Se há na terra um reino que nos seja familiar e ao mesmo tempo estranho, fechado nos seus limites e simultaneamente sem fronteiras, esse reino é o da infância. A esse país inocente, donde se é expulso sempre demasiado cedo, apenas se regressa em momentos privilegiados — a tais regressos se chama, às vezes, poesia. Essa espécie de terra mítica é habitada por seres de uma tão grande formosura que os anjos tiveram neles o seu modelo, e foi às crianças, como todos sabem pelos evangelhos, que foi prometido o Paraíso.
A sedução das crianças provém, antes de mais, da sua proximidade com os animais — a sua relação com o mundo não é a da utilidade, mas a do prazer. Elas não conhecem ainda os dois grandes inimigos da alma, que são, como disse Saint-Exupéry, o dinheiro e a vaidade. Estas frágeis criaturas, as únicas desde a origem destinadas à imortalidade, são também as mais vulneráveis — elas têm o peito aberto às maravilhas do mundo, mas estão sem defesa para a bestialidade humana que, apesar de tanta tecnologia de ponta, não diminui nem se extingue.
O sofrimento de uma criança é de uma ordem tão monstruosa que, frequentemente, é usado como argumento para a negação da bondade divina. Não, não há salvação para quem faça sofrer uma criança, que isto se grave indelevelmente nos vossos espíritos. O simples facto de consentirmos que milhões e milhões de crianças padeçam fome, e reguem com as suas lágrimas a terra onde terão ainda de lutar um dia pela justiça e pela liberdade, prova bem que não somos filhos de Deus.
Eugénio de Andrade, in 'Rosto Precário
"Não, não há salvação para quem faça sofrer uma criança, que isto se grave indelevelmente nos vossos espíritos."
Esta frase em negrito basta, não é preciso dizer mais nada.
Só quero dizer que vou dedicar às crianças este mês de Junho,
Emília Pinto
Concordo na íntegra com a frase en negrito.
ResponderEliminarCumprimentos poéticos
Está tudo muito bem dito nessa frase, Obrigsda, Amigo! Saúde para todos Um beijinho
EliminarEmilia
Só podemos concordar e esperar que TODAS as crianças possam ser respeitadas, bem tratadas e não sejam feitas para sofrer... beijos, tudo de bom,chica
ResponderEliminarTodos gostariamos que assim fosse, Chica, mas, infe,izmente, em pleno sec.XXI, há crianças a morrere de fome e o mundo a desperdiçar tantos alimentos. Obrigada pela visita querida Amiga e, façamos a nossa parte, sempre que pidermos. Beijinhos
EliminarEmilia
Muito bem. Adorei a publicação :))
ResponderEliminar.
Rodeada de sonhos impossíveis ...
Beijos. Votos de uma boa tarde
Obrigada, Cidália, pela visita. Um beijinho e saúde!
EliminarEmil8a
Boa noite de serenidade, querida amiga Emília!
ResponderEliminarExupéry sabia das coisas que valem a pena.
Jesus nos ensinou claramente: " Deixai vir a Mim as criancinhas."
Não foi à toa, claro!
Estamos com a humanidade sem sensibilidade aos seres tão indefesos e até mesmo à questão espiritual.
Tudo delegado em favor do dinheiro e do poder, amiga.
Uma inversão de valores impressionante.
Toda falta de amor aos pequeninos haverá de ter justiça um dia.
Tenha uma nova semana abençoada!
Beijinhos com carinho de gratidão e estima
Sabes, Roselia, eu acho que foi sempre assim, só que nós não sabiamos o que se passava. Hoje a informação é muita e tudo o que acontece sabe-se imediatamente. Havia muita violência contra as crianças, abandono e fome e até era pior, porque não havia como denunciar essas maldades. O dinheiro e o poder sempre comandaram o mundo e não tenho esperanças de que algo mude para melhor. Temos, sim, de fazer a nossa parte, ajudando no que nos for possivel. Amiga, muito obrigada pelo carinho da visita e desejo-te saúde; espero que os teus problemas já estejam resolvidos e estejas completamente recuperada. Beijinhos
EliminarEmilia
Olá Emília, fiquei muito emocionada com a grandeza e a verdade de tua postagem. As crianças merecem esse olhar de atenção e carinho. Beijos ;) https://botecodasletras2.blogspot.com/
ResponderEliminarObrigada, Jeanne, pela tua visita. Sim, as crianças merecem tudo, mas, infelizmente são muito maltratadas e em pleno séc XXI ainda passam fome. Um beijinho e desejo saúde e paz para todos vós
EliminarEmilia
Um texto muito verdadeiro e actual...Temos que proteger as crianças...
