quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

NATAL


  



 Os meus amigos brasileiros conhecem este video, cm toda a certeza, mas o que importa aqui é a mensagem que achei lindíssima. É um Natal assim que desejo a todos os meus grandes amigos e eu vou tentar que à minha mesa esteja o convidado principal JESUS e que, apesar das ausências tão queridas, não falte a alegria que ELE quis trazer ao mundo com o SEU nascimento


Um Feliz e Santo Natal para todos vós, queridos amigos e o meu agradecimento pelo tanto de carinho que de vós recebo, 

Emília Pinto









domingo, 25 de novembro de 2018

DIFERENTE, MAS....INTERESSANTE!




Poderei dizer que este post é uma homenagem à minha amiga Mariazita do blog A Casa da Mariquinhas. Explico: Sempre que eu e ela trocamos e-mails, o dela traz um provérbio relacionado com o mês em que estamos e eu gosto muito e acho interessantíssimo. Como estamos quase no fim do ano e prestes a começar um novo, resolvi pesquisar e partilhar com os amigos estas curiosidades. 



JANEIRO          Não há luar como o de Janeiro, nem amor como o primeiro
FEVEREIRO     Quando não chove em Fevereiro, nem bom prado nem bom celeiro
MARÇO             marçagão, de manhã Inverno à tarde Verão
ABRIL                Se não chove em Abril, perde o lavrador couro e quadril
MAIO                 pardo e ventoso faz o ano farto e formoso
JUNHO               chuvoso: ano perigoso
JULHO                quente, seco e ventoso: trabalha sem repouso.
AGOSTO             amadurece, Setembro vindimece
SETEMBRO        Mês dos figos e cara de poucos amigos
OUTUBRO          Logo que Outubro venha, prepara a lenha
NOVEMBRO      Em Novembro, prova o vinho e semeia o cebolinho
DEZEMBRO       Em Dezembro, treme de frio cada membro.

Espero que gostem! Obrigada, Mariazita!

Emília Pinto

terça-feira, 13 de novembro de 2018

AMAR



 Não podemos evitar os contratempos que a vida nos traz, por isso, a melhor opção é AMAR, apesar de tudo


. Emília Pinto

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

OUVIR AS ESTRELAS




"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
 Perdeste o senso!" e eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto

Direis agora: "tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

 E eu vos direi: "amai para entendê-las!
 Pois só quem ama pode ter ouvido
 Capaz de ouvir e de entender estrelas

Olavo Bilac


Gostaria muito de saber " Ouvir as estrelas..."

Emília Pinto


sexta-feira, 19 de outubro de 2018

GENTE



Esta Gente / Essa Gente


 O que é preciso é gente
 gente com dente
 gente que tenha dente
 que mostre o dente

 Gente que não seja decente
 nem docente
 nem docemente
 nem delicodocemente

 Gente com mente
 com sã mente
 que sinta que não mente
 que sinta o dente são e a mente

 Gente que enterre o dente
 que fira de unha e dente
 e mostre o dente potente
 ao prepotente

 O que é preciso é gente
 que atire fora com essa gente
 Essa gente dominada por essa gente
 não sente como a gente
 não quer ser dominada por gente

 NENHUMA!

 A gente só é dominada por essa gente
 quando não sabe que é gente

 Ana Hatherly, in "Um Calculador de Improbabilidades"


  Nascemos todos da mesma maneira, todos como na foto acima. Nascemos, mais ou menos serenos, sem termos pedido para nascer; nascemos sem sonhos, sem objectivos... nascemos despidos...despidos de roupa...despidos de títulos...de classes sociais... despidos de vaidades e sem qualquer tipo de preconceito. Nascemos simplesmente GENTE e assim deveríamos continuar a ser GENTE, SIMPLESMENTE e a considerar os outros também SIMPLESMENTE GENTE, SIMPLESMENTE SERES HUMANOS.

Quem foi Ana Hatherly?



Nasceu no Porto em 1929, tendo tido uma educação tradicional severa mas muito completa. Os seus pais morreram quando era muito jovem, tendo sido educada pela avó materna. Tentou ser cantora lírica, chegando a ir à Alemanha para se especializar em música barroca. O seu sonho terminou por não ter estrutura física para cantar. Devido a doença, frequentou um sanatório perto de Genebra, na Suíça, durante um ano. Aí começou a escrever por recomendação de um psicólogo[2]. Foi professora catedrática da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde co-fundou o Instituto de Estudos Portugueses. Diplomada em Cinema, pela London Film School, em Londres, licenciada em Filologia Germânica, pela Universidade de Lisboa, e doutorada em Estudos Hispânicos, pela Universidade da Califórnia, em Berkeley

Emília Pinto

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

A FELICIDADE ....




