segunda-feira, 4 de abril de 2022

GENTE

 




 Imagem da net

 

Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco 

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis 

Faz renascer meu gosto 
De luta e de combate 
Contra o abutre e a cobra 
O porco e o milhafre 

Pois a gente que tem 
O rosto desenhado 
Por paciência e fome 
É a gente em quem 
Um país ocupado 
Escreve o seu nome 

E em frente desta gente 
Ignorada e pisada 
Como a pedra do chão 
E mais do que a pedra 
Humilhada e calcada 

Meu canto se renova 
E recomeço a busca 
De um país liberto 
De uma vida limpa 
E de um tempo justo 

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia

Infelizmente, o povo não é protegido pelos seus dirigentes, mas antes , esmagado, pisado  como vemos um pouco por todo o lado. E todos esperamos " Um tempo justo " que tarda a chegar

Emília Pinto

30 comentários:

  1. Boa tardinha de paz, querida amiga Emília!
    Fico impressionada como há muito tempo existe guerras de vários tipos e que já foram cantadas pelos poetas a fim de amenizar um pouco a angústia do coração.
    Estamos todos aguardando ansiosos e confiantes o tempo justo.
    Oxalá possamos viver para ver e agradecer a Deus sua Divina Providência sobre a face da Terra!
    Os humanos precisamos nos remodelar a fim da promoção mundial da paz e da fraternidade.
    Amiga, um poema atual, a imagem está muito propícia.
    Que não sejamos mãos que massacram e sim que amparam!
    Tenha dias abençoados com saúde, paz e Amor!
    Beijinhos carinhosos e fraternos

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    1. Não creio que o " tempo justo " chegur algum dia Rosélia: nunca houve esse tempo e nunva haverá. O homem parece gostar de uma guerrinha ...ao contrário dos outros bichos, ditos selvagens que só guerreiam para sobreviverem. Pouco ou nada podemos fazer, Amiga, a não ser, usarmos as nossas " mãos para amparar e não para massacrar " Isso, sim, está ao nosso alcance. Um beijinho, querida Amiga e muito obrigada pelo carinho. Paz e saúde para todos
      Emilia

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  2. Linda poesia e infelizmente assim é...Tantos destemperos, governantes simplesmente monstruosos, etc... Gostei de passar aqui e te ler, nesse início de semana! beijos, chica

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    1. Sempre foi assim, Chica, mas uma guerra como esta não esperavamos ver. Esperemos que esse facinora não ouse avançar, mas...não sei... uma fera encurralada torna-se muito perigosa . Beijinhos, Chica e tudo de bom, para ti e para os teus.
      Emilia

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  3. Gostei bastante deste poema e na publicação em geral!
    --
    Embriaguei meu coração ...

    Beijos. Uma excelente semana

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    1. Obrigada, Cidália, pela visita. Saúde para todos aí em casa. Beijinhos
      Emilia

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  4. A Sophia. Uma escritora tão atenta às questões sociais, preocupou-se sempre com os que sofrem. Por isso está sempre actual.
    "Pois a gente que tem
    O rosto desenhado
    Por paciência e fome
    É a gente em quem
    Um país ocupado
    Escreve o seu nome"
    Parece que está a falar de agora, desta ocupação e desta guerra que é um ultraje àquilo que nos define como seres humanos. Sim, minha Amiga, todos esperamos um tempo justo e com paz. Com urgência.
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

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    1. Eu não conhecia este poema, Graça, mas, quando o encontrei achei-o tão pertinente e actual que resolvi partilhá-lo. Parece que foi escrito hoje, precisamente porque o ser humano sempre se comportou de uma maneira " animalesca ( não querendo ofender os animais ...) quando resolve lutar para ter mais poder, subjugando outros povos, . Sempre foi assim e, sempre vai ser, querida Amiga. Como dizes, Sofia sempre se preocupou com os que sofrem e por isso é actual no que escreve o que prova que ela viu GENTE a sofrer, gente sbjugada , gente com fome e, nós, Amiga, também temos visto e continuaremos a ver, enquanto por cá andarmos. É muito triste escrever isto, mas é a realidade. Graça, minha Amiga, agradeço o carinho das tuas palavras e espero que estejam bem de saúde e com a serenidade possivel, nestes tempos em que ela é dificil de permanecer entre nós. Beijinhos, Amiga!

