Está gente a morrer agora mesmo em qualquer lado
Está gente a morrer e nós também
Está gente a despedir-se sem saber que para Sempre
Este som já passou Este gesto também
Ninguém se banha duas vezes no mesmo instante Tu próprio te despedes de ti próprio Não és o mesmo que escreveu o verso atrás
Já estás diferente neste verso e vais com ele
Os amantes agarram-se desesperadamente
Eis como se beijam e mordem e por vezes choram
Mais do que ninguém eles sabem que estão a [despedir-se
A Terra gira e nós também
A Terra morre e nós Também
Não é possível parar o turbilhão Há um ciclone invisível em cada instante Os pássaros voam sobre a própria despedida As folhas vão-se e nós Também
Não é vento
É movimento fluir do tempo amor e morte
Agora mesmo e para todo o sempre
Amen...
Manuel Alegre, in "Chegar Aqui" //
Manuel Alegre de Melo Duarte nasceu a 12 de Maio de 1936 em Águeda. Estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde foi um activo dirigente estudantil. Apoiou a candidatura do General Humberto Delgado. Foi fundador do CITAC – Centro de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra, membro do TEUC – Teatro de Estudantes da Universidade de Coimbra, campeão nacional de natação e atleta internacional da Associação Académica de Coimbra. Dirigiu o jornal A Briosa, foi redactor da revista Vértice e colaborador de Via Latina.
A sua tomada de posição sobre a ditadura e a guerra colonial levam o regime de Salazar a chamá-lo para o serviço militar em 1961, sendo colocado nos Açores, onde tenta uma ocupação da ilha de S. Miguel, com Melo Antunes. Em 1962 é mobilizado para Angola, onde dirige uma tentativa pioneira de revolta militar. É preso pela PIDE em Luanda, em 1963, durante 6 meses. Na cadeia conhece escritores angolanos como Luandino Vieira, António Jacinto e António Cardoso. Colocado com residência fixa em Coimbra, acaba por passar à clandestinidade e sair para o exílio em 1964.
Passa dez anos exilado em Argel, onde é dirigente da Frente Patriótica de Libertação Nacional. Aos microfones da emissora A Voz da Liberdade, a sua voz converte-se num símbolo de resistência e liberdade. Entretanto, os seus dois primeiros livros, Praça da Canção(1965) e O Canto e as Armas (1967) são apreendidos pela censura, mas passam de mão em mão em cópias clandestinas, manuscritas ou dactilografadas. Poemas seus, cantados, entre outros, por Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire e Luís Cília, tornam-se emblemáticos da luta pela liberdade. Regressa finalmente a Portugal em 2 de Maio de 1974, dias após o 25 de Abril.
O Prémio Vida Literária 2015/1016 é entregue no dia 25 de Abril, ao escritor Manuel Alegre, em Lisboa pela Associação Portuguesa de Escritores (APE), que instituiu o galardão.
Acho que foi em data oportuna visto que Manuel Alegre muito lutou para que a ditadura acabasse.
Emília Pinto
Tudo se move até o vento
ResponderEliminarTudo se move e nesse movimento vamos nós. Como costumo dizer, a cada instante, a cada segundo, há um começar de novo, novo e diferente. Acabei agora de te responder e já fiz uma despedida, pelo menos até ao próprio instante. Um beijinho e muito obrigada pela visita
EliminarEmilia
OI EMILIA!
ResponderEliminarQUE COISA LINDA E VERDADEIRA, APÓS UMA PALAVRA ESCRITA OU MESMO PRONUNCIADA, JÁ NÃO SOMOS OS MESMOS, É INCRÍVEL ISSO, MAS DE UMA VERACIDADE QUE NOS SACODE.
UMA HOMENAGEM QUE PRESTAS A ESTE PERSONAGEM QUE FOI IMPORTANTE DURANTE A DITADURA, LUTOU DE TODAS AS FORMAS QUE PODE.
GRATA EMÍLIA POR TUA SOLIDARIEDADE COM OS ACONTECIMENTOS AQUI DO BRASIL, O POVO ESTÁ ATENTO E AS REDES SOCIAIS TEM SIDO UMA GRANDE ARMA PARA EXTERIORIZARMOS NOSSA INDIGNAÇÃO.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Que lindo comentário digo eu, Zilani. Muito obrigada, querida amiga! Também o povo brasileiro está a lutar com toda a força que tem e de uma maneira muito civilazada, sem violência e destruição de bens públicos. Há - de sair dessa o nosso querido Brasil. Tudo de bom e até breve. Um beijinho
EliminarEmilia
Gosto muito da poesia do Manuel Alegre e acho que já era tempo desta homenagem.
ResponderEliminarAmiga, se puder passe pelo Sexta hoje.
Abraço
Nao conhecia nada da obra de Manuel Alegre, mas, quando soube da entrega do prémio , pensei em homenageá-lo e, parece que isso agradou. Também para mim foi uma decisão boa, pois assim conheço a obra dele. Claro que já fui ao Sexta e ainda bem, porque não podia deixar de dar os parabéns ao amigo de longa data do Começar de Novo. Obrigada, querida amiga e muita saúde e alegria para ti e os teus. Beijinhos
EliminarEmilia
Não conhecia, estou a gostar muito do que tenho lido da poesia de Manuel Alegre. Obrigada pela partilha aqui.
ResponderEliminarum beijinho
Gábi
Não conhecia, estou a gostar muito do que tenho lido da poesia de Manuel Alegre. Obrigada pela partilha aqui.