...vem da MONOTONIA.


 Em sua essência a vida é monótona. A felicidade consiste pois numa adaptação razoavelmente exacta à monotonia da vida. Tornarmo-nos monótonos é tornarmo-nos iguais à vida; é, em suma, viver plenamente. E viver plenamente é ser feliz. Os ilógicos doentes riem - de mau grado, no fundo - da felicidade burguesa, da monotonia da vida do burguês que vive em regularidade quotidiana e, da mulher dele que se entretém no arranjo da casa e se distrai nas minúcias de cuidar dos filhos e fala dos vizinhos e dos conhecidos. Isto, porém, é que é a felicidade. Parece, a princípio, que as cousas novas é que devem dar prazer ao espírito; mas as cousas novas são poucas e cada uma delas é nova só uma vez. Depois, a sensibilidade é limitada, e não vibra indefinidamente. Um excesso de cousas novas acabará por cansar, porque não há sensibilidade para acompanhar os estímulos dela. Conformar-se com a monotonia é achar tudo novo sempre. A visão burguesa da vida é a visão científica; porque, com efeito, tudo é sempre novo, e antes de este hoje nunca houve este hoje. É claro que ele não diria nada disto. Às minhas observações, limita-se a sorrir; e é o seu sorriso que me traz, pormenorizadas, as considerações que deixo escritas, por meditação dos pósteros,

Fernando Pessoa, in Reflexões Pessoais.


 Muitas vezes reclamei da monotonia dos dias, mas, amigos, também já me arrependi muitas vezes de o ter feito.


Emília Pinto

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

VIVER BEM!







Espero que gostem! Uma guerreira, esta SENHORA !

Emília Pinto

sábado, 1 de setembro de 2018

DOURO







São Leonardo de Galafura


À proa dum navio de penedos,
 A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em drecção ao cais divino.
Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados.
Serão charcos de luz Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.
Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!

Miguel Torga


Estamos em época de vindimas aqui em Portugal e o Douro já se prepara para a " FESTA " É um tempo de muito trabalho, de  muitos turistas e de muita alegria. Para homenagear esta nossa bela região escolhi este poema  de Miguel Torga que muito amava o Douro, especialmente o Monte de S. Leonardo.

Queridos amigos, o Começar de Novo está de volta  e aos poucos irá fazendo as visitas a todos vocês. Entretanto, ficam o meu agradecimento pela atenção sempre recebido e um grande abraço.

Emília Pinto

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

AGOSTO





Em Portugal a emigração não é, como em toda a parte,

a transbordação de uma população que sobra;

mas a fuga de uma população que sofre



Eça de Queirós in uma Campanha Alegre



Essa população um dia fugiu, porque sofria na sua pátria, mas, apesar disso, nunca deixou de a amar;  Agosto é o mês que escolhe para voltar à sua terra e por toda a parte é vista, feliz, revivendo locais e convivendo com os familiares e amigos que aqui teve de deixar. Nunca é fácil partir!I

Escolhi também este mês para fazer uma pausa no Começar de Novo e, com esta fantástica citação de Eça de Queirós , deixo-vos um forte abraço e os votos de umas boas férias para todos; deixo também a certeza de que vos visitarei sempre que possível

Obrigada pelo tanto de carinho que recebo sempre

Emília Pinto

quarta-feira, 18 de julho de 2018

HÁ 35 ANOS....




....partiu ANTÓNIO VARIAÇÕES


Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar!
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se a vida em ti é de outro jeito
Ver-te sorrir, eu nunca te vi
E a cantar, eu nunca te ouvi

Será de ti ou pensas que tens que ser assim
Ver-te sorrir eu nunca te vi
E a cantar, eu nunca te ouvi
Será de ti ou pensas que tens que ser assim
Olha que a vida não é nem deve ser
Como um castigo que Tu terás que viver
Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se a vida em ti é de outro jeito


Os meus amigos portugueses conhecem bem este nosso cantor, mas os que tenho no Brasil com certeza não saberão quem foi. Aconselho-os a pesquisarem, pois teve um percurso de vida muito interessante. Ficaria um post muito longo se aqui vos deixasse informações sobre a vida dele. Espero que gostem

Emília Pinto

segunda-feira, 2 de julho de 2018

CANTAR....



