sexta-feira, 30 de julho de 2021

FÉRIAS

 

Imagem da net


 Hoje, venho falar das férias: é o tempo delas, como se diz que é o tempo das cerejas. Outra árvore dá estes frutos, e a mesma árvore os arranca: os dias as trazem até nós, os dias as levam. Neste escoar se vai o tempo, mas enquanto as férias se aproximam tudo é desejá-las, fazer projectos, embalar ilusões. Chegado o dia, temos diante de nós um espaço vazio à espera, como uma grande sala que é preciso habitar. Que vamos pôr lá dentro?
Há quem passe uns dias na terra, quem se atreva ao estrangeiro, quem conte os escudos para o toldo da praia. Há também quem não saia de casa e fique a ver, todas as horas do dia, a rua onde mora. 
Seja como for, os dias de férias ganham de repente um valor que os outros não tiveram. São dias totalmente disponíveis, à mercê da imaginação e das posses de cada qual. 
O tempo desligou-se da mecânica do relógio, é uma dimensão não delimitada, informe, um pedaço de barro diante das mãos que o vão modelar. As férias são também uma obra de criação. Não espanta, portanto, que no limiar delas um súbito temor nos intimide. Aquele intervalo entre duas representações, aquela clareira rodeada de floresta negra por todos os lados — que iremos nós fazer do barro do tempo?
( parte do texto )

José Saramago, in  Deste mundo e do Outro

Não sei o que o Começar de novo vai fazer, não sei para onde vai. Pedi-lhe que tomasse as devidas precauções que usasse sempre a máscara e não se metesse em confusões. Não quero que volte com a mala cheia de virus. 
Quanto a mim, Amigos, não irei para longe e portanto , sempre que possível, far-vos-ei uma visitinha. Prometi ao Começar de Novo que o deixaria sossegado até Setembro para que possa aproveitar bem as férias

 Deixo a todos vós um abraço e votos de que tenham umas boas férias, especialmente com saúde

Emília Pinto


quarta-feira, 14 de julho de 2021

RETALHOS

 

Imagem pixabay


 Sou feita de retalhos.

 Pedacinhos coloridos de cada vida que passa pela minha e que vou costurando na alma. 
Nem sempre bonitos, nem sempre felizes, mas me acrescentam e me fazem ser quem eu sou. 
Em cada encontro, em cada contato, vou ficando maior... 
Em cada retalho, uma vida, uma lição, um carinho, uma saudade...
Que me tornam mais pessoa, mais humana, mais completa. 
 
E penso que é assim mesmo que a vida se faz: 
de pedaços de outras gentes que vão se tornando parte da gente também. 
E a melhor parte é que nunca estaremos prontos, finalizados... 
Haverá sempre um retalho novo para adicionar a alma. 

Portanto, obrigada a cada um de vocês, que fazem parte da minha vida e que me permitem engrandecer
minha história com os retalhos deixados em mim. 
Que eu também possa deixar pedacinhos de mim pelos caminhos e que eles possam ser parte das suas
histórias. 
E que assim, de retalho em retalho, possamos nos tornar, um dia, um imenso bordado de "nós"


 Cris Pizzimenti


Este poema é muitas vezes atribuído a Cora Coralina., mas, parece que é desta autora.  Seja de quem for, gostei muito dele  e pareceu- me ser uma continuação das palavras de Rubem  Alves, na minha publicação anterior. Afinal, se deixarmos em nós, um " pedacinho " vazio para escutar o outro, vamos  a cada encontro, a cada contato ficando maiores "


Emília Pinto