Aprender a ver, tal como eu o entendo, é já quase o que o modo afilosófico de falar denomina vontade forte: o essencial nisto é, precisamente, o poder não «querer», o poder diferir a decisão. Toda a não-espiritualidade, toda a vulgaridade descansa na incapacidade de opor resistência a um estímulo — tem que se reagir, seguem-se todos os impulsos. Em muitos casos esse ter que é já doença, decadência, sintoma de esgotamento, — quase tudo o que a rudeza afilosófica designa com o nome de «vício» é apenas essa incapacidade fisiológica de não reagir— Uma aplicação prática do ter-aprendido-a-ver - enquanto discente em geral, chegar-se-á a ser lento, desconfiado, teimoso.
Ao estranho, ao novo de qualquer espécie deixar-se-o-á aproximar-se com uma tranquilidade hostil, — afasta-se dele a mão. O ter abertas todas as portas, o servil abrir a boca perante todo o facto pequeno, o estar sempre disposto a meter-se, a lançar-se de um salto para dentro de outros homens e outras coisas, em suma, a famosa «objectividade» moderna é mau gosto, é algo não-aristocrático par excellence.
Friedrich Nietzsche, in "Crepúsculo dos Ídolos
Sempre disse ( continuo a pensar da mesma maneira ) que gosto das pessoas que dizem o que pensam e, como também já afirmei aqui muitas vezes, considero-me " um livro aberto " uma pessoa frontal que sempre diz o que pensa. No entanto, com o passar dos anos aprendi que nem tudo se pode dizer e, principalmente, que há maneiras delicadas de mostrar aquilo que pensamos.
Emília Pinto