.....DO AMIGO PERFEITO


Passado o mar, passado o mundo, em longes praias,
de areia e ténues vagas, como esta
em que haverá de nossos passos a memória
embora soterrada pela areia nova
e em que sobre as muralhas quanta sombra
na pedra carcomida guarda que passámos,
em longes praias, outras nuvens, outras vozes,
ainda recordas esta, ó meu amigo?

 Aqui passeámos tanta vez, por entre os corpos
 da alheia juventude, impudica ou severa,
 esplêndida ou sem graça, à venda ou pronta a dar-se,
 ido na brisa o sol às mais sombrias curvas;
 e o meu e o teu olhar guiando-se leais,
 de nós um para o outro conquistando -
 em longes praias, outras nuvens, outras vozes,
 ainda recordas, diz, ó meu amigo?

 Também aqui relembro as ruas tenebrosas,
 de vulto em vulto percorridas, lado a lado,
 numa nudez sem espírito, confiança
 tranquila e áspera, animal e tácita,
 já menos que amizade, mas diversa
 da suspeição do amor, tão cauta e delicada -
 em longes praias, outras nuvens, outras vozes,
 ainda as recordas, diz, ó meu amigo?

 Também aqui, sorrindo em branda mágoa,
 desfiámos, sem palavras castamente cruas,
 não já sequer os í ntimos segredos
 que o próprio amor, porque ama, não confessa,
 nem a vaidade humana dos sentidos,
 mas subtis fraquezas vis, ingénuas e secretas -
 em longes praias, outras nuvens, outras vozes,
 ainda recordas, diz, ó amigo?

Partiste e foi contigo a juventude.
Ficou o silêncio adulto, pensativo e pródigo
e o terror de não ser minha estátua
 jacente sobre o túmulo frio onde as cinzas da infância desmentem-
 palpitar de traiçoeira fénix! -
 que só do amor ou só da terra haja saudade.
 Em longes praias, outras nuvens, outras vozes
tu sabes que a levaste, ó meu amigo?

Jorge de Sena. in citador

Queridos amigos, com este belo poema de Jorge de Sena deixo-vos o meu até logo e os votos de que fiquem bem, com alegria, serenidade e saúde, Daqui a uma semana estarei de volta. Ficam também o meu abraço e a certeza da minha sincera amizade 

Emília Pinto

terça-feira, 19 de junho de 2018

ESCUTAR



imagem- Pixabay


 Fomos Deixando de Escutar

 Me entristece o quanto fomos deixando de escutar. Deixámos de escutar as vozes que são diferentes, os silêncios que são diversos. E deixámos de escutar não porque nos rodeasse o silêncio. Ficámos surdos pelo excesso de palavras, ficámos autistas pelo excesso de informação. A natureza converteu-se em retórica, num emblema, num anúncio de televisão. Falamos dela, não a vivemos. A natureza, ela própria, tem que voltar a nascer. E quando voltar a nascer teremos que aceitar que a nossa natureza humana é não ter natureza nenhuma. Ou que, se calhar, fomos feitos para ter todas as naturezas. Falei dos pecados da Biologia. Mas eu não trocaria esta janela por nenhuma outra. A Biologia ensinou-me coisas fundamentais, uma  delas foi a humildade. Esta nossa ciência me ajudou a entender outras linguagens, a fala das árvores, a fala dos que não falam. A Biologia me serviu de ponte para outros saberes. Com ela entendi a Vida como uma história, uma narrativa perpétua que se escreve não em letras mas em vidas. A Biologia me alimentou a escrita literária como se fosse um desses velhos contadores não de histórias mas de sabedorias. E reconheci lições que já nos tinham sido passadas quando ainda não tínhamos sido dados à luz. No redondo do ventre materno, já ali aprendíamos o ritmo e os ciclos do tempo. Essa foi a nossa primeira lição de música. O coração esse que a literatura elegeu como sede das paixões , o coração é o primeiro órgão a formar-se na morfogénese. Ao vigésimo segundo dia da nossa existência esse músculo começa a bater. É o primeiro som, não que escutamosnós já escutávamos um outro coração, esse coração maior cuja presença reinventaremos durante toda a nossa existência —, mas é o primeiro som que produzimos. Antes da noção da Luz, o nosso corpo aprende a ideia do Tempo.
Com vinte e dois dias, aprendemos que essa dança a que chamamos Vida se fará ao compasso de um tambor feito da nossa própria carne.

