quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

FELIZ 2017



Meu Deus! Como é engraçado!
Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço... uma fita dando voltas
Enrosca-se, não se embola, vira, revira, circula e pronto: está dado o laço.
É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço é assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo, no vestido, em qualquer coisa onde o faço. E quando puxo uma ponta, o que é que acontece? Vai escorregando... devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço.
Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido. E, na fita, que curioso, não faltou nem um pedaço.
Ah! Então, é assim o amor, a amizade. Tudo que é sentimento. Como um pedaço de fita Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora, deixando livre as duas bandas do laço. Por isso é que se diz: laço afetivo, laço de amizade. E quando alguém briga, então se diz: romperam-se os laços.
E saem as duas partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum pedaço. Então o amor e a amizade são isso... Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam. Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço

Deixo aos meus amigos um forte ABRAÇO e os votos de que consigam um bonito LAÇO para enfeitar cada amanhecer que a vida vos conceder.

Se houver saúde, paz e abraços, não faltarão os laços e o ano de 2017 será com certeza feliz.
E isso o que desejo para todos vós.
Obrigada pelo tanto de carinho que tenho recebido

Emilia Pinto


NOTA:

 Queridos Amigos, depois que li o comentário da amiga Elvira fui pesquisar e vi que de facto este belissimo texto é atribuido a Maria Beatriz Marinho dos Anjos e não a Mário Quintana. Sempre o conheci como lhe pertencendo, mas, parece que assim não é. Peço desculpas à autora e aos meus amigos.  Sendo de um ou de outro, a mensagem que queria transmitir continua a mesma e o texto...esse, simplesmente fantástico.  Obrigada pela compreensão
Emilia

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

FELIZ NATAL






 And so this is xmas I hope you have fun
 The near and the dear one The old and the young
 A very merry xmas And a happy new year
 Let's hope it's a good one Without any fear

 And, so this is xmas For weak and for strong
 For rich and the poor ones
 The world is so wrong
 And so happy xmas
 For black and for white For yellow and red ones
 Let's stop all the fight
 A very merry xmas
 And a happy new year Let's hope it's a good one Without any fear


Faço minhas as palavras de John Lennon....FELIZ NATAL para todos, saúde, alegria e muita esperança na paz entre os povos. Como Lennon diz; " O mundo está muito errado "E...O que temos nós feito?"

 Emilia Pinto

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

MENINO JESUS





 Está a chegar o dia, a data festiva escolhida para se comemorar o nascimento do Menino Jesus.

Escolhi este lindo poema de Fernando Pessoa interpretado pela fantástica Maria Bethânia para, juntos, LHE darmos as boas vindas.

Espero que gostem e que a saúde, alegria e paz estejam presentes na vossa vida, não só nesta quadra especial, mas sempre

 Um beijinho

 Emilia Pinto

domingo, 20 de novembro de 2016

CONSUMISMO



O Cidadão lúcido em vez do consumidor irracional
 

 Já se sabe que não somos um povo alegre (um francês aproveitador de rimas fáceis é que inventou aquela de que «les portugais sont toujours gais»), mas a tristeza de agora, a que o Camões, para não ter de procurar novas palavras, talvez chamasse simplesmente «apagada e vil», é a de quem se vê sem horizontes, de quem vai suspeitando que a prosperidade prometida foi um logro e que as aparências dela serão pagas bem caras num futuro que não vem longe. E as alternativas, onde estão, em que consistem? Olhando a cara fingidamente satisfeita dos europeus, julgo não serem previsíveis, tão cedo, alternativas nacionais próprias (torno a dizer: nacionais, não nacionalistas), e que da crise profunda, crise económica, mas também crise ética, em que patinhamos, é que poderão, talvez — contentemo-nos com um talvez —, vir a nascer as necessárias ideias novas, capazes de retomar e integrar a parte melhor de algumas das antigas, principiando, sem prévia definição condicional de antiguidade ou modernidade, por recolocar o cidadão, um cidadão enfim lúcido e responsável, no lugar que hoje está ocupado pelo animal irracional que responde ao nome de consumidor.


José Saramago, in 'Cadernos de Lanzarote (1994)


Estamos uma época de consumo, época que, na minha opinião, começa cada vez mais cedo, precisamente, segundo dizem, para incentivar o comércio; achei, por isso oportunos trazer este tema à vossa consideração através deste interessante texto de Saramago.

Emilia Pinto

terça-feira, 8 de novembro de 2016

LUTO....



.....pela bondade

Quero viver num mundo sem excomungados. Não excomungarei ninguém. Não diria, amanhã, a esse sacerdote: «Você não pode baptizar ninguém porque é anticomunista.» Não diria ao outro: «Não publicarei o seu poema, o seu trabalho, porque você é anticomunista.» Quero viver num mundo em que os seres sejam simplesmente humanos, sem mais títulos além desse, sem trazerem na cabeça uma regra-, uma palavra rígida, um rótulo. Quero que se possa entrar em todas as igrejas, em todas as tipografias. Quero que não esperem ninguém, nunca mais, à porta do município para o deter e expulsar. Quero que todos entrem e saiam sorridentes da Câmara Municipal. Não quero que ninguém fuja em gôndola, que ninguém seja perseguido de motocicleta. Quero que a grande maioria, a única maioria, todos, possam falar, ler, ouvir, florescer. Nunca compreendi a luta senão como um meio de acabar com ela. Nunca aceitei o rigor senão como meio para deixar de existir o rigor. Tomei um caminho porque creio que esse caminho nos leva, a todos, a essa amabilidade duradoura. Luto pela bondade ubíqua, extensa, inexaurível. De tantos encontros entre a minha poesia e a polícia, de todos esses episódios e de outros que não contarei porque repetidos, e de outros que não aconteceram comigo, mas com muitos que já não poderão contá-los, resta-me no entanto uma fé absoluta no destino humano, uma convicção cada vez mais consciente de que nos aproximamos de uma grande ternura. Escrevo sabendo que sobre as nossas cabeças, sobre todas as cabeças, existe o perigo da bomba, da catástrofe nuclear, que não deixaria ninguém nem nada sobre a Terra. Pois bem: nem isso altera a minha esperança. Neste momento crítico, neste sobressalto de agonia, sabemos que entrará a luz definitiva pelos olhos entreabertos. Entender-nos-emos todos. Progrediremos juntos. E esta esperança é irrevogável.

 Pablo Neruda, in "Confesso que Vivi


Tenhamos esperança, amigos!!!!

Emilia Pinto





sexta-feira, 28 de outubro de 2016

CERTEZAS




Não quero alguém que morra de amor por mim...
 Só preciso de alguém que viva por mim, que queira estar junto de mim, me abraçando.
 Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo, quero apenas que me ame, não me importando com que intensidade.
 Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim...
 Nem que eu faça a falta que elas me fazem, o importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível...
 E que esse momento será inesquecível... Só quero que meu sentimento seja valorizado
.Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre..
.E que esse meu sorriso consiga transmitir paz para os que estiverem ao meu redor.
 Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém...e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos, que faço falta quando não estou por perto.
 Queria ter a certeza de que apesar de minhas renúncias e loucuras, alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho...
 Que me veja como um ser humano completo, que abusa demais dos bons sentimentos que a vida lhe proporciona, que dê valor ao que realmente importa, que é meu sentimento...e não brinque com ele.
 E que esse alguém me peça para que eu nunca mude, para que eu nunca cresça, para que eu seja sempre eu mesmo.
 Não quero brigar com o mundo, mas se um dia isso acontecer, quero ter forças suficientes para mostrar a ele que o amor existe...
 Que ele é superior ao ódio e ao rancor, e que não existe vitória sem humildade e paz.
 Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar, amanhã será outro dia, e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos, talvez obterei êxito e serei plenamente feliz
. Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas...
 Que a esperança nunca me pareça um NÃO que a gente teima em maquiá-lo de verde e entendê-lo como SIM.
 Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa, de poder dizer a alguém o quanto ele é especial e importante pra mim, sem ter de me preocupar com terceiros..
. Sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento.
 Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão...
 Que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades a às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim... e que valeu a pena. 