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  5. Um poema muito actual...Estamos a atravessar momentos muito complicados.
    Obrigada pela partilha.
    Beijos e abraços
    Marta

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    1. Estamos, sim, Marta e este poema é actualissimo e são-no todos os que falarem de guerras, pois elas sempre existiram e vão continuar a acontecer, todas elas insensatas, todas elas desnecessárias e todas elas com consequências desvastadoras para os beligerantes e para todos nós. Obrigada, Marta, pela visita e desejo-te um bom fim de semana, com saúde para todos. Beijinhos
      Emilia

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  6. Uma escolha perfeita e que infelizmente continua atual, no sentido de não se defender essas mesmas pessoas e assim vamos nós, cantando e rindo e a descurar os direitos que não estão garantidos…
    Tão pertinente quanto belo, um beijinho e boa semana

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    1. O ser humano é terrivel quando tem em mente só o poder e não tem o minimo respeito pelas vidas de inocentes. Sempre foi assi, João e assim continuará a ser, infelizmente. Um beijinho e muito obrigada pela visita. Uma boa semana, na medida do possivel
      Emilia

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  7. Emília, querida, conheci essa excelente poeta através de vocês, dos nossos irmãos portugueses, e a cada poema que leio dela, gosto mais. O que ela diz, é duro, mas é assim pra pior. Basta olhar essa guerra infame, só olhar as lágrimas daquelas mulheres e crianças; é só olhar os prédios, as construções que estão no chão e que eram lindas. Pra quê, por quê? E ainda escutei hoje, 'deles', que é mentira, não mataram um só ser! Tudo invenção! E temos de ficar com cara de paisagem!
    Bem, amiga, e nós, como estamos? Tem vacina, não tem vacina; é corrupção, são mentiras, e na hora de votarmos ainda votamos mal pra caramba, acreditando em promessas, em papai Noel e coelhinho da páscoa! A gente não aprende, caímos na lábia deles, desses homens públicos que não pensam no povo, raros os que cumprem e trabalham pelo país. E será sempre assim, não tenho mais idade para ilusões, amiga, não tenho mais o direito de achar que nossas rezas salvarão o mundo, que temos de ter esperança, sermos otimistas. Eu já percebi, há muito, como funcionam as coisas, e povo com pouca instrução não tem peso, vai ser embrulhado. Porque escrevi tudo isso, querida? Porque senti que esse belo poema que trouxeste, tocou meu coração, minha indignação. Em plena pandemia uma guerra? Não tem justificativa nenhuma, é pura loucura e coisas mais. É incrível e inaceitável o que estamos assistindo.
    Beijinho, querida, saúde e paz, é o que desejo, apesar de tudo.

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    1. " É incrivel e inaceitável o que estamos assistindo" e ainda não vimos tudo, querida Tais. A cada dia que passa novas crueldades nos são mostradas e, por mais que nos entristeçam, não conseguimos largar os meios de comunicação; custa-nos perceber uma guerra destas em pleno sec. XXI, que mata a torto e direito, não respeitando ninguém. Embora mais mortiferas, as armas de hoje têm capacidade de abater só alvos militares, evitando matar civis; mas Putim está firmemente decidido a arrasar a Ucrania e só pára quando atingir o seu diabólico intento. Querida Amiga, obrigada pela tua opinião, sempre assertiva e espero que estejam bem de saúde, com a alegria possivel. Um beijinho e uma boa semana
      Emilia

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  8. Um belo poema que amei ler.tempos difíceis a aspirar sempre a paz. Abraços

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    1. Obrigada, Edite! Não sei se alguma vez teremos paz no mundo, mas, creio que não, pois as guerras têm sido uma constante. Não sei se tens blogue, mas parece-me que não. Volta sempre! Saúde e paz para todos. Um beijinho
      Emilia

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  9. um belo poema se Sofia, que me encheu a alma

    beijinho

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    1. Que bom, Manuel! Fico feliz que um poeta goste dos poemas que aqui trago. Espero que estejam todos bem de saúde e que, apesar dos tristes acontecimentos, a serenidade esteja presente no teu dia a dia. Beijinhos
      Emilia

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  10. Poema lindíssimo que muito gostei de ler
    .
    Cumprimentos cordiais
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  11. Um excelente poema de Sophia de Mello Breyner. Tão atual que podia ter sido escrito agora.
    Abraço e saúde

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    1. Poderia, sim, Elvira e com certeza sabes o motivo de tamanha actualidade; as guerras sempre existiram e continuarão a existir e, infelizmente são sempre actuais. Obrigada, querida Amiga e vamos lá....continemos a acreditar na paz.Beij8nhos
      Emilia

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  12. Um grande poema de uma grande escritora.
    Continuação de boa semana, amiga Emília.
    Um abraço.

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  13. De grande profundidade, este poema de Sophia de Mello Breyner para ter sido escrito agora, de tal modo se adapta à realidade actual.
    Foi uma excelente escolha, querida amiga.

    Um apertado abraço, com votos de que a paz volte rapidamente àquele país tão devastado, e a todos os outros que tanto estão sofrendo.