 Mia Couto in " Pensamentos "


  O maior problema do nosso mundo, é não SABER ESCUTAR, o que dá origem a tantas guerras e outros conflitos. Escutar é ouvir com o coração-

Emília Pinto

terça-feira, 5 de junho de 2018

SERENIDADE


       ( imagem retirada da net )


 A serenidade não é feita nem de troça nem de narcisismo, é conhecimento supremo e amor, afirmação da realidade, atenção desperta junto à borda dos grandes fundos e de todos os abismos; é uma virtude dos santos e dos cavaleiros, é indestrutível e cresce com a idade e a aproximação da morte. É o segredo da beleza e a verdadeira substância de toda a arte. O poeta que celebra, na dança dos seus versos, as magnificências e os terrores da vida, o músico que lhes dá os tons de duma pura presença, trazem-nos a luz; aumentam a alegria e a clareza sobre a Terra, mesmo se primeiro nos fazem passar por lágrimas e emoções dolorosas. Talvez o poeta cujos versos nos encantam tenha sido um triste solitário, e o músico um sonhador melancólico: isso não impede que as suas obras participem da serenidade dos deuses e das estrelas. O que eles nos dão, não são mais as suas trevas, a sua dor ou o seu medo, é uma gota de luz pura, de eterna serenidade. Mesmo quando povos inteiros, línguas inteiras, procuram explorar as profundezas cósmicas em mitos, cosmogonias, religiões, o último e supremo termo que poderão atingir é essa serenidade.


 Hermann Hesse, in 'O Jogo das Contas de Vidro'



 Hermann Hesse (1877-1962) foi um importante escritor alemão, autor de importantes obras, como, "Lobo da Estepe" e "O Jogo das Contas de Vidro". Prêmio Nobel de Literatura de 1946. Hermann Karl Hesse nasceu em Calw, Alemanha, no dia 2 de julho de 1877. Descendente de uma família de missionários pietistas, desde cedo foi preparado para seguir o mesmo caminho. Em 1881, quando tinha quatro anos a família mudou-se para a Basileia, na Suíça, onde permaneceu por seis anos. De volta a Calw frequentou a Escola em Göppingen. Em 1891 entrou para o seminário Teológico da Abadia de Maulbronn. Durante sua permanência no seminário escreveu algumas peças de teatro em latim, que apresentava junto com alguns colegas. As cartas que enviava aos pais eram em forma de rimas e muitas em latim. Redigiu alguns ensaios e traduziu poesia grega clássica para o alemão. Lutando contra a religião, as dúvidas, anseios e aflições, mostrava-se um jovem rebelde. Depois de sete meses fugiu do seminário, sendo encontrado depois de alguns dias perambulando pelo campo, confuso e transtornado. Começou então uma jornada através de instituições e escolas. Atravessou intensos conflitos com os pais. Após o tratamento, em 1893 concluiu sua escolaridade. Hermann Hesse aspirava ser poeta, mas começou um aprendizado em uma fábrica de relógios em Calw. A monotonia do trabalho fez com que ele se voltasse para as atividades espirituais.


Tocou- me muito este texto, porque já estou na fase de ambicionar, simplesmente, SERENIDADE. É uma benção consegui-la, porque na sociedade em que vivemos é preciso muita força para nos mantermos serenos



Emília Pinto

segunda-feira, 21 de maio de 2018

HOMENAGEM



Se penso, existo; se falo, existo para os outros, com os outros.
A necessidade é o lugar do encontro.
Procuro os outros para me lembrar que existo. E existo, porque os outros me reconhecem como seu igual. Por isso, a minha vida é parte de outras vidas, como um sorriso é parte de uma alegria breve.
Breve é a vida e o seu rasto.
 A posteridade é apenas a memória acesa de uma vela efémera.
 Para que a memória não se apague, temos que nos dar uns aos outros, como elos de uma corrente ou pedras de uma catedral.

 A necessidade de sobrevivência é o pão da fraternidade.

O futuro é uma construção colectiva.

 António Arnaut, in 'As Noites Afluentes'

E a sua memória não se apagará, porque ele deu-se muito aos outros. Considerado o pai do SISTEMA NACIONAL DE SAÚDE, faleceu hoje este GRANDE SENHOR, aos 82 anos. Para o nosso  país é uma grande perda.



Foi preciso este triste acontecimento para que eu conhecesse este belo texto. Tenho perdido muito, de certeza.

Emília Pinto

sexta-feira, 11 de maio de 2018

MERCY !





