quarta-feira, 18 de julho de 2018

HÁ 35 ANOS....




....partiu ANTÓNIO VARIAÇÕES


Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar!
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se a vida em ti é de outro jeito
Ver-te sorrir, eu nunca te vi
E a cantar, eu nunca te ouvi

Será de ti ou pensas que tens que ser assim
Ver-te sorrir eu nunca te vi
E a cantar, eu nunca te ouvi
Será de ti ou pensas que tens que ser assim
Olha que a vida não é nem deve ser
Como um castigo que Tu terás que viver
Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se a vida em ti é de outro jeito


Os meus amigos portugueses conhecem bem este nosso cantor, mas os que tenho no Brasil com certeza não saberão quem foi. Aconselho-os a pesquisarem, pois teve um percurso de vida muito interessante. Ficaria um post muito longo se aqui vos deixasse informações sobre a vida dele. Espero que gostem

Emília Pinto

segunda-feira, 2 de julho de 2018

CANTAR....



.....DO AMIGO PERFEITO


Passado o mar, passado o mundo, em longes praias,
de areia e ténues vagas, como esta
em que haverá de nossos passos a memória
embora soterrada pela areia nova
e em que sobre as muralhas quanta sombra
na pedra carcomida guarda que passámos,
em longes praias, outras nuvens, outras vozes,
ainda recordas esta, ó meu amigo?

 Aqui passeámos tanta vez, por entre os corpos
 da alheia juventude, impudica ou severa,
 esplêndida ou sem graça, à venda ou pronta a dar-se,
 ido na brisa o sol às mais sombrias curvas;
 e o meu e o teu olhar guiando-se leais,
 de nós um para o outro conquistando -
 em longes praias, outras nuvens, outras vozes,
 ainda recordas, diz, ó meu amigo?

 Também aqui relembro as ruas tenebrosas,
 de vulto em vulto percorridas, lado a lado,
 numa nudez sem espírito, confiança
 tranquila e áspera, animal e tácita,
 já menos que amizade, mas diversa
 da suspeição do amor, tão cauta e delicada -
 em longes praias, outras nuvens, outras vozes,
 ainda as recordas, diz, ó meu amigo?

 Também aqui, sorrindo em branda mágoa,
 desfiámos, sem palavras castamente cruas,
 não já sequer os í ntimos segredos
 que o próprio amor, porque ama, não confessa,
 nem a vaidade humana dos sentidos,
 mas subtis fraquezas vis, ingénuas e secretas -
 em longes praias, outras nuvens, outras vozes,
 ainda recordas, diz, ó amigo?

Partiste e foi contigo a juventude.
Ficou o silêncio adulto, pensativo e pródigo
e o terror de não ser minha estátua
 jacente sobre o túmulo frio onde as cinzas da infância desmentem-
 palpitar de traiçoeira fénix! -
 que só do amor ou só da terra haja saudade.
 Em longes praias, outras nuvens, outras vozes
tu sabes que a levaste, ó meu amigo?

Jorge de Sena. in citador

Queridos amigos, com este belo poema de Jorge de Sena deixo-vos o meu até logo e os votos de que fiquem bem, com alegria, serenidade e saúde, Daqui a uma semana estarei de volta. Ficam também o meu abraço e a certeza da minha sincera amizade 

Emília Pinto