 (Mário Quintana)

Tenho a CERTEZA de que todos gostariam de  um dia," poder dizer às pessoas que nada foi em vão...
 Que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades e às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim... e que valeu a pena. "


Emilia Pinto

domingo, 16 de outubro de 2016

PROCESSEI A ESCOLA





Muito interessante, não acham?

Emilia Pinto

PROCESSEI A ESCOLA





Muito interessante, não acham?

Emilia Pinto

domingo, 9 de outubro de 2016

CHÃO DE GIZ






Este cantor foi-me dado a conhecer pelo blog da nossa amiga Smareis. Adorei esta música. Obrigada amiga!


Num " chão de giz " caminhamos nós e, a cada passo em frente, tudo o que ficou para trás desapareceu; o giz acabou, mas há que pegar um novo e com ele riscar um outro chão.. No mais.... tudo acaba e de novo tudo começa 

Espero que gostem

Emilia Pinto

sábado, 1 de outubro de 2016

A VIDA...

..



.PRECISA DE VAZIO 

 A lagarta dorme num vazio chamado casulo até se transformar em borboleta
. A música precisa de um vazio chamado silêncio para ser ouvida.
 Um poema precisa do vazio da folha de papel em branco para ser escrito
. É no vazio da jarra que se colocam flores.

 E as pessoas, para serem belas e amadas, precisam ter um vazio dentro delas.
 A maioria acha o contrário; pensa que o bom é ser cheio. Essas são as pessoas que se acham cheias de verdades e sabedoria e falam sem parar. São umas chatas!

Bonitas são as pessoas que falam pouco e sabem escutar. A essas pessoas é fácil amar. Elas estão cheias de vazio. E é no vazio da distância que vive a saudade.


 Rubem Alves


Façamos do nosso coração um ninho vazio para que nele possa entrar a beleza de cada amanhecer



Emilia Pinto





A VIDA ....




......




 A lagarta dorme num vazio chamado casulo até se transformar em borboleta. A música precisa de um vazio chamado silêncio para ser ouvida. Um poema precisa do vazio da folha de papel em branco para ser escrito. É no vazio da jarra que se colocam flores. E as pessoas, para serem belas e amadas, precisam ter um vazio dentro delas. A maioria acha o contrário; pensa que o bom é ser cheio. Essas são as pessoas que se acham cheias de verdades e sabedoria e falam sem parar. São umas chatas! Bonitas são as pessoas que falam pouco e sabem escutar. A essas pessoas é fácil amar. Elas estão cheias de vazio. E é no vazio da distância que vive a saudade.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

NEGRO OU PRETO ?




Então vamos lá....raça branca, raça preta


Creio que ele tem razão!


 Emília Pinto

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

HUMILDADE





Tanto que fazer!

 livros que não se lêem,cartas que não se escrevem,
 línguas que não se aprendem,
 amor que não se dá, tudo quanto se esquece

. Amigos entre adeuses
 crianças chorando na tempestade
 cidadãos assinando papéis, papéis, papéis....
 até o fim do mundo assinando papéis

.E os pássaros detrás de grades de chuva.
 E os mortos em redoma de cânfora.

 (E uma canção tão bela!)

 Tanto que fazer!
E fizemos apenas isto
E nunca soubemos quem éramos, nem pra quê.

 Cecília Meireles

Filha de Carlos Alberto de Carvalho Meireles, funcionário do Banco do Brasil S.A., e de D. Matilde Benevides Meireles, professora municipal, Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu em 7 de novembro de 1901, na Tijuca, Rio de Janeiro. Foi a única sobrevivente dos quatros filhos do casal. O pai faleceu três meses antes do seu nascimento, e sua mãe quando ainda não tinha três anos. Criou-a, a partir de então, sua avó D. Jacinta Garcia Benevides.
 Escreveria mais tarde: "Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno. (...) Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade. (...) Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde foi nessa área que os livros se abriram, e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano." Conclui seus primeiros estudos — curso primário — em 1910, na Escola Estácio de Sá, ocasião em que recebe de Olavo Bilac, Inspetor Escolar do Rio de Janeiro, medalha de ouro por ter feito todo o curso com "distinção e louvor". Diplomando-se no Curso Normal do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, em 1917, passa a exercer o magistério primário em escolas oficiais do antigo Distrito Federal. Dois anos depois, em 1919, publica seu primeiro livro de poesias, "Espectro". Seguiram-se "Nunca mais... e Poema dos Poemas", em 1923, e "Baladas para El-Rei, em 1925. Casa-se, em 1922, com o pintor português Fernando Correia Dias, com quem tem três filhas: Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernanda, esta última artista teatral consagrada. Suas filhas lhe dão cinco netos. Publica, em Lisboa - Portugal, o ensaio "O Espírito Vitorioso", uma apologia do Simbolismo. Correia Dias suicida-se em 1935. Cecília casa-se, em 1940, com o professor e engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira Grilo. De 1930 a 1931, mantém no Diário de Notícias uma página diária sobre problemas de educação. Em 1934, organiza a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro, ao dirigir o Centro Infantil, que funcionou durante quatro anos no antigo Pavilhão Mourisco, no bairro de Botafogo. Profere, em Lisboa e Coimbra - Portugal, conferências sobre Literatura Brasileira. De 1935 a 1938, leciona Literatura Luso-Brasileira e de Técnica e Crítica Literária, na Universidade do Distrito Federal (hoje UFRJ). Publica, em Lisboa - Portugal, o ensaio "Batuque, Samba e Macumba", com ilustrações de sua autoria

 In Releituras.

Espero que gostem! Não sabia que Cecilia Meireles tinha tido uma ligação tão grande a Portugal.. Sempre a aprender!

Emilia pinto

domingo, 4 de setembro de 2016

UM SER ESPECIAL



Grandes sonhos!!!

 Sem sonhos, as perdas se tornam insuportáveis, as pedras do caminho se tornam montanhas, os fracassos se transformam em golpes fatais...
 Mas, se você tiver grandes sonhos, seus erros produzirão crescimento, seus desafios produzirão oportunidades, seus medos produzirão coragem
. Por isso, meu ardente desejo é que você nunca desista dos seus sonhos
. Ame com toda a sua alma, com todo o seu corpo, com cada fibra de seu ser, não economize nem sequer uma palavra, nem um mínimo gesto de Amor
... O Amor é o pai de todos os outros Sentimentos! Ele habita somente nos corações dos Homens Bons!
 O Amor é um presente, receba-o e ajude-o a crescer.
 O Amor é uma insígnia, mostre-a
.O Amor é uma ação, execute-a e deixe-a partir.
 O Amor é sem dúvida, o Céu na terra. E o Céu nas alturas, não seria tal, sem Amor!
 Ame tudo!
 Ame você, seus irmãos de jornada, a Natureza que Deus nos deu para alegrar a Vida!
 Se você quer trabalhar para a Paz do Mundo, vá para a sua casa e ame a sua Família!