"Eu nasci esta manhã / O meu nome é Mercy / No meio do mar / Entre dois países, Mercy":

 são estas as primeiras estrofes de "Mercy", canção vencedora do Destination Eurovision e representante de França no Festival Eurovisão 2018. A protagonista da canção, Mercy, nasceu a 21 de março de 2017, no SOS Méditerranée, um barco de auxílio, que salvou cerca de mil emigrantes ilegais que tentavam atravessar o Mar Mediterrâneo da Líbia para Itália. No barco de emigrantes ilegais estava uma mulher grávida, Taiwa, que entrou em trabalho de parto durante a viagem. Depois do socorro prestado pelo SOS Méditerranée, onde estavam diversos membros dos Médicos Sem Fronteiras, a nigeriana deu à luz Mercy, quando o barco desembarcou em Catania, na Sicília. A história do nascimento da pequena criança foi relatada no Twitter pelo jornalista Grégory Leclerc, que estava no barco de salvamento. Nesse mesmo dia, Emilie Satt e Jean-Karl Lucas estavam em estúdio quando conheceram a história do nascimento de Mercy: "Estavamos à procura de inspiração para uma nova canção baseada em assuntos atuais. Começámos a escrever o texto naquela tarde e terminámos no dia seguinte (...) O texto dizia-nos algo bastante forte. A canção não é moralista nem política: apenas coloca um rosto nos migrantes" afirmou Emilie Satt, vocalista do duo.

 Felizmente, há GENTE muito boa que se preocupa com o drama dos refugiados e é capaz até de trazer para o Festival da Eurovisão uma canção  dedicada a esta menina linda que hoje vive com a mãe num campo de refugiados Para mim, a França é a grande vencedora.

 Emília Pinto

terça-feira, 1 de maio de 2018

MINHA MÃE








Queridos amigos, hoje, dia dos trabalhadores, deixo aqui a minha homenagem a todas as mães que terão o seu dia especial no próximo Domingo. Com certeza acharão estranha esta minha decisão, mas...talvez não, No post de hoje da nossa amiga Olinda,  do XAILE DE SEDA há um belo poema alertando-nos de que " É PRECISO AVISAR ", tendo também no anterior chamado a nossa atenção para o drama dos migrantes que continuam a chegar à costa italiana, fugidos da guerra, da fome e de perseguições políticas. É " Preciso avisar ", é preciso continuar a lembrar que o problema gravíssimo  dessa Gente continua, apesar de já não abrir os telejornais   Eram trabalhadores , homens e mulheres que foram despojados de todos os seus direitos e que agora só querem uma nova oportunidade; são mulheres que, sem medo, atravessam os mares tentando a todo o custo salvar os seus filhos  e, infelizmente, são muitas, muitas crianças que fogem sozinhas depois de terem perdido as suas mães. Graças à nossa amiga Olinda, resolvi que a minha homenagem desta vez seria para esses heróis, para esses trabalhadores e para essas mulheres, trabalhadoras também, mães  guerreiras que colocam sempre em primeiro lugar a vida dos seus filhos.

Para elas é urgente " mais flores, mais flores e, sempre mais flores...."( Xaile de Seda )

Obrigada, Olinda, por nos teres levado a pensar neste drama que parece já completamente esquecido por aqueles que  poderiam, pelo menos, amenizá-lo, se tivessem VONTADE.

Para as minhas amigas deixo um beijinho muito especial e os votos de que tenham um DIA DA MÃE muito feliz. e que assim sejam todos os outros.

Apesar de, só no segundo domingo de Maio se festejar o Dia da Mãe, no Brasil, deixo já para as minhas amigas brasileiras todo o meu carinho e também muitas flores...muitas e muitas flores...sempre

Emília Pinto

sábado, 14 de abril de 2018

TERRA ADUBADA

imagem retirada da net


 Por detrás das árvores não se escondem faunos, não.
 Por detrás das árvores escondem-se os soldados
 com granadas de mão

.
 As árvores são belas com os troncos dourados.
São boas e largas para esconder soldados.

 Não é o vento que rumoreja nas folhas,
 não é o vento, não.
São os corpos dos soldados rastejando no chão.

 O brilho súbito não é do limbo das folhas verdes reluzentes.
 É das lâminas das facas que os soldados apertam entre os dentes.

 As rubras flores vermelhas não são papoilas, não.
 É o sangue dos soldados que está vertido no chão.

 Não são vespas, nem besoiros, nem pássaros a assobiar.
 São os silvos das balas cortando a espessura do ar.

 Depois os lavradores
 rasgarão a terra com a lâmina aguda dos arados,
e a terra dará vinho e pão
e flores adubada com os corpos dos soldados.