ResponderEliminarObrigada pela partilha.
Beijos e abraços
Marta
Temos, sim, Marta, mas, se mesmo os próprios pais as maltratam, como poderemos nós protegê-las ? E das guerras e da fome ? Tantas atrocidades, Amiga que arrepia qualquer pessoa com o minimo de sensibilidade. Muito obrigada, Amiga e tudo bom, especialmente com saúde. Com certeza, já estás completamente recuperada. Espero que sim! Beijinhos
EliminarEmilia
Bom dia, querida amiga, nunca será demais trazer as crianças, falar nas crianças com o frágil sonho de que as coisas mudarão, com todas as redes sociais oferecendo nada, com os pais ocupadíssimos com seus Smartphones. Crianças clamam, desde que nascem, por carinho e por atenção. Por educação. Mas o que mais existe é a deseducação, aprendem tudo que não devem, já nascem com um celular nas mãos, e os pais acham muito engraçadinho uma criancinha de um ano clicando! E colocamos mais, nesse balaio, os canais de televisão oferecendo violência e outras coisinhas mais. Pronto... Estão feitas para a vida!
ResponderEliminarE a fome? E a pobreza extrema em que milhões vivem em lugares sem saneamento básico? Qual é o papel dos Governos? Assim é impossível, amiga!
Gostei muito disso, também:
"Elas não conhecem ainda os dois grandes inimigos da alma, que são, como disse Saint-Exupéry, o dinheiro e a vaidade." Pobre de nossas crianças!
Maravilha de postagem, querida, " é preciso bater, mesmo que seja em pedra dura..."
Muita saúde aí para todos teus.
Beijinho!
Os pais, alguns, claro, querem as crianças quietas para poderem assistir a novela e o futebol e colocam-nos com os celulares na mão, esquecendo- se que, depois de terem filhos, eles têm se ser a prioridade. Vemos meninos de olhinhos tristes apesar de terem tudo o que o dinheiro pode comprar, mas falta-lhes o essencial, a atenção dos pais; hoje a vida é muito corrida, mas o que importa é a qualidade do tempo que passam com os filhos e não a quantidade. Não custa perguntar como passou o dia na escola, e basta essa pergunta para que a criança comece a contar tudo o que lá se passou; além de adquirirem a confiança dos filhos, mostram interesse pela sua vidinha; parece não importar, mas para a criança o dia que teve é a sua vida que vale tanto como a de um adulto. Há a briguinha com um colega, há a queda que teve no recreio, a alegria por ter conseguido fazer um desenho, enfim...uma série de pequenas coisas que ele quer contar aos pais e estes não podem alegar que estão com pressa, que depois contam ; custa muito dispôr de algum tempo para escutar os filhos.? Não...mas há muitos que não fazem isso. Quanto à fome, maus tratos e guerras, Amiga, isso são factos que acontecem em pleno séc XXI, mas que, infelizmente não podemos resolver. O meu coração aperta quando vejo crianças sem comida e penso nos meus netos tão felizes, principalmente por terem comida e muito carinho. Obrigada, Tais, pelo belo comentário, assertivo, como sempre. Um beijinho e um bom fim de semana, com saúde para todos e sempre com muito afecto à tua volta.
EliminarEmilia
Um excelente texto de um dos meus poetas preferidos que me era desconhecido.
ResponderEliminarAbraço e saúde
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ResponderEliminarittelkom jakarta
Eugénio de Andrade. As saudades que tenho dele. Este texto, que já li inúmeras vezes, fala-nos das crianças, da sua inocência, de como se deve ter em atenção a forma como as tratamos. Há de facto tantas crianças a quem tudo falta, desde o amor à mínima subsistência. É um crime deixar sofrer esses pequenos seres indefesos. Como não nos enternecermos sempre perante uma criança? Como é possível que alguém as maltrate?
ResponderEliminarO texto fala-nos ainda de ser este tema recorrente na poesia. Talvez os poetas queiram recuperar a inocência, ou inventar uma infância que não lhes magoe o coração...
Muita saúde, minha Amiga Emília.
Um beijo.
