segunda-feira, 21 de agosto de 2017

RECORDANDO...






O Homem Materializou-se e Corrompeu-se.
Que tem feito a sociedade há três séculos a favor da parte moral do homem?
Nada, querer iluminar o homem, tirar-lhe ilusões. E tiradas essas ilusões, que sucedeu?
O homem materializou-se, e a sociedade corrompeu-se.
Vejamos que progressos materiais obtivemos nesses três séculos:
obtivemos as aplicações do vapor, a química fêz passos de gigante, as ciências naturais chegaram quási à perfeição,
os resultados científicos e artísticos simplificaram-se, inventou-se o galvanismo, o telégrafo eléctrico, a fotografia, desapareceram as distâncias, o comércio reina dominador sôbre todos, somos engolfados em prosperidade material, e ao mesmo tempo somos muito infelizes.


 Dom Pedro V, in 'Escritos de El-Rei D.Pedro V


' Pedro V , apelidado de "o Esperançoso" e "o Muito Amado", foi o Rei de Portugal e Algarves de 1853 até sua morte. Era o filho mais velho da rainha Maria II e seu marido o rei Fernando II. Ele ascendeu ao trono com apenas dezesseis anos de idade após a morte de sua mãe, com seu pai atuando como regente do reino até sua maioridade em 1855. Embora muito jovem aquando a sua ascensão ao trono português, com apenas 16 anos, foi considerado por muitos como um monarca exemplar, que reconciliou o povo com a casa real, após o reinado da sua mãe ter sido fruto de uma guerra civil vencida. D. Fernando II, seu pai, desempenhou um papel fundamental no início do seu reinado, tendo exercido o governo da nação na qualidade de regente do reino, orientando o jovem rei no que diz respeito às grandes obras públicas efectuadas. Pedro V é frequentemente descrito como um monarca com valores sociais bem presentes, em parte devida à sua educação, que incluiu trabalho junto das comunidades e um vasto conhecimento do continente europeu. Dedicou-se com afinco ao governo do país, estudando com minúcia as deliberações governamentais propostas. Criou ainda o Curso Superior de Letras, em 1859, que subsidiou do seu bolso, com um donativo de 91 contos de réis. Nesse mesmo ano é introduzido o sistema métrico em Portugal. Pedro V foi um defensor acérrimo da abolição da escravatura e data do seu reinado um episódio que atesta a convicção do monarca nessa matéria e que simultaneamente demonstra a fragilidade de Portugal perante as grandes potências europeias: junto à costa de Moçambique é apresado um navio negreiro francês, tendo o seu comandante sido preso. O governo de França não só exigiu a libertação do navio, bem como uma avultada indemnização ao governo português


 Li este texto escrito por D. Pedro V que achei muito interessante. Como os meus dez anos, altura em que aprendi sobre os reis de Portugal já lá vão há muitos, muitos,  muitos....muitos... anos,  resolvi recordar este nosso monarca. Gostei e, quando gosto, partilho com os amigos. 

Recordemos então !!!

Emilia Pinto


terça-feira, 8 de agosto de 2017

TERRA






António, é preciso partir!
O moleiro não fia, a terra é estéril, a arca vazia, o gado minga e se fina!
António é preciso partir!
A enxada sem uso, o arado enferruja, o menino quer o pão; a tua casa é fria!
É preciso emigrar!
O vento anda como doido – levará o azeite; a chuva desaba noite e dia – inundará tudo; e o lar vazio, o gado definhando sem pasto, a morte e o frio por todo o lado, só a morte, a fome e o frio por todo o lado,
António! É preciso embarcar! Badalão! Badalão! – o sino já entoa a despedida.
Os juros crescem; o dinheiro e o rico não têm coração.
E as décimas, António? Ninguém perdoa – que mais para vender?
Foi-se o cordão, foram-se os brincos, foi-se tudo!
A fome espia o teu lar. Para quê lutar com a secura da terra, com a indiferença do céu, com tudo, com a morte, com a fome, coma a terra, com tudo!
Árida, árida a vida! António, é preciso partir!
António partiu. E em casa, ficou tudo medonho, desamparado, vazio


 Fernando Namora, in 'Terra'


Confesso que não conhecia este poema de Fernando Namora. Quando o li, resolvi publicá-lo, porque estamos em Agosto, mês em que os " Antónios " do nosso Portugal voltam à sua terra para reverem tudo o que um dia foram obrigados a deixar. " Árida era a terra e árida era a vida deles, por isso "emigraram ...partiram."


Emília Pinto