 Madre Teresa de Calcutá

 Já há muito considerada a Santa de todas as religiões para Madre Teresa só o ser humano importava,independentemente da religião. Hoje a Santa" das sarjetas " a mulher que acolhia e cuidava dos mais pobres de entre os pobres foi canonizada pelo Papa Francisco. Não podia deixar passar este dia sem homenagear este SER LUMINOSO que muito admiro. Fiquei contente por ter sido o Papa Francisco a tomar esta decisão, pois para mim é também UM SER ESPECIAL


Emilia Pinto

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

JOÃO NEGREIROS




João Negreiros nasceu em Matosinhos a 23 de Novembro de 1976. Muito novo, escrevia já teatro, poesia e prosa poética. Em 2009, o escritor foi o primeiro classificado no Prémio Internacional OFF FLIP de Literatura, categoria poesia, no Brasil. Em Portugal, entre outros prémios, João Negreiros venceu o Prémio de Poesia Nuno Júdice, cujo júri comparou a sua poesia à de Fernando Pessoa. Mais recentemente, venceu o Prémio Literário Dias de Melo com o seu primeiro romance, O Sol Morreu Aqui, considerado pelos membros do júri um marco importante na literatura portuguesa. No âmbito da poesia, publicou quatro livros: o cheiro da sombra das flores, luto lento, a verdade dói e pode estar errada e o amor és tu. Na área do teatro, a sua obra foi crescendo, tendo hoje quatro peças editadas, Silêncio, Os Vendilhões do Templo, O segundo do fim e Os de sempre. Relativamente a prosa, o primeiro livro do autor a ser editado foi O mar que a gente faz.


 Conheci este poeta, comprando o livro O MAR QUE A GENTE FAZ que estava a ser vendido numa praia aqui do Norte. Resolvi então pesquisar sobre ele e pensei que deveria divulgá-lo, pois, creio que não será muito conhecido apesar dos prémios recebidos.

Espero que gostem do poema que escolhi

terça-feira, 9 de agosto de 2016

INTERESSANTE!




Enquanto muitos países celebram o dia nacional com desfiles militares, o dia 17 de maio é uma festa que acolhe a todos e, especialmente, as crianças.
 Antes de sair para a festa nas ruas, muitos saboreiam um típico "café da manhã do dia 17 de maio" – quase sempre um agradável encontro com amigos e vizinhos – com pães frescos, ovos mexidos, salmão defumado e, para os adultos, champagne.
 Os desfiles infantis acontecem por todo o país e são guiados por bandas de música que caminham pelas ruas de suas respectivas comunidades.
 O maior de todos os desfiles tradicionais atrai dezenas de milhares de pessoas agitando suas bandeiras e gritando «viva!»
. Em Oslo, o desfile é saudado pela família real que acena para a multidão.
 Nacionalistas? Talvez, porém a característica não-militarista e atmosfera onde reinam a alegria e destacam-se as crianças, coroam as celebrações com um ar bastante informal e agradável.


In visitnorway.com.br


Sei que pouco importa a maneira como na Noruega se festeja o seu" dia da Pátria ", mas, o que me levou a fazer este post é a mensagem que este país deixa a todos os outros. O passado  da maioria dos países foi de lutas e guerras, mas será que isso tem que ser lembrado todos os anos? Penso que não! O que importa é o presente e sendo as crianças o futuro dessas mesmas nações seria bom que os desfiles militares fossem substituidos por toda esta alegria e convivência familiar que acontece na Noruega. Uma maneira muito interessante de ensinar aos jovens que a paz é um bem precioso para o desenvolvimento de um país.



Emilia Pinto

quinta-feira, 21 de julho de 2016

RESÍDUO






De tudo ficou um pouco Do meu medo. Do teu asco. Dos gritos gagos. Da rosa ficou um pouco
 Ficou um pouco de luz captada no chapéu. Nos olhos do rufião de ternura ficou um pouco (muito pouco).
 Pouco ficou deste pó de que teu branco sapato se cobriu.
 Ficaram poucas roupas, poucos véus rotos pouco, pouco, muito pouco.
 Mas de tudo fica um pouco.
 Da ponte bombardeada, de duas folhas de grama, do maço - vazio - de cigarros, ficou um pouco. Pois de tudo fica um pouco.
 Fica um pouco de teu queixo no queixo de tua filha.
 De teu áspero silêncio um pouco ficou, um pouco nos muros zangados, nas folhas, mudas, que sobem.
 Ficou um pouco de tudo no pires de porcelana, dragão partido, flor branca, ficou um pouco de ruga na vossa testa, retrato.
 Se de tudo fica um pouco, mas por que não ficaria um pouco de mim? no trem que leva ao norte, no barco, nos anúncios de jornal, um pouco de mim em Londres, um pouco de mim algures? na consoante? no poço?
 Um pouco fica oscilando na embocadura dos rios e os peixes não o evitam, um pouco: não está nos livros.
 De tudo fica um pouco.
 Não muito: de uma torneira pinga esta gota absurda, meio sal e meio álcool, salta esta perna de rã, este vidro de relógio partido em mil esperanças, este pescoço de cisne, este segredo infantil...
 De tudo ficou um pouco: de mim; de ti; de Abelardo.
 Cabelo na minha manga, de tudo ficou um pouco; vento nas orelhas minhas, simplório arroto, gemido de víscera inconformada, e minúsculos artefatos: campânula, alvéolo, cápsula de revólver... de aspirina.
 De tudo ficou um pouco
. E de tudo fica um pouco.
 Oh abre os vidros de loção e abafa o insuportável mau cheiro da memória.
 Mas de tudo, terrível,
fica um pouco, e sob as ondas ritmadas e sob as nuvens e os ventos e sob as pontes e sob os túneis e sob as labaredas e sob o sarcasmo e sob a gosma e sob o vômito e sob o soluço, o cárcere, o esquecido e sob os espetáculos e sob a morte escarlate e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes e sob tu mesmo e sob teus pés já duros e sob os gonzos da família e da classe,

 fica sempre um pouco de tudo. Às vezes um botão. Às vezes um rato

Carlos Drummond de Andrade


Vai depender de nós, se, depois de tudo, o pouco que ficar for um botão ou um rato

Emilia Pinto

quarta-feira, 20 de julho de 2016

De tudo ficou um pouco Do meu medo. Do teu asco. Dos gritos gagos. Da rosa ficou um pouco Ficou um pouco de luz captada no chapéu. Nos olhos do rufião de ternura ficou um pouco (muito pouco). Pouco ficou deste pó de que teu branco sapato se cobriu. Ficaram poucas roupas, poucos véus rotos pouco, pouco, muito pouco. Mas de tudo fica um pouco. Da ponte bombardeada, de duas folhas de grama, do maço - vazio - de cigarros, ficou um pouco. Pois de tudo fica um pouco. Fica um pouco de teu queixo no queixo de tua filha. De teu áspero silêncio um pouco ficou, um pouco nos muros zangados, nas folhas, mudas, que sobem. Ficou um pouco de tudo no pires de porcelana, dragão partido, flor branca, ficou um pouco de ruga na vossa testa, retrato. Se de tudo fica um pouco, mas por que não ficaria um pouco de mim? no trem que leva ao norte, no barco, nos anúncios de jornal, um pouco de mim em Londres, um pouco de mim algures? na consoante? no poço? Um pouco fica oscilando na embocadura dos rios e os peixes não o evitam, um pouco: não está nos livros. De tudo fica um pouco. Não muito: de uma torneira pinga esta gota absurda, meio sal e meio álcool, salta esta perna de rã, este vidro de relógio partido em mil esperanças, este pescoço de cisne, este segredo infantil... De tudo ficou um pouco: de mim; de ti; de Abelardo. Cabelo na minha manga, de tudo ficou um pouco; vento nas orelhas minhas, simplório arroto, gemido de víscera inconformada, e minúsculos artefatos: campânula, alvéolo, cápsula de revólver... de aspirina. De tudo ficou um pouco. E de tudo fica um pouco. Oh abre os vidros de loção e abafa o insuportável mau cheiro da memória. Mas de tudo, terrível, fica um pouco, e sob as ondas ritmadas e sob as nuvens e os ventos e sob as pontes e sob os túneis e sob as labaredas e sob o sarcasmo e sob a gosma e sob o vômito e sob o soluço, o cárcere, o esquecido e sob os espetáculos e sob a morte escarlate e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes e sob tu mesmo e sob teus pés já duros e sob os gonzos da família e da classe, fica sempre um pouco de tudo. Às vezes um botão. Às vezes um rat

segunda-feira, 4 de julho de 2016

ESTAMOS PREPARADOS?


