COMEÇAR DE NOVO... E CONTAR COMIGO... VAI VALER A PENA... TER AMANHECIDO... TER ME REBELADO... TER ME DEBATIDO... TER ME MACHUCADO... TER SOBREVIVIDO... TER VIRADO A MESA... TER ME CONHECIDO... TER VIRADO O BARCO... TER ME SOCORRIDO... COMEÇAR DE NOVO ......
sábado, 21 de novembro de 2020
DEIXAI....
sábado, 7 de novembro de 2020
UM MUNDO COM MENOS
Imagem- pixabay
" Minha infância foi a comum da classe média brasileira de então. Se eu tivesse de identificar a grande diferença entre ser uma criança em 1970 e hoje, no mesmo patamar social, apontaria para a variedade atual. Variedade do quê? Tudo.
Sobre a mesa da nossa cozinha repousavam bananas, laranjas, ocasionalmente maçãs.....Surgia de quando em vez um tipo de mamão amarelo e algum melão, Nada de kiwis ou da bela e insípida fruta- dragão. Desconhecíamos physalis. Vi a minha primeira lichia já doutor. Havia chocolates. Eram sempre doces e com leite......hoje...com leite, com pimenta, com grãos de flor de sal, etc, etc.....
Eu usava um calçado esportivo Ki-chute....hoje, uma prateleira de tênis na loja é uma festa de cores cada vez mais impressionantes. É difícil escolher agora, em parte porque ficaram mais caros, em parte porque trazem excesso de informações....
O desejo de consumo existe em todos os grupos sociais, ainda que nem todos possam atendê-lo, Zygmund Bauman chega a sugerir que as lojas sejam denominadas farmácias, porque oferecem remédios para vários males. Está triste hoje? Compre! Está eufórico? Compre! Está com tédio? Compre! O mundo da internet tem um efeito secundário importante, Ele escancara a possibilidade de tudo para todos, Mesmo que eu não possa comprar X ou Y estou exposto às ofertas.....
Havia diferenças sociais ( inclusive maiores do que as de hoje ) quando eu tinha 7 anos. Havia pobres e ricos e , provavelmente, um maior conformismo com as desigualdades. É difícil comparar épocas. Queríamos coisas e desejávamos consumir. Tenho a sensação subjetiva de que aceitávamos melhor a recusa da nossa vontade. Não era necessário, parece, que as crianças fossem intensamente felizes 24 horas por dia....
Como explicar que a diminuição visível da desigualdade de renda em alguns anos deste século não foi acompanhada de uma queda de furtos ou roubos? Devemos levar em conta que a força do consumo aumentou e nem sempre o crime é famélico. A lei é quebrada pela busca de status, por um celular mais avançado e pelo tênis importado. Matamos e morremos por logomarcas e seu valor simbólico. Uns estão entediados pelo excesso e outros ressentidos pela falta. Ambos constituem uma dupla complicada para um projeto nacional."
Excertos do capítulo Um Mundo com menos, do livro O Coração das coisas de
Leandro Karnal
Amigos, muito haveria a transcrever deste capítulo, mas ficaria um post muito longo. Estes
excertos bastam para partilhar a mensagem que dele retirei. Estes tempo de pandemia têm-nos forçado a viver com menos, inclusive, com menos manifestações de afecto e esta é a pior das carências. Não creio que algo vá mudar na mentalidade humana, mas temos que manter a esperança....
temos de aprender a viver com menos, aliás há muito que esse aprendizado era necessário
Emília Pinto.
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