quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A ESSÊNCIA DA POESIA




" Não aprendi nos livros qualquer receita para a composição de um poema; e não deixarei impresso, por meu turno, nem sequer um conselho, modo ou estilo para que os novos poetas recebam de mim alguma gota de suposta sabedoria. Se narrei neste discurso alguns sucessos do passado, se revivi um nunca esquecido relato nesta ocasião e neste lugar tão diferentes do sucedido, é porque durante a minha vida encontrei sempre em alguma parte a asseveração necessária, a fórmula que me aguardava, não para se endurecer nas minhas palavras, mas para me explicar a mim próprio. Encontrei, naquela longa jornada, as doses necessárias para a formação do poema. Ali me foram dadas as contribuições da terra e da alma. E penso que a poesia é uma acção passageira ou solene em que entram em doses medidas a solidão e solidariedade, o sentimento e a acção, a intimidade da própria pessoa, a intimidade do homem e a revelação secreta da Natureza. E penso com não menor fé que tudo se apoia - o homem e a sua sombra, o homem e a sua atitude, o homem e a sua poesia - numa comunidade cada vez mais extensa, num exercício que integrará para sempre em nós a realidade e os sonhos, pois assim os une e confunde. E digo igualmente que não sei, depois de tantos anos, se aquelas lições que recebi ao cruzar um rio vertiginoso, ao dançar em torno do crânio de uma vaca, ao banhar os pés na água purificadora das mais elevadas regiões, digo que não sei se aquilo saía de mim mesmo para se comunicar depois a muitos outros seres ou era a mensagem que os outros homens me enviavam como exigência ou embrazamento. Não sei se aquilo o vivi ou escrevi, não sei se foram verdade ou poesia, transição ou eternidade, os versos que experimentei naquele momento, as experiências que cantei mais tarde. De tudo aquilo, amigos, surge um ensinamento que o poeta deve aprender dos outros homens. Não há solidão inexpugnável. Todos os caminhos conduzem ao mesmo ponto: à comunicação do que somos. E é necessário atravessar a solidão e aspereza, a incomunicação e o silêncio para chegar ao recinto mágico em que podemos dançar com hesitação ou cantar com melancolia, mas nessa dança ou nessa canção acham-se consumados os mais antigos ritos da consciência; da consciência de serem homens e de acreditarem num destino comum."


 Pablo Neruda, in "Nasci para Nascer" (Discurso na entrega do Prémio Nobel) - in Citador


Qualquer pessoa pode e deve ser poeta; basta para isso saber aproveitar as contribuições dadas todos os dias pela natureza, pelo ser humano que se cruza connosco e principalmente pela contribuição que nos chega da nossa alma.: Ter consciência da nossa humanidade e da nossa responsabilidade no bem comum , ouvindo sempre o nosso coração é" a receita para a composição de um poema "

Emília Pinto

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O MAIOR AMOR....

.... e as Coisas que Se Amam

Tomara poder desempenhar-me, sem hesitações nem ansiedades, deste mandato subjectivo cuja execução por demorada ou imperfeita me tortura e dormir descansadamente, fosse onde fosse, plátano ou cedro que me cobrisse, levando na alma como uma parcela do mundo, entre uma saudade e uma aspiração, a consciência de um dever cumprido.
 Mas dia a dia o que vejo em torno meu me aponta novos deveres, novas responsabilidades da minha inteligência para com o meu senso moral. Hora a hora a (...) que escreve as sátiras surge colérica em mim.
 Hora a hora a expressão me falha. Hora a hora a vontade fraqueja. Hora a hora sinto avançar sobre mim o tempo. Hora a hora me conheço, mãos inúteis e olhar amargurado, levando para a terra fria uma alma que não soube contar, um coração já apodrecido, morto já e na estagnação da aspiração indefinida, inutilizada. Nem choro. Como chorar? Eu desejaria poder querer (desejar) trabalhar, febrilmente trabalhar para que esta pátria que vós não conheceis fosse grande como o sentimento que eu sinto quando n'ela penso. Nada faço. Nem a mim mesmo ouso dizer: amo a pátria, amo a humanidade. Parece um cinismo supremo. Para comigo mesmo tenho um pudor em dizê-lo. Só aqui lh'o registo sobre papel, acanhadamente ainda assim, para que n'alguma parte fique escrito. Sim, fique aqui escrito que amo a pátria funda, (...) doloridamente. Seja dito assim sucinto, para que fique dito. Nada mais.

 Fernando Pessoa - in Citador

Creio que todos nós, por vezes sentimos que não fazemos tudo o que podemos pelo nosso país, pela comunidade onde estamos inseridos, mas, por outro lado, olhamos à nossa volta e sentimo-nos impotentes para tentar mudar seja o que for. Amamos a nossa, Pátria, claro, mas sentimo-la tão maltratada pelos que a dirigem que fraquejamos e esquecemo-nos de que o nosso Portugal é belo e que vale a pena fazer o nosso melhor por ele.

Emília Pinto

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

PARABÉNS! A QUEM?





Hoje o Começar de Novo faz 5 anos!

 Começou receoso, dando os primeiros passos sempre com muita cautela; temia caír a qualquer momento, tropeçando logo no primeiro degrau; começaram a aparecer alguns amigos dando-lhe confiança, incentivando-o. Assim foi ele subindo...subindo e a cada degrau mais amigos apareciam e a segurança aumentava; com ela vinha a certeza de que valeria a pena continuar. Valeu, sim e muito! Durante todos estes anos tenho conquistado grandes amigos, amigos diferentes que me deixam, cada um à sua maneira, manifestações de incentivo, de carinho, de consolo; além de me enriquecerem com as experiências que se vão trocando, têm-me ajudado a ultrapassar momentos menos bons. Embora não os conheça pessoalmente, sei que posso contar sempre com eles. Portanto, amigos, não é o Começar de Novo que está de parabéns, mas sim, todos vós. Sem os seus 203 seguidores com certeza não chegaria até aqui. Na impossibilidade de o fazer pessoalmente, deixo aqui muitas flores... simples... lindas, mas todas diferentes para que cada um escolha a que mais goste e a " leve " como prova do meu agradecimento pelo tanto que me têm dado.
 Com elas, deixo um beijinho muito, muito especial e a certeza da minha sincera amizade

Muito obrigada por tudo!

Emília

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

SERÁ QUE VOLTAMOS À MONARQUIA???


( foto retirada da net )

De palavras está o País farto !

Governe-se com o parlamento, é esse o meu maior desejo, mas para isso é necessário que ele também faça alguma coisa. É preciso obras e não palavras.
 De palavras, bem o sabemos, está o País farto. Não quer discussões políticas das quais pouco ou nenhum bem lhe virá, o que quer é que se discuta administração, que se discutam medidas que lhe sejam úteis. Assim poderá o País interessar-se pelo parlamento; com discussões de mera política, interessará os amadores de escândalos vários, esses sim, mas fará com que a parte sensata e trabalhadora do País se desinteresse por completo daquilo que para nada lhe servirá. Por estes motivos é que eu acho inútil para não dizer... perniciosa, uma nova abertura do parlamento.

 Dom Carlos I, in 'Cartas a João Franco (1907 - Citador


Se já D. Carlos I se queixava da inutilidade do Parlamento, como podemos nós ainda ter esperanças de que deixem as palavras e passem aos actos ?. É muito difícil!!!!

Emília Pinto