sábado, 28 de janeiro de 2023

MÁSCARAS

  Imagem Pixabay


Uso máscaras. Sou humana. 

Se a angústia me invade, sou gitana, 

E canto, e danço, sem parecer tola. 


Visto a máscara da compreensão, 

Irradiando compaixão, 

Quando a ingratidão me assola. 


Ao se apresentar o pavor, 

Combato-o com o amor, 

Escudo abrigado em minh´alma. 


Para excluir o sofrimento 

E me livrar do aborrecimento, 

Ornamento-me com a calma. 


 Se for a vez da arrogância, 

Insuflo-me de tolerância 

E não magoo vivalma. 


Ao aproximar-se a infidelidade, 

Estendo a mão da sinceridade, 

Rompendo silêncio constrangedor. 


Para renunciar ao egoísmo, 

Exercito o altruísmo, 

Para mim, confortador. 


 Mardilê Friedrich Fabre, in Site de Poesia


O carnaval está perto, mas não foi por ele que escolhi este poema; achei-o interessante porque. na verdade, todos nós usamos "máscaras " por variados motivos Não conhecia esta poetisa, mas gostei muito dos poemas que encontrei


Emília Pinto

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

URGENTEMENTE

 

Imagem da net

 
É urgente o amor 
É urgente um barco no mar 

É urgente destruir certas palavras, 
ódio, solidão e crueldade, 
alguns lamentos, muitas espadas. 

É urgente inventar alegria, 
multiplicar os beijos, as searas, 
é urgente descobrir rosas e rios 
e manhãs claras. 

Cai o silêncio nos ombros 
e a luz impura, até doer. 
É urgente o amor, 
é urgente permanecer. 

 Eugénio de Andrade, in "Até Amanhã"

Dia 19 comemora- se o centenário de Eugénio de Andrade. Escolhi este poema para assinalar a data, poema muito pertinente, porque " É urgente destruir certas palavras, ódio, solidão e crueldade"

Emília Pinto

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

TERRA ADUBADA

 

Imagem Pixabay 


 Por detrás das árvores não se escondem faunos, não.
 Por detrás das árvores escondem-se os soldados 
.com granadas na mão 
 
As árvores são belas com os troncos dourados. 
São boas e largas para esconder soldados
Não é o vento que rumoreja nas folhas, 
não é o vento, não. 
São os corpos dos soldados rastejando no chão

O brilho súbito não é do limbo das folhas verdes reluzentes. 
É das lâminas das facas que os soldados apertam entre os dentes. 

As rubras flores vermelhas não são papoilas, não. 
É o sangue dos soldados que está vertido no chão

Não são vespas, nem besoiros, nem pássaros a assobiar. 
São os silvos das balas cortando a espessura do ar. 

Depois os lavradores rasgarão a terra 
com a lâmina aguda dos arados, 
e a terra dará vinho e pão e flores 
adubada com os corpos dos soldados 

 António Gedeão in Linhas de Força


Estamos a viver dias horríveis de guerra, em vários partes do globo e, se os poderosos não se preocuparem com a paz," depois da Curva da estrada ", encontraremos só " corpos de soldados rastejando no chão "

Emília Pinto

domingo, 1 de janeiro de 2023

PARA ALÉM......

 

 
Imagem Pixabay


......da curva da estrada 
Talvez haja um poço, e talvez um castelo, 
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto. 
Enquanto vou na estrada antes da curva 
Só olho para a estrada antes da curva, 
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva. 
De nada me serviria estar olhando para outro lado 
E para aquilo que não vejo. 
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos. 
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer. 
Se há alguém para além da curva da estrada, 
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada. 
Essa é que é a estrada para eles. 
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos. 
Por ora só sabemos que lá não estamos. 
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva 
Há a estrada sem curva nenhuma. 

 Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjunto s" Heterónimo de Fernando Pessoa


Encontrei este poema de Alberto Caeiro e achei-o pertinente para o começo do novo ano. Temos uma nova estrada a percorrer e, como sempre, ela vai ter curvas e algumas bastante fechadas; saibamos fazer o caminho, passo a passo, com muito cuidado, pois nunca saberemos o que há depois da curva

Amigos, desejo-vos uma caminhada serena, com saúde para poderem desviar as pedras que encontrarem nessa estrada; " há beleza bastante para estarmos aqui ", mas também muitas  dificuldades .


Emília Pinto