 António Gedeão, in 'Linhas de Força'


E assim será sempre!!! O ser humano não desiste do PODER, imfelizmente

Emília Pinto

terça-feira, 3 de abril de 2018

NOBRE PATRIOTISMO....

Imagem- pixabay


 Há em primeiro lugar o nobre patriotismo dos patriotas: esses amam a pátria, não dedicando-lhe estrofes, mas com a serenidade grave e profunda dos corações fortes. Respeitam a tradição, mas o seu esforço vai todo para a nação viva, a que em torno deles trabalha, produz, pensa e sofre: e, deixando para trás as glórias que ganhámos nas Molucas, ocupam-se da pátria contemporânea, cujo coração bate ao mesmo tempo que o seu, procurando perceber-lhe as aspirações, dirigir-lhe as forças, torná-la mais livre, mais forte, mais culta, mais sábia, mais próspera, e por todas estas nobres qualidades elevá-la entre as nações. Nada do que pertence à pátria lhes é estranho: admiram decerto Afonso Henriques, mas não ficam para todo o sempre petrificados nessa admiração;
vão por entre o povo, educando-o e melhorando-o, procurando-lhe mais trabalho e organizando-lhe mais instrução, promovendo sem descanso os dois bens supremos - ciência e justiça. Põem a pátria acima do interesse, da ambição, da gloríola; e se têm por vezes um fanatismo estreito, a sua mesma paixão diviniza-os. Tudo o que é seu o dão à pátria: sacrificam-lhe vida, trabalho, saúde, força, o melhor de si mesmo. Dão-lhe sobretudo o que as nações necessitam mais, e o que só as faz grandes: dão-lhe a verdade. A verdade em tudo, em história, em arte, em política, nos costumes. Não a adulam, não a iludem; não lhe dizem que ela é grande porque tomou Calecute, dizem-lhe que é pequena porque não tem escolas. Gritam-lhe sem cessar a verdade rude e brutal. Gritam-lhe: - «Tu és pobre, trabalha; tu és ignorante, estuda; tu és fraca, arma-te! E quando tiveres trabalhado, estudado e armado, eu, se for necessário, saberei morrer contigo!» Eis o nobre patriotismo dos patriotas.


 Eça de Queirós, in 'Notas Contemporâneas'


Achei fabuloso este texto do nosso Eça de Queiroz e, se queremos ser verdadeiros PATRIOTAS,   deixemos que o " nosso esforço vá todo para a nação viva " e saibamos abraçar a verdade  e todos aqueles que dão o seu melhor para o bem da nossa "Pátria Contemporanêa ".

Emília Pinto

sexta-feira, 23 de março de 2018

O LIVRO




Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombrosos é, indubitavelmente, o livro.
Os outros são extensões do seu corpo. O microscópio e o telescópio são extensões da vista; o telefone é o prolongamento da voz; seguem-se o arado e a espada, extensões do seu braço.
Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação.
Em «César e Cleópatra» de Shaw, quando se fala da biblioteca de Alexandria, diz-se que ela é a memória da humanidade. O livro é isso e também algo mais: a imaginação. Pois o que é o nosso passado senão uma série de sonhos? Que diferença pode haver entre recordar sonhos e recordar o passado? Tal é a função que o livro realiza. (...)
Se lemos um livro antigo, é como se lêssemos todo o tempo que transcorreu até nós desde o dia em que ele foi escrito. Por isso convém manter o culto do livro.
O livro pode estar cheio de coisas erradas, podemos não estar de acordo com as opiniões do autor, mas mesmo assim conserva alguma coisa de sagrado, algo de divino, não para ser objecto de respeito supersticioso, mas para que o abordemos com o desejo de encontrar felicidade, de encontrar sabedoria.


 Jorge Luís Borges, in 'Ensaio: O Livro'


No mês de Março festejou-se o dia da MULHER, o dia do PAI; lembrou-se a POESIA, também a ÁRVORE e a PRIMAVERA começou;  eu pensei: Será que o LIVRO não cabe nestes festejos? Creio que sim!. Então...vamos falar dele?

Emília Pinto

quarta-feira, 14 de março de 2018

CORAÇÃO....





