectual. Este é realizado com má consciência, como se tivesse sido roubado a alguma ocupação urgente, ainda que meramente imaginária. A fim de se justificar perante si mesmo, ele dá-se ares de uma agitação febril, de um grande afã, de uma empresa que opera a todo vapor devido à urgência do tempo e para a qual toda a reflexão — isto é, ele mesmo — é um estorvo. Com frequência tudo se passa como se os intelectuais reservassem para a sua própria produção precisamente apenas aquelas horas que sobram das suas obrigações, saídas, compromissos, e divertimentos inevitáveis.
Theodore Adorno, in "Minima Moralia"

Será que vale a pena tanta pressa??? Pensemos nisso!

Emília

9 comentários:

  1. Passamos pouco tempo connosco.

    Falamos pouco com nós próprios.

    Vivemos a correr e nesse vai-vem acelerado mal damos pela nossa existência.

    Quando chega ao fim do dia e nos deitamos, assim que pousamos a cabeça na almofada, sucumbimos atordoados ao cansaço acumulado que descarregamos num sono profundo. Dormimos a correr, para que possamos acordar cedo e temos com frequência que fintar as insónias inconvenientes que espreitam sempre oportunas, por uma ida à casa de banho a meio da noite, para nos estragar o dito repouso. É nessa inesperada cilada nocturna que muitas vezes temos de enfrentar as preocupações que fingimos esquecidas durante o dia. De manhã, assim que toca o despertador e mal abrimos os olhos para receber a primeira luz, já a cabeça leva meio organizada a nossa agenda, dando-nos instruções para o resto da jornada, para que nada falhe.

    Por vezes vivemos dias inteiros sem olharmos bem nos olhos uns dos outros.

    Quase sempre o que interessa é o tamanho do plasma na sala, a gama da viatura, os requisitos do portátil, o destino de férias, a escola de línguas, as toilettes e o chalet. Mas quantos de nós não terão ainda ouvido da boca de um amigo, de um vizinho, de um familiar ao qual a saúde ou a sorte ou as duas pregaram uma partida e esteve por momentos mais para lá do que para cá, que passou desde então a ver a vida com outros olhos, a prestar atenção aos pequenos pormenores até aí insignificantes: o som e o cheiro da chuva a cair na terra batida, a respeitosa imensidão do mar, o canto divino do rouxinol (como o que vive agora junto a minha casa), um pôr-do-sol numa tarde de Verão, a luz do luar numa noite fria de Inverno, o frescura de um gelado comido num relvado debaixo de uma árvore em Agosto, o sorriso de quem nos ama.

    Lamechices, dirão alguns. Certamente, mas até ver. Também o outro dizia que a todos chega o tempo de acreditar em Deus: a diferença é que uns acreditam a vida inteira, outros só quando a vêm a abalar, mas mais cedo ou mais tarde, todos lá vão bater.
    Beijinho e doce dia...a propósito já sorriste hoje?...Rui

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  2. Rui, que lindo comentário o teu.! É pena que o ser humano teime em só dar valor às coisas quando as perde; só se lembre de apreciar as coisas pequenas e belas da vida quando viu que ela lhe ia fugir. Conheço inúmeros casos assim e eu também não fujo à regra. Tive até agora só motivos para não deixar um dia sequer de me rir; agora penso e digo: era feliz e não sabia,,,, devia ter rido mais..; hoje ainda não sorri, mas os olhos da pessoas que te falei estão começando a brilhar, pouco, mas já se nota alguma luz neles e sabes, quando os nossos mais queridos voltam a sorrir, inevitávelmente nós sorrimos.Temos urgentemente de andar mais deagar.., os relacionamentos estão maus, porque não queremos ter tempo para eles; há os plasmas, os carros, as férias para o estrangeiro...; pois olha, sinceramente.., trocava isso tudo por umas boas gargalhadas e um lindo rosto luminoso. Há-de vchegar esse dia..., aos poucos ele chega. Obrigada, Rui pelo carinho e sorri muito hoje e sempre
    Emília

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  3. Tudo no mundo é possível e, se alguma coisa parecer impossível por varios motivos, existe o milagre,chama-se amor, este algo inexplicável capaz de viabilizar o impossível e resgatar a esperança.

    Beijinho e acredita essa luz vem tal como o sol pela manhã....rui

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  4. Existem situações totalmente imunes à pressa.
    Cadinho RoCo

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  5. Obrigada, cadinho Roco, pela visita e pelo comentário. Volte sempre! A porta fica sempre aberta..., é só entrar! Um beijinho

    Emília Pinto

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  6. Oi Emilia
    UMa fujinha....
    Vida repleta de corridas...tanta coisa boa passou ao lado de certeza e eu não vi...quantas vezes repito aquele fado "Ai quem me dera voltar a ter 20 anos..."mas no meio dessas corridas, tive coisas boas, que recordo com saudade.. e ensino às minhas filhas, que muito de bem se pode fazer...o dia continua a ter as 24 horas ,mas estas actualmente são mais árduas...os empregos exigem muito mais horas,os patrões não as contabilizam,...contabilizam sim os lucros nao conhecem os empregados... por isso para tràs fica por vezes a familia e o lazer que tanta falta faz...passam os anos...as medalhas, não são entregues e resta-nos o amor da familia, que muito mais poderiamos ter feito por ela...no meio de todo este tumulto, vou sossegada consegui dar todo o amor...
    Até breve
    Herminia

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  7. Olá Hermínia! Que bom « vê-la » de novo no nosso cantinho. Já estávamos com saudades!Tem que arranjar maneira de poder entrar aqui mais vezes, pois sente-se a falta da outra colaboradora.Para a semana devo ir até aí. Depois entro em contacto. Beijinhos e obrigada pela visita, apesar de curta.

    Emília

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  8. Quem passa a correr pela vida e não se detém para ver os maravilhosos pequenos pormenores que ela tem, não a vive, apenas passa por ela e não sabe o quanto está a perder!
    Bjns

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  9. Obrigada, Cuidandodemim pela visita. Temos que andar devagarinho..., a correr não apreciamos nada e, se deixamos de ver, não temos outra oportunidade, porque o que passa não volta mais. Um beijinho
    Emília

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