( imagem retirada do google )



Nascemos filhos e esperamos ser filhos para sempre. Mimados, educados
, amados; que nossos pais invistam doses cavalares de amor em todo nosso caminho pela vida, que, quando a vida doer, haja um colo materno, que quando a vida angustiar, encontremos neles um conselho sábio. E, quando isso nos falta, há sempre uma lacuna, um sentimento estranho de sermos exceção. Mesmo adultos, esperamos reconhecer nossa meninice nos olhos dos nossos pais. Desejamos, intimamente, atenções miúdas, como a comida favorita no dia do aniversário ou a camiseta do time de futebol se estamos na casa deles. Não estamos prontos para trocar de lugar nesta relação. É difícil aceitar que nossos pais envelheçam, entender que as pequenas limitações que começam a apresentar não é preguiça nem desdém, que não é porque se esqueceram de dar o recado que não se importam com a nossa urgência. Que pedem para repetirmos a mesma frase porque não escutam mais tão bem - e às vezes, não está surdo o ouvido mas distraído o cérebro. Demora até aceitarmos que não são mais os mesmos - que dirá “super-heróis”? Não podemos dividir toda a nossa angústia e todos os nossos problemas porque, para eles, as proporções são ainda maiores e aí tudo se desregula: o ritmo cardíaco, a pressão, a taxa glicêmica, o equilíbrio emocional. Vamos ficando um pouco cerimoniosos por amor. Tentando poupar-lhes do que é evitável. Então, sem querer, começamos a inverter os papéis de proteção. Passamos a tentar resguardar nossos pais dos abalos do mundo. Dizemos que estamos bem, apesar da crise. Amenizamos o diagnóstico do pediatra para a infecção do neto parecer mais branda. Escondemos as incompreensões do casamento para parecer que construímos uma família eterna. Filtramos a angústia que pode ser passageira ao invés de dividir qualquer problema. Não precisam preocupar-se: estaremos bem no final do dia e no final das nossas vidas. Mas, enquanto mudamos esses pequenos detalhes na nossa relação, ficamos um pouco órfãos. Mantemos os olhos abertos nas noites insones sem poder correr chorando para a cama dos pais. Escondemos deles o medo de perder o emprego, o cônjuge ou a casa para que não sofram sem necessidade e, aí, estamos sós nessa espera; não há colo nem bala nem cafuné para consolar-nos. Quanto mais eles perdem memória, vigor, audição, mais sozinhos nos sentimos, sem compreender por que o inevitável aconteceu. Pode até surgir alguma revolta interior por esperar deles que reagissem ao envelhecimento do corpo, que lutassem mais a favor de si, sem percebermos, na nossa própria desorientação, que eles não têm a mesma consciência que nós, não têm como impedir a passagem do tempo ou que possuem, simplesmente, o direito de sentirem-se cansados. Então pode chegar o dia em que nossos pais se transformem, de fato, em nossos filhos. Que precisemos lembrá-los de comer, de tomar o remédio ou de pagar uma conta. Que seja necessário conduzi-los nas ruas ou dar-lhes as mãos para que não caiam nas escadas. Que tenhamos que prepará-los e colocá-los na cama. Talvez até alimentá-los, levando o talher a sua boca. E eles serão filhos piores porque lembrarão que são seus pais. Reagirão as suas primeiras investidas porque sabem que, no fundo, você acha que lhes deve obediência. Enfraquecerão seus primeiros argumentos e tentarão provar que ainda podem ser independentes, mesmo quando esse momento tiver passado, porque é difícil imaginarem-se sem o controle total das próprias rotinas. Mas cederão paulatinamente, quando a força física ou mental reduzir-se e puderem encontrar no seu amor por eles o equilíbrio para todas as mudanças que os assustam. Não será fácil para você. Não é a lógica da vida. Mesmo que você seja pai, ninguém o preparou para ser pai dos seus pais. E se você não o é, terá que aprender as nuances desse papel para proteger aqueles que ama. Mas, se puder, sorria diante dos comentários senis ou cante enquanto estiverem comendo juntos. Ouça aquela história contada tantas vezes como se fosse a primeira e faça perguntas como se tudo fosse inédito. E beije-os na testa com toda a ternura possível, como quando se coloca uma criança na cama, prometendo-lhe que, ao abrir os olhos na manhã seguinte, o mundo ainda estará lá, como antes, intocável, para ela brincar. Porque se você chegou até aqui ao lado dos seus pais, com a porta aberta para interferir em suas vidas, foi porque tiveram um longo percurso de companheirismo. E propor-se a viver esse momento com toda a intensidade só demonstrará o quanto é grande a sua capacidade de amar e de retribuir o amor que a vida lhe ofereceu

By Ana Lúcia Gosling - in obvious


Talvez já conheçam este texto, mas, mesmo assim, resolvi colocá-lo no Começar de Novo, porque é muito difícil para nós quando percebemos que os papéis se inverteram. Somos agora PAIS DOS NOSSOS PAIS. Como custa aceitar essa realidade, amigos!

Emília Pinto

segunda-feira, 20 de junho de 2016

VAMOS ENTÃO RECORDAR?





E aqui está uma das tantas " CONVERSAS VADIAS " do sr. Agostinho da Silva.É longa e toca temas muito interessantes, mas cada um saberá aproveitar a parte que mais o sensiblizou e com certeza me dará o gosto de a deixar aqui como comentário.

 Agradeço a todos os amigos que me falaram destas conversas, dando-me assim a oportunidade de conhecer as ideias deste ilustre Senhor.

 Beijinhos e Obrigada
.
Emilia Pinto

quinta-feira, 9 de junho de 2016

CONSELHO AOS PAIS

( imagem retirada do google )




 A pior traição que podemos cometer perante o moço que se aproxima para que lhe digamos a verdade é ocultar-lhe que para nós essa verdade se encontra tão longínqua e velada como a ele se apresenta. Se lhe damos por certeza o que se mostra duvidoso enganamos a confiança que o levou a dirigir-se-nos; se lhe não fizermos ver todas as fendas dos paços reais arriscamos a sua e a nossa alma a um desastre que nenhum tempo futuro poderá reparar. Os que julgou mais nobres enganaram-no; era cego, pediu guia, e levaram-no a abismos; nunca mais a sua mão se estenderá aberta e franca a mãos humanas. Quanto a nós mesmos, que valor tem a causa se para lhe darmos dinamismo a deformamos, a mergulhamos em parte na sombra da mentira? Não é nosso ideal, e por isso lutamos, formar os bandos inconscientes e os prontos cadáveres que às nossas ordens obedeçam; salvar-se-á o mundo pelos espíritos claros, tenazes ante o certo, ante o incerto corajosos; só eles sabem medir no seu justo valor e vencer galhardamente toda a barreira levantada; só eles encontram, como base do ser, a marcha calma e a energia inesgotável. É ilusória toda a reforma do colectivo que se não apoie numa renovação individual; ameaça a ruína a todo o movimento que tornarem possível a ignorância e a ilusão. Acima de tudo coloquemos a franqueza e os abertos corações; das dúvidas que se juntam podem surgir as fórmulas melhores; vem mais lento o triunfo, mas vem mais sólido; a ninguém se arrastou, todos chegaram por seu pé.


 Agostinho da Silva, in 'Considerações'


 QUEM FOI ?

George Agostinho Baptista da Silva nasceu no Porto em 1906, tendo-se ainda nesse ano mudado para Barca d'Alva (Figueira de Castelo Rodrigo), onde viveu até aos seus 6 anos, regressando depois ao Porto, onde inicia os estudos na Escola Primária de São Nicolau em 1912, ingressando em 1914 na Escola Industrial Mouzinho da Silveira e completando os estudos secundários no Liceu Rodrigues de Freitas, de 1916 a 1924.
 Em 1947, instala-se definitivamente no Brasil, onde vive até 1969. Em 1948, começa a trabalhar no Instituto Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro, estudando entomologia, e ensinando simultaneamente na Faculdade Fluminense de Filosofia. Colabora com Jaime Cortesão na pesquisa sobre Alexandre de Gusmão. De 1952 a 1954, ensina na Universidade Federal da Paraíba em João Pessoa e também em Pernambuco.