    Continuação de boa semana.
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

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    1. Também gostei muito deste poema, querida Mariazita, precisamente por vir ao encontro das desgraças que estão a acontecer bem perto de nós. Esta guerra parece preocupar-nos mais que as outras que acontecem em vários lugares, se calhar, pela proximidade, mas, todas elas são terriveis Esperemos que a paz volte, mas, infelizmente, quando esta acabar, teremos outra. O ser humano nasceu para guerrear- Triste realidade! Obrigada, querida Amiga e desejo que estejas bem de saúde e que a dor da perda que tiveste recentemente esteja a diminuir. Beijinhos
      Emilia

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  14. Querida Emília,
    Escolhi e declamei este poema uma vez em público. Tive aulas de poesia e declamação numa Universidade Sénior.
    Um poema que revela como a humanidade não tem evoluído, ou melhor melhorado desde então, pelo contrário.

    "...
    Meu canto se renova
    E recomeço a busca
    De um país liberto
    De uma vida limpa
    E de um tempo justo."

    Não quero ser pessimista, mas não sei se algum dia veremos este anseio de Sophia realizado.

    Minha amiga, obrigada pelas palavras de carinho que me dirigiu no Entre Nós.
    Creia que a sua amizade me é preciosa.

    Um enorme beijinho de amizade <3

    Fê blue bird

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    1. Não é uma questão de pessimismo, Fê, é uma realidade que constatamos pelo que a história nos mostra. Desde sempre o homem guerreou e não vai ser agora que vai deixar de o fazer. Sabemos que o mundo inteiro quer a paz, mas há sempre quem esteja mais interessado na guerra, não só pela ânsia de poder, mas também pela indústria do armamento, cada vez mais sofisticado. Esse dinheiro daria para acabar com a fome no mundo, mas, infelizmente continuará a haver fome e as guerras continuarão por toda a parte. Amiga, agradeço- te imenso a visita e, apesar do pessimismo, façamos a nossa parte para o " tempo justo " tão desejado pela nossa grande poetisa e por todos nós. Um beijinho muito especial e que a saúde e a serenidade estejam presentes na vida de todos vós, aí em casa
      Emilia

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  15. Os temas que procuras para postar são sempre sociais e humanistas, e que, infelizmente, são sempre atuais.
    Na maior parte dos países, os governos não governam para os carenciados, nem para os oprimidos, bem pelo contrário, mas acho que sempre assim foi e continuará a ser.
    Gostei muito de reler o poema de Sophia, que podia ter sido escrito ontem.
    Espero que estejam todos bem. Eu escapei à Covid e às gripes, pelo menos até agora.
    Beijinhos e bom domingo.

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    1. Olá Céu, que bom voltar a ver-te....andavas " sumida ", mas o que importa é que estás bem. Eu, felizmente, também tenho escapado à Covid e às gripes, mas, como bem dizes, " até agora ", pois o virus ainda não nos deixou. Sempre foi assim, Céu e vai continuar a ser, é o que também penso e a história, mostra-nos que estamos certas obrigada por teres vindo. Beijinhos e que as " maleitas " continuem longe de ti
      Emilia

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  16. Um poema de Sophia, que ainda não conhecia, e que adorei descobrir por aqui!...
    Um tempo justo... será que já houve um dia? Em algum lugar?
    É que a dicotomia entre reis e escravos... conduz-nos para as maiores clivagens da humanidade... e parece-me que ninguém estará moldado, para viver tempos de equilíbrio... porque no fundo, nunca os terá tido... a justiça, sempre se associa a uma balança... mas os tempos... continuam a ser de um profundo desequilíbrio... de acordo com as desigualdades dos seus protagonistas... reis e escravos... ontem, com hoje, sempre de alguma forma...
    Mais uma publicação de excelência, que nos faz reflectir tanto... sobre este mundo tonto... que se vai renovando... repetindo as velhas receitas de sempre... e ainda assim, esperando resultados diferentes...
    Um beijinho grande!
    Ana

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    1. " Tempo justo " , um termo bonito, mas, assim como a paz, começa a ser uma utopia; nunca houve esse tempo e nunca haverá. Como bem dizes, , não estamos preparados para esse " equilibrio " e, se há muitos que lutam por mais igualdade e respeito, há outros tantos a ambicionar cada vez mais poder e, claro, não olham a meios para conseguirem os seus intentos. Também gostei muito deste poema, Ana! O mundo se renova a cada momento, mas, o homem, Amiga, continua com a mesma mentalidade, infelizmente. Obrigada, querida Amiga e espero que estejam bem de saúde, principalmente a tua mãe . Beijinhos
      Emilia

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