Quero a utopia, quero tudo e mais
Quero a felicidade nos olhos de um pai
Quero a alegria muita gente feliz
Quero que a justiça reine em meu país
Quero a liberdade, quero o vinho e o pão
Quero ser amizade, quero amor, prazer
Quero nossa cidade sempre ensolarada
Os meninos e o povo no poder, eu quero ver São José da Costa Rica, coração civil
Me inspire no meu sonho de amor Brasil
Se o poeta é o que sonha o que vai ser real
Bom sonhar coisas boas que o homem faz

E esperar pelos frutos no quintal
Sem polícia, nem a milícia, nem feitiço, cadê poder ?
Viva a preguiça viva a malícia que só a gente é que sabe ter
Assim dizendo a minha utopia eu vou levando a vida
Eu viver bem melhor

Doido pra ver o meu sonho teimoso,um dia se realizar


Lendo com atenção esta bela letra, pensei em dedicá-la aos meus amigos. Está muito perto o dia 19, dedicado aos pais deste país e o que um pai deseja para os seus filhos aqui, no Brasil ou em qualquer outro canto do mundo é uma sociedade muito melhor do que a que temos hoje.

Um abraço muito especial para os meus amigos e os votos de que eles continuem com a esperança de " ver o seu sonho teimoso, um dia se realizar."

Emília Pinto

domingo, 4 de março de 2018

MOTIVO




 Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço, — não sei, não sei.
Não sei se fico ou passo.
Sei que canto.

E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
mais nada

 Cecília Meireles


  Sei que ainda é cedo, mas, como gosto muito deste poema, aproveito para o dedicar às minhas amigas e também aos amigos que as acompanham. O dia 8 de Março, dia da Mulher foi criado para nos lembrar que há mulheres que nunca veem na vida MOTIVO para sorrir. Pensemos nelas!

Um beijinho

Emília Pinto

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

VAMOS RECORDAR ?




 Viver assim: sem ciúmes, sem saudades,
 Sem amor, sem anseios, sem carinhos.
 Livre de angústias e felicidades,
 Deixando pelo chão rosas e espinhos;

Poder viver em todas as idades;
Poder andar por todos os caminhos;
Indiferente ao bem e às falsidades,
Confundindo chacais e passarinhos;

Passear pela terra, e achar tristonho
Tudo que em torno se vê, nela espalhado;
A vida olhar como através de um sonho;

Chegar onde eu cheguei, subir à altura
Onde agora me encontro - é ter chegado
Aos extremos da Paz e da Ventura!

Antero de Quental in " Sonetos "

Para mim foi mesmo um " RECORDAR ", pois há muito, muito tempo não lia nada da obra deste nosso grande escritor. Espero que gostem!

Emília Pinto

domingo, 11 de fevereiro de 2018

AMIGOS,







E  a todos vós dedico este lindo poema de Aniversário


No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos, E a alegria de todos, e a minha, estava certa como uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família, E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim. Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças
.
Quando vim a.olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo, O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província, O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!... (Nem o acho... ) O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

 O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa, Pondo grelado nas paredes...
 O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
 O que eu sou hoje é terem vendido a casa, É terem morrido todos,
 É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...


No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo! Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal, Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

 Pára, meu coração! Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
 Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
 Hoje já não faço anos. Duro. Somam-se-me dias.
 Serei velho quando o for. Mais nada.
 Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...
 O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

 Álvaro de Campos

....e hoje é tempo de se festejar o dia dos anos  do COMEÇAR DE NOVO; já são nove anos de vida e os amigos continuam presentes, acarinhando-o e incentivando-o a continuar..Para vós vão os PARABÉNS e o meu abraço de grande amizade