" Acima de tudo coloquemos a franqueza e os abertos corações " na educação dos nossos filhos 

Emília Pinto

sexta-feira, 27 de maio de 2016

TODOS PENSAM DE FORMA...



....diferente e muitas vezes efémera


 Cada indivíduo vê o mundo - e o que este tem de acabado, de regular, de complexo e de perfeito - como se se tratasse apenas de um elemento da Natureza a partir do qual tivesse que constituir um outro mundo, particular, adaptado às suas necessidades.
 Os homens mais capazes tomam-no sem hesitações e procuram na medida do possível comportar-se de acordo com ele. Há outros que não se conseguem decidir e que ficam parados a olhar para ele. E há ainda os que chegam ao ponto de duvidar da existência do mundo.
 Se alguém se sentisse tocado por esta verdade fundamental, nunca mais entraria em disputas e passaria a considerar, quer as representações que os outros possam fazer das coisas, quer a sua, como meros fenómenos. Porque de facto verificamos quase todos os dias que aquilo que um indivíduo consegue pensar com toda a facilidade pode ser impossível de pensar para um outro. E não apenas em relação a questões que tivessem uma qualquer influência no bem estar ou no sofrimento das pessoas, mas também a propósito de assuntos que nos são totalmente indiferentes.



 Johann Wolfgang von Goethe, in 'Máximas e Reflexões



E o problema maior do mundo reside precisamente na incapacidade do ser humano aceitar e respeitar a individualidade de cada um

Emilia Pinto



segunda-feira, 16 de maio de 2016

POLITICA DE INTERESSE




( foto do google )

...e consequentemente MUITO CORRUPTA


Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações. A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse.
 A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias; ali dominam as más paixões; ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há a postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos; ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos; há a tristeza e a miséria; dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio. A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se. Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali com dor e com raiva.
 À escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos (...) todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espectáculos cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis dos gozos da vaidade.


 Eça de Queiroz, in 'Distrito de Évora (1867 )


Não é só na politica que a CORRUPÇAO existe; ela vê-se por todo o lado e em todos os aspectos da vida social
Muitos actos praticados por nós são pequenas acões corruptas, embora nos pareçam normais e inofensiveis.


Emilia Pinto

quinta-feira, 5 de maio de 2016

AMÁLIA CANTA....





....A TROVA DO VENTO QUE PASSA

Pergunto ao vento que passa
 notícias do meu país
 e o vento cala a desgraça
 o vento nada me diz.

 Pergunto aos rios que levam
 tanto sonho à flor das águas
 e os rios não me sossegam
 levam sonhos deixam mágoas.

 Levam sonhos deixam mágoas
 ai rios do meu país
 minha pátria à flor das águas
 para onde vais? Ninguém diz.

 Se o verde trevo desfolhas
 pede notícias e diz
 ao trevo de quatro folhas
 que morro por meu país.

 Pergunto à gente que passa
 por que vai de olhos no chão.
 Silêncio - é tudo o que tem
 quem vive na servidão.

 Vi florir os verdes ramos direitos
 e ao céu voltados.
 E a quem gosta de ter amos
 sempre os ombros curvados.

 E o vento não me diz nada
 ninguém diz nada de novo.
 Vi minha pátria pregada
 nos braços em cruz do povo.

 Vi meu poema na margem dos rios
 que vão pró mar
 como quem ama a viagem
 mas tem sempre de ficar.

 Vi navios a partir (Portugal à flor das águas)
 vi minha trova florir (verdes folhas verdes mágoas).
 Há quem te queira ignorada
 e fale pátria em teu nome.


 Eu vi-te crucificada
 nos braços negros da fome.
 E o vento não me diz nada
 só o silêncio persiste.

 Vi minha pátria parada
 à beira de um rio triste.
 Ninguém diz nada de novo
 se notícias vou pedindo nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo

. E a noite cresce por dentro
 dos homens do meu país.
 Peço notícias ao vento
 e o vento nada me diz.

 Mas há sempre uma candeia
 dentro da própria desgraça
 há sempre alguém que semeia
 canções no vento que passa.

 Mesmo na noite mais triste
 em tempo de servidão
 há sempre alguém que resiste
 há sempre alguém que diz não.

 Manuel Alegre, in 'Praça da Canção'

As minhas amigas Maria (.Lilasdavioleta )  e Mariazita ( A Casa da Mariquinhas ) escolheram este poema como um dos mais bonitos de Manuel Alegre. Como não o conhecia e como, creio, muitos dos meus amigos do Brasil também não o conheçam, resolvi partilhá-lo.

Amigas, agradeço-vos a " dica ", porque de facto é muito bonito. Cantado pela Amália fica ainda mais belo.

Emília Pinto

terça-feira, 26 de abril de 2016

AGORA MESMO





 Está gente a morrer agora mesmo em qualquer lado
 Está gente a morrer e nós também

 Está gente a despedir-se sem saber que para Sempre
 Este som já passou Este gesto também

 Ninguém se banha duas vezes no mesmo instante Tu próprio te despedes de ti próprio Não és o mesmo que escreveu o verso atrás
 Já estás diferente neste verso e vais com ele

 Os amantes agarram-se desesperadamente
 Eis como se beijam e mordem e por vezes choram

 Mais do que ninguém eles sabem que estão a [despedir-se
 A Terra gira e nós também
 A Terra morre e nós Também

 Não é possível parar o turbilhão Há um ciclone invisível em cada instante Os pássaros voam sobre a própria despedida As folhas vão-se e nós Também

 Não é vento
 É movimento fluir do tempo amor e morte

 Agora mesmo e para todo o sempre
 Amen...

   Manuel Alegre, in "Chegar Aqui" //


Manuel Alegre de Melo Duarte nasceu a 12 de Maio de 1936 em Águeda. Estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde foi um activo dirigente estudantil. Apoiou a candidatura do General Humberto Delgado. Foi fundador do CITAC – Centro de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra, membro do TEUC – Teatro de Estudantes da Universidade de Coimbra, campeão nacional de natação e atleta internacional da Associação Académica de Coimbra. Dirigiu o jornal A Briosa, foi redactor da revista Vértice e colaborador de Via Latina.
A sua tomada de posição sobre a ditadura e a guerra colonial levam o regime de Salazar a chamá-lo para o serviço militar em 1961, sendo colocado nos Açores, onde tenta uma ocupação da ilha de S. Miguel, com Melo Antunes. Em 1962 é mobilizado para Angola, onde dirige uma tentativa pioneira de revolta militar. É preso pela PIDE em Luanda, em 1963, durante 6 meses. Na cadeia conhece escritores angolanos como Luandino Vieira, António Jacinto e António Cardoso. Colocado com residência fixa em Coimbra, acaba por passar à clandestinidade e sair para o exílio em 1964.
Passa dez anos exilado em Argel, onde é dirigente da Frente Patriótica de Libertação Nacional. Aos microfones da emissora A Voz da Liberdade, a sua voz converte-se num símbolo de resistência e liberdade. Entretanto, os seus dois primeiros livros, Praça da Canção(1965) e O Canto e as Armas (1967) são apreendidos pela censura, mas passam de mão em mão em cópias clandestinas, manuscritas ou dactilografadas. Poemas seus, cantados, entre outros, por Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire e Luís Cília, tornam-se emblemáticos da luta pela liberdade. Regressa finalmente a Portugal em 2 de Maio de 1974, dias após o 25 de Abril.

O Prémio Vida Literária 2015/1016 é entregue no dia 25 de Abril, ao escritor Manuel Alegre, em Lisboa pela Associação Portuguesa de Escritores (APE), que instituiu o galardão. 


