terça-feira, 24 de outubro de 2023

A FALTA DE....

 

Imagem da net



.....Cultura Ética da Nossa Civilização 




Creio que o exagero da atitude puramente intelectual, orientando, muitas vezes, a nossa educação, em ordem exclusiva ao real e à prática, contribuiu para pôr em perigo os valores éticos. Não penso propriamente nos perigos que o progresso técnico trouxe directamente aos homens, mas antes no excesso e confusão de considerações humanas recíprocas, assentes num pensamento essencialmente orientado pelos interesses práticos que vem embotando as relações humanas. O aperfeiçoamento moral e estético é um objectivo a que a arte, mais do que a ciência, deve dedicar os seus esforços. É certo que a compreensão do próximo é de grande importância. Essa compreensão, porém, só pode ser fecunda quando acompanhada do sentimento de que é preciso saber compartilhar a alegria e a dor. Cultivar estes importantes motores de acção é o que compete à religião, depois de libertada da superstição. Nesse sentido, a religião toma um papel importante na educação, papel este que só em casos raros e pouco sistematicamente se tem tomado em consideração. O terrível problema magno da situação política mundial é devido em grande parte àquela falta da nossa civilização. Sem «cultura ética» , não há salvação para os homens

Einstein in " Como vejo o mundo "


Parece ter sido escrito hoje, este texto, não acham? Uma prova de que a mentalidade humana não muda...


Emília Pinto

terça-feira, 3 de outubro de 2023

PAÍS EMERSO...CÂNTICO

 

Os previdentes e os presidentes tomam de ponta 
Os inocentes que têm pressa de voar 
Os revoltados fazem de conta fazem de conta... 
Os revoltantes fazem as contas de somar. 

Embebo-me na solidão como uma esponja 
Por becos que me conduzem a hospitais. 
O medo é um tenente que faz a ronda 
E a ronda abre sepulcros fecha portais; 

Os edifícios são malefícios da conjura 
Municipal de um desalento e de uma Porta. 
Salvo a ranhura para sair o funeral 
Não há inquilinos nos edifícios vistos por fora 

Que é dos meninos com cataventos na aérea 
Arquitetura de gargalhadas em cornucópia? 
Almas bovinas acomodadas à matéria 
Pastam na erva entre as ruínas da memória, 

Homens por dentro abandalhados em unhas sujas 
Que desleixaram seu coração num bengaleiro; 
Mulheres corujas seriam gregas não fossem as negras 
Nódoas deixadas na sua carne pelo dinheiro; 

Jovens alheios à pulcritude do corpo em festa 
Passam por mim como alamedas de ciprestes 
E a flor de cinza da juventude é uma aresta 
Que me golpeia abrindo vácuos de flores silvestres 

E essa ansiedade de mim mesma me virgula 
Paula de pátria entressonhada. É um crisol. 
E, o fruto agreste da linfa ardente que em mim circula 
Sabe-me a sol. Sabe-me a pássaro. Pássaro ao sol. 

Entre mim e a cidade se ateia a perspectiva 
De uma angústia florida em narinas frementes. 
Apalpo-me estou viva e o tacto subjectiva-me 
a galope num sonho com espuma nos dentes. 
 

E invoco-vos, irmãos, Capitães-Mores do Instinto! 
Que me acenais do mar com um lenço cor da aurora 
E com a tinta azulada desse aceno me pinto. 
O cais é a urgência. O embarque é agora

Natália Correia

No tempo de ditadura, a pobreza era enorme, em todos os aspectos. Temos, ainda, de tudo um pouco do que aqui descreve Natália Correia, mas, pelo menos, não precisamos de ter medo do " tenente que faz a ronda"

Emília Pinto