Emilia Pinto

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

A VIDA




Ó grandes olhos outomnaes! mysticas luzes!
 Mais tristes do que o amor, solemnes como as cruzes!
Ó olhos pretos! olhos pretos! olhos cor Da capa d'Hamlet, das gangrenas do Senhor!
Ó olhos negros como noites, como poços!
Ó fontes de luar, n'um corpo todo ossos!
Ó puros como o céu! ó tristes como levas De degredados!
Ó Quarta-feira de Trevas!
Vossa luz é maior, que a de trez luas-cheias:
Sois vós que allumiaes os prezos, nas cadeias,
Ó velas do perdão! candeias da desgraça!
Ó grandes olhos outomnaes, cheios de Graça!
Olhos accezos como altares de novena!
Olhos de genio, aonde o Bardo molha a penna!
Ó carvões que accendeis o lume das velhinhas, Lume dos que no mar andam botando as linhas...
Ó pharolim da barra a guiar os navegantes!
Ó pyrilampos a allumiar os caminhantes, Mais os que vão na diligencia pela serra!
Ó Extrema-Uncção final dos que se vão da Terra!
Ó janellas de treva, abertas no teu rosto!
Thuribulos de luar! Luas-cheias d'Agosto! Luas d'Estio! Luas negras de velludo!
Ó luas negras, cujo luar é tudo, tudo Quanto ha de branco: véus de noivas, cal Da ermida, velas do hiate, sol de Portugal, Linho de fiar, leite de nossas mães, mãos juntas Que têm erguidas entre cyrios, as defuntas! Consoladores dos Afílictos!
Ó olhos, Portas Do Céu!Ó olhos sem bulir como agoas-mortas! Olhos ophelicos!
Dois soes, que dão sombrinha... Que são em preto os Olhos Verdes de Joanninha...
Olhos tranquillos e serenos como pias!
Olhos Christãos a orar, a orar Ave Marias Cheias de Luz!
Olhos sem par e sem irmãos, Aos quaes estendo, toda a hora, as frias mâos!
Estrellas do pastor! Olhos silenciozos, E milagrozos, e misericordiozos
Com os teus olhos nunca ha noites sem luar, Mesmo no inverno, com chuva e a relampejar!
Olhos negros! vós sois duas noites fechadas, Ó olhos negros! como o céu das trovoadas...
Mas dize, meu amor! ó Dona de olhos taes! De que te serve ter uns astros sem eguaes?
Olha em redor, poiza os teus olhos! O que ves? O mar a uivar! A espuma verde das marés! Escarros! A traição, o odio, a agonia, a inveja! Toda uma cathedral de lutas, uma igreja A arder entre clarões de coleras! O orgulho Insupportavel tal o meu, e o sol de Julho!
Jezus! Jezus! quantos doentinhos sem botica!
Quantos lares sem lume e quanta gente rica!
Quantos reis em palacio e quanta alma sem ferias!
Quantas torturas! Quantas Londres de mizerias!
Quanta injustiça! quanta dor! quantas desgraças!
Quantos suores sem proveito! quantas taças A trasbordar veneno em espumantes boccas!
Quantos martyrios, ai! quantas cabeças loucas, N'este macomio do Planeta!
E as orfandades! E os vapores no mar, doidos, ás tempestades!
E os defuntos, meu Deus! que o vento traz á praia!
E aquella que não sae por ter uzada a saia! E os que sossobram entre a vaidade e o dever!
E os que têm, amanhã, uma lettra a vencer!
Olha essa procissão que passa: um torturado De Infinito!
Um rapaz que ama sem ser amado, E para ser feliz fez todos os esforços...
Olha as insomnias d'uma noite de remorsos, Como dez annos de prizão maior-cellular!
Olha esse tysico a tossir, á beira-mar...
Olha o bébé que teve Torre de coral
De lindas illuzões, mas que uma aguia, afinal, Devorou, pois, ao vel-a ao longe, avermelhada, Cuidou, ingenua! que era carne ensanguentada!
Quantos são, hoje? Horror! A lembrança das datas... Olha essas rugas que têm certos diplomatas! Olha esse olhar que têm os homens da politica!
Olha um artista a ler, soluçando, uma critica...
Olha esse que não tem talento e o julga ter
E aquelle outro que o tem... mas não sabe escrever!
Olha, acolá, a Estupidez! Olha a Vaidade!
Olha os Afflictos! A Mentira na Verdade!
Olha um filho a espancar o pae que tem cem annos! Olha um moço a chorar seus crueis desenganos! Olha o nome de Deus, cuspido n'um jornal!
Olha aquelle que habita uma Torre de sal,
Muros e andaimes feitos, não de ondas coalhadas, Mas de outras que chorou, de lagrymas salgadas! Olha um velhinho a carregar com a farinha E o filho no arraial, jogando a vermelhinha!
Olha a sair a barra a galera _Gentil_ E a Anna a chorar p'lo João que parte p'ro Brazil!
Olha, acolá, no caes uma outra como chora: É o marido, um ladrão, que vae «p'la barra fóra!»
Olha esta noiva amortalhada, n'um caixão...
Jezus! Jezus! Jezus! o que hi vae de afflicção!
Ó meu amor! é para ver tantos abrolhos, Ó flor sem elles! que tu tens tão lindos olhos!
 Ah! foi para isto que te deu leite a tua ama, Foi para ver, coitada! essa bola de lama
Que pelo espaço vae, leve como a andorinha, A Terra!
Ó meu amor! antes fosses ceguinha...


 António Nobre, in 'Só'


 Este escritor nasceu em 1867 e até aos dias de hoje a nossa Lingua Portuguesa tem sofrido várias transformações continuando a ser uma lingua bela e muito rica; como língua viva que é, muda e evolui, mas...o que dizer do mundo em que vivemos? Como mostra este poema, as desgraças continuam as mesmas.

 Emília Pinto