Acho que foi em data  oportuna visto que Manuel Alegre muito lutou  para que a ditadura acabasse.

Emília Pinto



segunda-feira, 18 de abril de 2016

TELHA DE VIDRO




Quando a moça da cidade chegou veio morar na fazenda, na casa velha... Tão velha! Quem fez aquela casa foi o bisavô..
 Deram-lhe para dormir a camarinha, uma alcova sem luzes, tão escura  mergulhada na tristura de sua treva e de sua única portinha...
 A moça não disse nada, mas mandou buscar na cidade uma telha de vidro... Queria que ficasse iluminada sua camarinha sem claridade...
 Agora, o quarto onde ela mora é o quarto mais alegre da fazenda, tão claro que, ao meio dia, aparece uma renda de arabesco de sol nos ladrilhos vermelhos, que — coitados — tão velhos só hoje é que conhecem a luz do dia...
 A luz branca e fria também se mete às vezes pelo clarão da telha milagrosa... Ou alguma estrela audaciosa careteia no espelho onde a moça se penteia.
 Que linda camarinha! Era tão feia!
 Você me disse um dia que sua vida era toda escuridão cinzenta, fria, sem um luar, sem um clarão... Por que você na experimenta?
 A moça foi tão bem sucedida...
 Ponha uma telha de vidro em sua vida!

RAQUEL DE QUEIROZ.....

nasceu em Fortaleza-Ceará, em 17 de novembro de 1910 e faleceu no Rio de Janeiro em 4 de novembro de 2003. Foi eleita para a Academia Brasileira de Letras em 4 de agosto de 1977 e recebida em 4 de novembro de 1977 pelo acadêmico Adonias Filho. Filha de Daniel de Queiroz e de Clotilde Franklin de Queiroz, descendia, pelo lado materno, da estirpe dos Alencar, parente portanto do autor ilustre de "O Guarani", e, pelo lado paterno, dos Queiroz, família de raízes profundamente lançadas no Quixadá e Beberibe. Em 1917, veio para o Rio de Janeiro, em companhia dos pais que procuravam, nessa migração, fugir dos horrores da terrível seca de 1915, que mais tarde a romancista iria aproveitar como tema de O quinze, seu livro de estréia. No Rio, a família Queiroz pouco se demorou, viajando logo a seguir para Belém do Pará, onde residiu por dois anos. Em 1919, regressou a Fortaleza e, em 1921, matriculou-se no Colégio da Imaculada Conceição, onde fez o curso normal, diplomando-se em 1925, aos 15 anos de idade. Estreou em 1927, com o pseudônimo de Rita de Queiroz, publicando trabalho no jornal O Ceará, de que se tornou afinal redatora efetiva. Em fins de 1930, publicou o romance O quinze, que teve inesperada e funda repercussão no Rio de em São Paulo. Com vinte anos apenas, projetava-se na vida literária do país, agitando a bandeira do romance de fundo social, profundamente realista na sua dramática exposição da luta secular de um povo contra a miséria e a seca.

Tinha-me esquecido por completo desta nossa ( lembrem-se...E o Brasil meu também...) escritora Raquel de Queiroz. No mais recente post da nossa amiga Lúcia,do  Cadeirinhade Arruar ela é citada e isso me levou a homenageá-la aqui no Começar de Novo,com este poema que adorei e que,  com certeza, os meus amigos também vão apreciar. Obrigada, Lúcia

Emília Pinto

sexta-feira, 8 de abril de 2016

A REGRA....






.... Fundamental de Vida


Quando nós dizemos o bem, ou o mal... há uma série de pequenos satélites desses grandes planetas  e que são a pequena bondade, a pequena maldade, a pequena inveja, a pequena dedicação... No fundo é disso que se faz a vida das pessoas, ou seja, de fraquezas, de debilidades... Por outro lado, para as pessoas para quem isto tem alguma importância, é importante ter como regra fundamental de vida não fazer mal a outrem. A partir do momento em que tenhamos a preocupação de respeitar esta simples regra de convivência humana, não vale a pena perdermo-nos em grandes filosofias sobre o bem e sobre o mal. «Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti» parece um ponto de vista egoísta, mas é o único do género por onde se chega não ao egoísmo mas à relação humana.


 José Saramago, in "Revista Diário da Madeira, Junho 1994"


Gostaria de vos contar um GRANDE PORMENOR que guardei até hoje e que aconteceu quando eu tinha 15 anos de idade. Estava internada num colégio de freiras e um dia o padre que nos ensinava religião e moral disse: " para se ser santo não é preciso fazer milagres; basta cumprir o nosso dever. " Simples, não é? Tão simples que não esqueci até hoje  e muitas vezes me lembro dessa frase


Este texto de Saramago mais uma vez me fez recordar esse PORMENOR, porque aqui ele nos mostra como seria fácil a convivência humana se soubessemos dar  as mão uns aos outros e ter como lema de vida " NÃO FAZER MAL A OUTREM "


Emília Pinto

segunda-feira, 28 de março de 2016

A SABEDORIA .....




.... da Velhice


 Nós, os novos, seremos velhos um dia. Essa é mesmo a melhor saída para a nossa vida, sinal de que atingimos uma sabedoria maior, prémio por termos alcançado o topo da hierarquia da existência.
 Não é o tempo que nos faz auferir esse estatuto, mas o tempo dá-nos mais tempo para fazermos alguma coisa com ele e assim aprender para saber mais. Ninguém sabe mais do que um velho.
Ao lado do seu avô, um doutorado é um ignorante e, se afirmar saber mais do que aquelas duas gerações de diferença, é um ignorante imbecil. É o que não falta entre nós, os novos. Dá-se mais valor ao que se aprende nas faculdades do que ao que se aprende na vida, dá-se mais valor à teoria do que à prática. Coitados de nós. E depois não nos lembramos da idade, achamos que nos passa ao lado e por isso não reconhecemos aos velhos o estatuto de sábios e o respeito que lhes é devido. Somos imbecis. A maior parte de nós é tonta. Só isso justifica o abandono. Um velho é um mapa de conhecimento, tem dentro dele muitas estradas principais, muitas vias secundárias e muitos atalhos, muitos becos sem saída, muitas praias, muitos desfiladeiros, muito amor e severas tempestades.


 Gustavo Santos, in 'O Caminho'


E é tanto o abandono!!!!




GUSTAVO SANTOS


Gustavo Santos, (Lisboa, 27 de Maio de 1977, Portugal), é um ator, apresentador, bailarino profissional, escritor e modelo.
 É conhecido por ser o actual apresentador do programa "Querido, mudei a casa" e pelo seu papel como agente da Euroforce na telenovela Vingança, papel que foi elogiado por personalidades como Rogério Samora ou António Calvário. O seu último livro "Agarra-o agora", é já um best-seller no universo nacional de escritores motivacionais. O livro já está na 10ª edição.
 Interpretou vários papeis na série "Malucos na Praia". Desde 2002 que é o presidente da Sociedade Portuguesa de Doentes do Síndrome de Asperger.
 Foi votado pela revista "Egoísta" como a personalidade do ano em 2014, por causa dos seus vídeos motivacionais


Emília Pinto

quinta-feira, 17 de março de 2016

BRASIL...MEU TAMBÉM




O Dever do Povo’ - texto proferido em 11 de novembro de 1914, por ocasião da manifestação popular realizada às vésperas de terminar o governo do marechal Hermes da Fonseca e se iniciar o de Venceslau Brás:


