sexta-feira, 14 de maio de 2021

VERIFICAR, SEMPRE!



Imagem da net


Todos Nós Hoje Nos Desabituamos do Trabalho de Verificar 


Todos nós hoje nos desabituamos, ou antes nos desembaraçamos alegremente, do penoso trabalho de verificar. É com impressões fluídas que formamos as nossas maciças conclusões. Para julgar em Política o facto mais complexo, largamente nos contentamos com um boato, mal escutado a uma esquina, numa manhã de vento. Para apreciar em Literatura o livro mais profundo, atulhado de ideias novas, que o amor de extensos anos fortemente encadeou—apenas nos basta folhear aqui e além uma página, através do fumo escurecedor do charuto. Principalmente para condenar, a nossa ligeireza é fulminante. Com que soberana facilidade declaramos—«Este é uma besta! Aquele é um maroto!» Para proclamar—«É um génio!» ou «É um santo!» oferecemos uma resistência mais considerada. Mas ainda assim, quando uma boa digestão ou a macia luz dum céu de Maio nos inclinam à benevolência, também concedemos bizarramente, e só com lançar um olhar distraído sobre o eleito, a coroa ou a auréola, e aí empurramos para a popularidade um maganão enfeitado de louros ou nimbado de raios. Assim passamos o nosso bendito dia a estampar rótulos definitivos no dorso dos homens e das coisas. Não há acção individual ou colectiva, personalidade ou obra humana, sobre que não estejamos prontos a promulgar rotundamente uma opinião bojuda E a opinião tem sempre, e apenas, por base aquele pequenino lado do facto, do homem, da obra, que perpassou num relance ante os nossos olhos escorregadios e fortuitos. Por um gesto julgamos um carácter: por um carácter avaliamos um povo.

Eça de Queirós, in A Correspondência de Fradique Mendes


 Parece ter sido escrito hoje, não?  Melhor será usar mais o ponto de interrogação e não acreditar, imediatamente, em tudo o que se ouve.

Emília Pinto

segunda-feira, 3 de maio de 2021

MEU PAÍS

 Imagem Pixabay

 

Meu país desgraçado!
E no entanto há Sol a cada canto 
e não há Mar tão lindo noutro lado. 
Nem há Céu mais alegre do que o nosso, 
nem pássaros, nem águas…

Meu país desgraçado!… 
Porque fatal engano? 
Que malévolos crimes 
teus direitos de berço violaram? 

 Meu Povo 
de cabeça pendida, 
mãos caídas, de olhos sem fé 
— busca, dentro de ti, fora de ti, 
aonde a causa da miséria se te esconde. 

E em nome dos direitos
que te deram a terra, o Sol, o Mar, 
fere-a sem dó 
com o lume do teu antigo olhar. 

 Alevanta-te, Povo! 
Ah!, visses tu, nos olhos das mulheres, 
a calada censura 
que te reclama filhos mais robustos! 

Povo anémico e triste, 
meu Pedro Sem sem forças, sem haveres!
 — olha a censura muda das mulheres! 
Vai-te de novo ao Mar! 
Reganha tuas barcas, tuas forças 
e o direito de amar e fecundar 
as que só por Amor te não desprezam! 


 Sebastião da Gama, in 'Cabo da Boa Esperança'

O nosso País livrou-se de uma ditadura que violava os " direitos de berço " do seu povo Muito se tem conquistado desde o dia 25 de Abril , mas há ainda  muito a  fazer, principalmente no que respeita às mulheres que são trabalhadoras, são  Mães,  mas tardam a ser verdadeiramente reconhecidas pelo duplo trabalho que fazem, em casa e no emprego

Achei interessante este poema que nos retrata  um Portugal " desgraçado ", com censura , repressão e miséria. Felizmente, o País mudou muito.

Emília Pinto

domingo, 2 de maio de 2021

MÃE

 Imagem . Pixabay



Quando eu nasci, 
ficou tudo como estava, 
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu, 
nem houve Estrelas a mais... 
Somente, 
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu. 

Quando eu nasci, 
não houve nada de novo
senão eu. 

As nuvens não se espantaram, 
não enlouqueceu ninguém... 
P'ra que o dia fosse enorme,
bastava 
toda a ternura que olhava 
nos olhos de minha Mãe... 


 Sebastião da Gama, in Pensador

"  P' ra que este dia seja enorme ", seja especial, basta ver a ternura de uma Mãe quando olha os seus filhos , tenham eles a idade que tiverem.

A todas vós, queridas  Amigas,  desejo que tenham um dia muito alegre junto dos vossos filhos e que sintam sempre, da parte deles, a ternura e o carinho que merecem. Deixo-vos um cesto carregadinho de amizade e um abraço do tamanho do mundo  As flores que estão no cestinho acima, quero-as todas para a minha querida Mami  já noutra dimensão, mas sempre junto de mim.

Saúde e um dia muito feliz!

Emília Pinto