quinta-feira, 19 de maio de 2022

AINDA....MAIO

 

Soneto de Maio


Suavemente Maio se insinua 
Por entre os véus de Abril, o mês cruel 
E lava o ar de anil, alegra a rua 
Alumbra os astros e aproxima o céu. 

Até a lua, a casta e branca lua 
Esquecido o pudor, baixa o dossel 
E em seu leito de plumas fica nua 
A destilar seu luminoso mel. 

Raia a aurora tão tímida e tão frágil 
Que através do seu corpo transparente 
Dir-se-ia poder-se ver o rosto 

Carregado de inveja e de presságio 
Dos irmãos Junho e Julho, friamente 
Preparando as catástrofes de Agosto... 

 Ouro Preto, maio de 1967 Vinicius de Moraes


Achei muito interessante este poema de Vinicius, dedicado ao mês de Maio, aqui Primavera, lá Outono
Não o conhecia. Espero que gostem!

Não se assustem com " as catástrofes de Agosto ". Este mês não é do agrado do povo brasileiro e eu nunca entendi o motivo . Talvez  deixem aqui alguma explicação, quem sabe?

Emilia Pinto 

sexta-feira, 13 de maio de 2022

MAIO .....


" Estamos em maio, o mês das flores, o mês sagrado pela poesia. Não é sem emoção que o vejo entrar. Há em minha alma um renovamento; as ambições desabrocham de novo e, de novo, me chegam revoadas de sonhos. Nasci sob o seu signo, a treze, e creio que em sexta-feira; e, por isso, também à emoção que o mês sagrado me traz, se misturam recordações da minha meninice. Agora mesmo estou a lembrar-me que, em 1888, dias antes da data áurea, meu pai chegou em casa e disse-me: a lei da abolição vai passar no dia de teus anos. E de fato passou; e nós fomos esperar a assinatura no Largo do Paço. Na minha lembrança desses acontecimentos, o edifício do antigo paço, hoje repartição dos Telégrafos, fica muito alto, um sky-scraper; e lá de uma das janelas eu vejo um homem que acena para o povo. Não me recordo bem se ele falou e não sou capaz de afirmar se era mesmo o grande Patrocínio. Havia uma imensa multidão ansiosa, com o olhar preso às janelas do velho casarão. Afinal a lei foi assinada e, num segundo, todos aqueles milhares de pessoas o souberam. A princesa veio à janela. Foi uma ovação: palmas, acenos com lenço, vivas... Fazia sol e o dia estava claro. Jamais, na minha vida, vi tanta alegria. Era geral, era total; e os dias que se seguiram, dias de folganças e satisfação, deram-me uma visão da vida inteiramente festa e harmonia. Houve missa campal no Campo de São Cristóvão. Eu fui também com meu pai; mas pouco me recordo dela, a não ser lembrar-me que, ao assisti-la, me vinha aos olhos a "Primeira Missa", de Vítor Meireles. Era como se o Brasil tivesse sido descoberto outra vez... Houve o barulho de bandas de música, de bombas e girândolas, indispensável aos nossos regozijos; e houve também préstitos cívicos. Anjos despedaçando grilhões, alegorias toscas passaram lentamente pelas ruas. Construíram-se estrados para bailes populares; houve desfile de batalhões escolares e eu me lembro que vi a princesa imperial, na porta da atual Prefeitura, cercada de filhos, assistindo àquela fieira de numerosos soldados desfiar devagar. Devia ser de tarde, ao anoitecer....


  Parte de um texto de Lima Barreto in O portal da literatura Afro- Brasileira 


 Achei interessante este texto, pois desconhecia que a Lei Áurea tinha sido assinada no mês de Maio pela princesa Isabel que, como primeira senadora do Brasil, financiava a alforria dos escravos, com o seu próprio dinheiro, antes de assinar a lei. Era conhecida como  A Redentora


 Infelizmente, ainda há muito trabalho escravo por esse mundo fora


Emília Pinto

segunda-feira, 2 de maio de 2022

MAIO.....

imagem pixabay

... CHUVOSO


Deste lado oiço gotejar
sobre as pedras
Som da cidade...
Do outro via a chuva no ar
Perpendicular, fina
tomava cor,
distinguia-se
contra o fundo das trepadeiras
do jardim. 
No chão, quando caía
abria círculos
nas pocinhas brilhantes
já formadas 
Há lá coisa mais linda
que este bater de água
na outra água?

Um pingo cai
e forma uma rosa...
um movimento circular, 
que se espraia.
Vem outro pingo
E nasce outra rosa...
e sempre assim!

Os nossos olhos desconsolados, 
sem alegria nem tristeza,
tranquilamente
vão vendo formar-se as rosas,
brilhar
e mover-se a água...

Irene Lisboa, in Antologia poética


Admirar as pequenas coisas,  tão belas, da natureza, com certeza traz mais luz aos nossos dias, principalmente quando as desgraças que vemos pelo mundo nos deixam abalados

Emília Pinto