 “Concidadãos: A eloqüência destas vozes, tantas e tão elevadas, que baixam das alturas do espírito; este rumor, que sobe das entranhas da terra; essa multidão, cuja massa evoca e condensa o concurso de milhões de almas ausentes; este espetáculo que já se parece representar no cenário do futuro; todas estas impressões de um passado que se despede, todos estes sinais de um mundo novo, que assoma no horizonte banhado em indecisa claridade; tudo nos está mostrando que a consciência brasileira desperta, que a consciência brasileira está viva, que a consciência brasileira reergue, que a consciência brasileira não se acha mais disposta a sofrer os coices das brutalidades, imbecilidades e ferocidades que convertem as repúblicas bastardas em espojadouros de instintos abjetos, costumes descarados e paixões vergonhosas.
 Povo brasileiro! Reclamai, e vos escutarão; exigi, e tereis; ordenai, e sereis obedecido; sabei querer, e tudo vos cederá. Uma nação não se deve recear senão da sua própria inconsciência, da sua própria relaxação, da sua própria cobardia. Não corrais, como as crianças, de carochas, de cucas, de almas do outro mundo.
 Sois o povo. Sois a nação. Sois o Brasil. Ante a vossa vontade, ante a vossa autoridade, ante a vossa majestade, mandões, facções, minhocões não valem nada. Soprai, e vereis como rebentam as bolhas de sabão.
 Adotastes, nas vossas instituições escritas, um governo de legalidade, um governo de justiça, um governo de liberdade, um governo de soberania popular. E tudo vos tiraram. Despiram-vos a justiça, puseram-vos fora da lei. È tudo o vosso patrimônio moral que se foi. Fazei questão da sua posse. Empreendei a sua reconquista. Ponde a vida e a morte na sua consolidação definitiva. Se em quatro anos o perdestes, não há razão para que em quatro anos o não tenhais reavido, ao menos nos elementos capitais da sua recomposição.
 Mocidade brasileira! Sede paciente, sede cordato, sede refletido. Mas não sejais descuidado, não sejais indiferente, não deixeis de ser firme, resoluto, intrépido na obra da vossa regeneração, na reivindicação dos vossos foros, na guerra aos corrompidos, aos parasitas, ao tráfico dos brancos, ao regime da senzala, do feitor e do vergalh

Sabei alcançar para vós o que soubestes conseguir para os africanos: a redenção, a reaquisição de vós mesmos, o vosso lugar limpo na comunhão da humanidade livre

Parte de um texto de RUI BARBOSA


In Justocantins


Hoje o meu post é dedicado ao povo brasileiro que está a passar momentos difíceis.. Um povo do qual eu me considero parte e que muito contribuiu para o meu crescimento como pessoa.
Mas não é só o Brasil a sofrer com os desgovernos dos governantes; neste nosso pequenino Portugal a corrupção, infelizmente, também é grande.

Emília Pinto

terça-feira, 8 de março de 2016

OS LÍRIOS





"Se naquele instante - refletiu Eugênio - caísse na Terra um habitante de Marte, havia de ficar embasbacado ao verificar que num dia tão maravilhosamente belo e macio, de sol tão dourado, os homens em sua maioria estavam metidos em escritórios, oficinas, fábricas...
 E se perguntasse a qualquer um deles: 'Homem, por que trabalhas com tanta fúria durante todas as horas de sol?' - ouviria esta resposta singular: 'Para ganhar a vida'. E no entanto a vida ali estava a se oferecer toda, numa gratuidade milagrosa.
 Os homens viviam tão ofuscados por desejos ambiciosos que nem sequer davam por ela. Nem com todas as conquistas da inteligência tinham descoberto um meio de trabalhar menos e viver mais. Agitavam-se na Terra e não se conheciam uns aos outros, não se amavam como deviam
. A competição os transformava em inimigos. E havia muitos séculos, tinham crucificado um profeta que se esforçava por lhes mostrar que eles eram irmãos, apenas e sempre irmãos"


 " É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza. Precisamos, entretanto, dar um sentido humano às nossas construções. E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu."


 Érico Veríssimo ( do livro Olhai os Lírios do Campo )


 Coloquei em destaque estas últimas palavras de Érico Veríssimo, porque, perante elas, não me cabe dizer mais nada


. Emília Pinto

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

FAÇAM POR....





.... não verem mais .....

 Vós, ó mães idolatradas, façam por não verem mais
 Crianças abandonadas, tísicas — nos hospitais.
 Sim, vós, ó mães carinhosas, criai as vossas filhinhas, Educai-as de criancinhas,
 Mas não em leis religiosas, que essas leis são perigosas, e p'los homens inventadas.
 Não sigam, pois, enganadas pelos padres sem consciência,
 E amem o deus-Providência,
 Vós, ó mães idolatradas!... Se quereis ver a religião, já noutro tempo atrasado,
 Leiam um livro chamado «Mistérios da Inquisição»
... Lendo aí, compreenderão como as pessoas reais
 Mandaram fuzilar pais e mães sem fazerem mal
. Padres e gente real, façam por não verem mais
. E quando se saiba amar como irmãos, em toda a terra,
 Bombas, revoluções e guerra para sempre hão-de acabar;
 Nem mais se hão-de encontrar
 Mulheres «matriculadas» — Infelizes que, desonradas, ali procuram a morte
, Deixando, aos vaivéns da sorte, crianças abandonadas
. Hão-de acabar os ladrões, os patifes, os mariolas
  Quando se fizerem escolas das igrejas e prisões
. Hão-de acabar os patrões, que são prejudiciais

 Comprando bons enxovais p'ràs suas filhas
  enquanto as dos pobres vertem pranto, tísicas — nos hospitais


. António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..

Considerado um dos poetas populares portugueses de maior relevo, afirmando-se pela sua ironia e pela crítica social sempre presente nos seus versos, António Aleixo também é recordado como homem simples, humilde e semi-analfabeto, e ainda assim ter deixado como legado uma obra poética singular no panorama literário português da primeira metade do século XX. No emaranhado de uma vida cheia de pobreza, mudanças de emprego, emigração, tragédias familiares e doenças, na sua figura de homem humilde e simples houve o perfil de uma personalidade rica, vincada e conhecedora das diversas realidades da cultura e sociedade do seu tempo. Do seu percurso de vida fazem parte profissões como tecelão, polícia e servente de pedreiro, trabalho este que, como emigrante, exerceu em França. De regresso ao seu Algarve natal, estabeleceu-se novamente em Loulé, onde passou a vender cautelas e a cantar as suas produções pelas feiras portuguesas, atividades que se juntaram às suas muitas profissões e que lhe renderia a alcunha de «poeta-cauteleiro». Faleceu vítima de uma tuberculose, a 16 de novembro de 1949, doença que tempos antes havia também vitimado uma de suas filhas.


Gostei muito deste poema de António Aleixo que desconhecia. Não queremos ver, mas todos os dias nos entram pela casa dentro imagens que nos chocam e nos fazem pensar.

  " TUDO MUDA; TUDO SE TRANSFORMA ", dizem!. Há coisas que não mudam e o desânimo surge!