São perguntas para as quais não conseguimos obter resposta, Graça! Como é possivem cometer tamanhas barbaridades com crianças sempre tão encantadoras e que só pedem " miminho. E quanto aos poetas, acho que é isso mesmo, " inventar uma infância que não lhes magoe o coração " Gostei muito desta tua afirmação, Graça! A poesia ajuda-nos a imaginar que não há crianças a sofrer tanto. Por uns momentos, acreditamos que todas brincam felizes. Um beijinho, Amiga e saúde para todos. Um bom Santo António! Aqui em Famalicão também estamos a festejar esse santo, com as famosas festas Antoninas . Obrigada!
EliminarEmilia
Em louvor das Crianças!
ResponderEliminarQue bela dedicatória, querida Emília. A Língua Portuguesa é um idioma rico, com vocábulos maravilhosos e dedicar o mês de Junho às Crianças, empregando esse belo manancial é um excelente modo de a homenagear. E também de pôr a tónica nestes seres indefesos que só nos têm a nós para os encaminhar, dar apoio, defender e amar.
Neste belo texto de Eugénio de Andrade encontramos uma definição encantadora do Reino da Criança. Conseguirmos internar-nos nele e ver o mundo pelos seus olhos, tentando compreender a sua visão é já um passo enorme no sentido de as compreendermos.
Minha amiga, virei ler as tuas publicações sobre esta temática com muito prazer.
Desejo-te um excelente Dia, com a família.
Beijinhos
Olinda
Verdade, Olinda, a nossa lingua é riquissima em " vocábulos " e também em escritores e poetas, não me faltando, por isso, escritos para homenagear as crianças. Nunca é demais falar delas, pois sofrem tanto que, às vezes, parece-me impossivel que consigam maltratar uma criança. Como podem violar criancinhas de tenra idade? Como pode haver algumas mortas pelos próprios pais ? E a fome? E as guerras? Olhamos para os nossos netos e um aperto no coração é inevitável ao pensarmos nas outras tão carentes de tudo Nem é bom pensar, Amiga!!!
ResponderEliminarMuito obrigada, pelo carinho da visita e desejo-te um bom fim de semana com saúde para todos vós. Beijinhos e um bom Sto António
Emilia
OI Emília! Cá estamos após de uma longa hibernação literária. Uma postagem de teor fortíssimo, e que nos leva a uma interna e responsável reflexão. Gostaria de salientar, que além da fome , há essa concessão desmedida aos celulares. Crianças se entregam a esses aparatos o dia inteiro com o consentimento dos pais. Há de ter, tambem, um bom senso, para o uso adequado da tecnologia por crianças. A fome mata e, todo o excesso, mata igualmente ..... Grande beijo.
ResponderEliminarFocaste um ponto muito interessante, o uso exagerado das novas tecnologias pelas crianças e com o consentimento dos pais . Não é de espantar já que os pais estão bastante " viciados " nas redes sociais e é comum vermos, em restaurantes, a familia inteira ligada a elas em vez de estarem a conversar . Isso causa-me bastante estranheza, na realidade. . Obrigada, Beto, pelo carinho da visita e, depois de uma longa ausência, cá estás de novo a prestigiar os teus amigos. Espero que esteja tudo bem contigo e que o teu livro esteja a ser um sucesso. Beijinhos
EliminarEmilia
Gostei de ler o texto, foi uma excelente escolha.
ResponderEliminarAs crianças são o futuro, quem as faz sofrer põe tudo em causa.
Boa semana, querida amiga Emília.
Um abraço.
Que bom, Jaime! Fico sempre contente quando as minhas publicações agradam. Criança não deveria sofrer, mas, infelizmente sofrem muito e até fome passam num mundo onde o desperdício abunda. Um beijinho e saúde para todos aí em casa
EliminarEmilia
Um mundo melhor para as crianças... para quando... mesmo após tantos avanços em tantas áreas?
ResponderEliminarE nos últimos anos... entre pandemias, guerras, alterações climáticas, recursos cada vez mais limitados... tudo se parece agravar... e delas se exigirá... que dêem um jeito.. .neste nosso mundo de agora... tão sem jeito!...
Adorei este notável texto de Eugénio, que ainda não conhecia!
Um beijinho
Ana
Elvira e Ana, os vossos comentários estavam no spam. Não sabia e quando resolvi ver, encontrei imensos. Que coisa aborrecida!!!! Desculpem e muito obrigada! Beijinhos
ResponderEliminarEmilia