Emília Pinto

domingo, 14 de fevereiro de 2016

LUTA DE CLASSES




Não contem comigo para defender o elitismo cultural. Pelo contrário, contem comigo para rebentar cada detalhe do seu preconceito. A cultura é usada como símbolo de status por alguns, alfinete de lapela, botão de punho. A raridade é condição indispensável desse exibicionismo. Só pertencendo a poucos se pode ostentar como diferenciadora. Essa colecção de símbolos é descrita com pronúncia mais ou menos afectada e tem o objectivo de definir socialmente quem a enumera. Para esses indivíduos raros, a cultura é caracterizada por aqueles que a consomem. Assim, convém não haver misturas. Conheço melhor o mundo da leitura, por isso, tomo-o como exemplo: se, no início da madrugada, uma dessas mulheres que acorda cedo e faz limpeza em escritórios for vista a ler um determinado livro nos transportes públicos, os snobs que assistam a essa imagem são capazes de enjeitá-lo na hora. Começarão a definir essa obra como "leitura de empregadas de limpeza" (com muita probabilidade utilizarão um sinónimo mais depreciativo para descrevê-las). Este exemplo aplica-se em qualquer outra área cultural que possa chegar a muita gente: música, cinema, televisão, etc. Aquilo que mais surpreende é que estes "argumentos", esta forma de falar e de pensar seja utilizada em meios supostamente culturais por indivíduos supostamente cultos, e só em escassas ocasiões é denunciada como discriminadora do ponto de vista sexual ou social. Isso são livros de gaja, dizem eles. Às vezes, para cúmulo, há mesmo mulheres que dizem: isso são livros de gaja. A raiz da minha cultura não pertence ao elitismo. Tenho orgulho das minhas origens, do meu avô pastor, do meu pai carpinteiro, como outros têm orgulho dos seus longos nomes compostos. Depois de um trabalho que encerre convicções profundas, que tenha em conta os princípios da sua área artística, que seja consciente da história dessa área e que faça uma proposta coerente e inovadora, acredito na divulgação o mais ampla possível. Esconder uma obra em tiragens de 300 exemplares não lhe acrescenta um grama de valor artístico. Quando essa falta de divulgação resulta de uma escolha, pressupõe, quase sempre, falta de consideração pelo público, a crença de que um público mais vasto seria incapaz de entender tamanha sofisticação. Acredito que a poesia pode ser publicada em caixinhas de fósforos, escrita com trincha ou spray nas paredes, impressa em t-shirts, afixada no facebook. Em qualquer um desses lugares, será diferente, mas em todos continuará a ser poesia. É ridícula a ideia de que a divulgação deturpa. A banalização é sempre tarefa de quem banaliza e não do objecto banalizado. Quem não for capaz de convocar os seus sentidos e a sua razão para apreciar uma determinada obra, apenas por acreditar que se encontra muito difundida, tem problemas graves ao nível do espírito crítico e da isenção mais básica. Esse é um daqueles casos em que se aconselha a lavagem de olhos. É aí que reside a deturpação. Admiro o povo ao qual pertenço. Não o povo mitificado, admiro o povo quotidiano. Gosto de ir a feiras. Gosto de comer frango assado com as mãos. Devo tanto à cultura deste povo como devo a Dostoievski. Há alguns meses, a personagem de uma telenovela citou um poema escrito por mim. Toda a gente da minha rua viu e ouviu. A minha mãe ficou orgulhosa e eu também. Chamo-me José ou, se preferirem, Zé. Desprezo o elitismo. O verbo não é exagerado, adequa-se bem ao que sinto. Hei-de sempre divulgar o meu trabalho na máxima dimensão das minhas capacidades. Devo esse esforço à convicção que tenho naquilo que escolhi dizer. Fico feliz se vejo os meus livros disponíveis em supermercados, estações de correios, bombas de gasolina ou bibliotecas públicas. Aquilo que faço não existe sozinho, precisa de alguém que lhe dê sentido, o seu próprio sentido e interpretação pessoal. Se uma árvore cair sozinha na floresta, sem ninguém por perto, será que faz barulho? Por esse motivo, o esforço de divulgação é também uma mostra de respeito para com essas pessoas, é um sinal da minha crença nelas e no seu valor. Exactamente como estas palavras, que existem porque estás a lê-las. Escrevo romances, a minha força de vontade é enorme. Tenho 38 anos, conto estar por cá durante bastante tempo. Tenho ainda muito por fazer. Habituem-se. Não tenho medo


 José Luís Peixoto, in 'Visão' (Revista)



Sei que escolhi um texto bastante longo, mas o tema é tão interessante e oportuno que, mesmo assim, resolvi partilhar.

Este tipo de comportamento, a mim, sempre me irritou e é com frequência que o enfrento, podem acreditar.

Emília Pinto

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

MAIOR





 Eu sou maior do que era antes
 Estou melhor do que era ontem
 Eu sou filho do mistério e do silêncio
 Somente o tempo vai me revelar quem sou
 As cores mudam
 As mudas crescem
 Quando se desnudam
 Quando não se esquecem
 Daquelas dores que deixamos para trás
 Sem saber que aquele choro valia ouro
 Estamos existindo entre mistérios e silêncios
 Evoluindo a cada lua a cada sol
 Se era certo ou se errei
 Se sou súdito se sou rei
Somente atento à voz do tempo saberei



MILTON NASCIMENTO


Devemos procurar evoluir a cada lua... a cada sol e ser MAIOR E MELHOR a cada dia que passa

Emilia Pinto



segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

O QUE DISTINGUE.....






....um Amigo Verdadeiro

Não se pode ter muitos amigos. Mesmo que se queira, mesmo que se conheçam pessoas de quem apetece ser amiga, não se pode ter muitos amigos. Ou melhor: nunca se pode ser bom amigo de muitas pessoas. Ou melhor: amigo. A preocupação da alma e a ocupação do espaço, o tempo que se pode passar e a atenção que se pode dar — todas estas coisas são finitas e têm de ser partilhadas. Não chegam para mais de um, dois, três, quatro, cinco amigos. É preciso saber partilhar o que temos com eles e não se pode dividir uma coisa já de si pequena (nós) por muitas pessoas. Os amigos, como acontece com os amantes, também têm de ser escolhidos. Pode custar-nos não ter tempo nem vida para se ser amigo de alguém de quem se gosta, mas esse é um dos custos da amizade. O que é bom sai caro. A tendência automática é para ter um máximo de amigos ou mesmo ser amigo de toda a gente. Trata-se de uma espécie de promiscuidade, para não dizer a pior. Não se pode ser amigo de todas as pessoas de que se gosta. Às vezes, para se ser amigo de alguém, chega a ser preciso ser-se inimigo de quem se gosta. Em Portugal, a amizade leva-se a sério e pratica-se bem. É uma coisa à qual se dedica tempo, nervosismo, exaltação. A amizade é vista, e é verdade, como o único sentimento indispensável. No entanto, existe uma mentalidade Speedy González, toda «Hey gringo, my friend», que vê em cada ser humano um «amigo». Todos conhecemos o género — é o «gajo porreiro», que se «dá bem com toda a gente». E o «amigalhaço». E tem, naturalmente, dezenas de amigos e de amigas, centenas de amiguinhos, camaradas, compinchas, cúmplices, correligionários, colegas e outras coisas começadas por c. Os amigalhaços são mais detestáveis que os piores inimigos. Os nossos inimigos, ao menos, não nos traem. Odeiam-nos lealmente. Mas um amigalhaço, que é amigo de muitos pares de inimigos e passa o tempo a tentar conciliar posições e personalidades irreconciliáveis, é sempre um traidor. Para mais, pífio e arrependido. Para se ser um bom amigo, têm de herdar-se, de coração inteiro, os amigos e os inimigos da outra pessoa. E fácil estar sempre do lado de quem se julga ter razão. O que distingue um amigo verdadeiro é ser capaz de estar ao nosso lado quando nós não temos razão. O amigalhaço, em contrapartida, é o modelo mais mole e vira-casacas da moderação. Diz: «Eu sou muito amigo dele, mas tenho de reconhecer que ele é um sacana.» Como se pode ser amigo de um sacana? Os amigos são, por definição, as melhores pessoas do mundo, as mais interessantes e as mais geniais. Os amigos não podem ser maus. A lealdade é a qualidade mais importante de uma amizade. E claro que é difícil ser inteiramente leal, mas tem de se ser.


Miguel Esteves Cardoso, in 'Os Meus Problemas'

Não podia  recomeçar a minha vida aqui no meu cantinho com uma mensagem diferente desta. Já há muito que considero que AMIGOS verdadeiros posso contá-los pelos dedos, mas nunca imaginei que poderia tê-los sem os conhecer pessoalmente A prova está em todo este carinho que recebi durante a minha estadia no Brasil. Foram tempos difíceis, mas que, felizmente, passaram Muito me ajudaram as palavras de apoio que recebi de pessoas que conheço só através de palavras, mas que, através delas, me fizeram acreditar ainda mais no ser humano. A minha pequena lista de Verdadeiros amigos ficou maior.  MUITO E MUITO OBRIGADA

Emília Pinto