ResponderEliminarum beijinho
Gábi
Obrigada, Gabi, por teres voltado ao Começar de Novo e gostaria de te ver cá sempre. Como disse acima não conhecia nada da obra de Manuel Alegre e a agora já me informei sobre a sua poesia.e com certeza não será este o único post sobre ele. Beijinhos e até breve.
EliminarEmilia
"Há um ciclone invisível em cada instante"... Pode ser. O minuto que passou, não voltará jamais e não há como mudar isso. É a vida.
ResponderEliminarBela homenagem ao Manuel Alegre.
Grande Abraço, Emília!
Não sei se é ciclone, só sei é que é uma grande realidade e nem sempre boa. Mas a vida é quem manda e há que aceitar, de preferência com alegria e agradecendo esse instante que nos dá. Pode ser que não tenhamos um outro. Beijinhos, Shirley e muito obrigada pela visita
EliminarEmilia
Agora mesmo, o Mundo está diferente....Em qualquer lugar, há milhares de pormenores que transformam a vida de alguém e não sabemos como, porquê...
ResponderEliminarObrigada pela partilha...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta
Olá Marta. Tudo muda, tudo se transforma e era bom que tivessemos sempre isso em mente para que mudassemos as nossas mentalidades. Dar o verdadeiro valor ao instante que estamos a viver, vivendo-o com sensatez, tendo sempre em conta o outro. Um beijinho, amiga e obrigada pelo carinho
EliminarEmilia
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarÁmen !
ResponderEliminarÓptima escolha . Conheço alguns poemas de Manuel Alegre, e gosto de todos , porém o meu preferido é " Trova do Vento que Passa " .
Beijo grande , Emília , e bom fim de semana ,
Maria
Olá Maria. Fico contente que tenhas gostado. Como disse sou " uma ignorante " no que se refere à escrita de Manuel Alegre, mas há sempre tempo para aprender e é isso que vou fazer, continuando o aprendizado com esse poema que indicaste. Obrigada, amiga e um bom fim de semana. Beijinhos
EliminarEmilia
Também eu pouco conheço da obra de Manuel Alegre.
ResponderEliminarNo mundo que vivemos tudo muda ao segundo...e para pior.
Beijinhos.
Lisa
Principalmente para nós, no que respeita à idade as coisas mudam para pior;" as peças " vão ficando gastas, outras a terem que ser substituidas e assim a velhice vai aparecendo. Como diz Manuel Alegre vamos fazendo a cada instante uma despedida e isso é uma realidade que não agrada se pensarmos muito nisso. Mas o melhor, Lisa é não pensarmos nisso e irmos vivendo um dia de cada vez. Obrigada, Lisa e um bom fim de semana. Beijinhos
EliminarEmilia
A voracidade do tempo e a finitude muito bem retratadas neste belo poema de Manuel Alegre.
ResponderEliminarUm beijinho, Emília
Que bom vê-la por aqui, amiga. Espero que tenha gostado do meu começar de novo e que volte mais vezes. Confesso que conheço muito pouco da obra deste escritor, mas não é tarde para o conhecer e é isso que farei. O problema maior do ser humano é esquecer-se da sua finitude; se tivesse essa consciência, com certeza teria uma mentalidade diferente em relação a tudo o que o rodeia. Muito obrigada pela visita e desejo-lhe um bom fim de semana. Um beijinho.
EliminarEmilia
ResponderEliminarEmília,
Tudo passa, inclusive nós mesmos. A cada passo nos aproximamos mais da despedida final.
"...os pássaros voam sobre a própria despedida"
É triste a partida de quem nos é próximo, lamento a sua e de seu pai e, nada do que disser atenuará a dor, correndo eu o risco de até realçá-la.
Este poema é de uma beleza inegável. A poesia triste, que traz em si a dor e a melancolia, é de uma beleza ímpar.
bj amg
Uma verdade que nos custa a aceitar, mas que é assim e é bom que nos convençamos disso para assim aproveitarmos o tempo com mais sabedoria. Sabes Carmem, como te deves lembrar o meu pai teve o terceiro AVC quando eu estive no Brasil e ficou bastante incapacitado, muitas vezes não conhecendo as pessoas da familia. Fiquei estupefacta quando o ouvi, numa gravação pelo wattapp a dizer com muita clareza: " nem quero actreditar que o meu amigo tenha morrido dessa maneira " Isto espantou- me, pois é raro ele conseguir construir uma frase completa. Mas a amizade, quando é grande e sincera, consegue pequenos milagres e aqui está a prova. Agradeço o-te muito a tua preocupação e palavras carinhosas e a pena que tenho é de não ter podido consolar o meu pai; tenho lá o meu irmão que foi quem lhe deu a noticia e com certeza ele teve o aopio necessário. Um bom fim de semana, querida amiga. Um beijinho e obrigada.
EliminarEmilia
Tudo passa. E o que passa não volta. Porque aquilo que nos parece que volta não é o mesmo que passou, é outro tempo, são outros gestos, são outras folhas, é outro vento…
ResponderEliminarConheci Manuel Alegre há muitos anos, mas “apaixonei-me” pela sua escrita através dum livro delicioso, que ADOREI, que se chama “Cão como nós”. Se não leste aconselho-te vivamente.
Concordo com a Maria – LilasdaVioleta – o poema "Trova do tempo que passa" é um dos mais bonitos, se não o mais bonito que ele escreveu.
Linda e merecida homenagem a que aqui lhe prestas.
Gostei MUITO do teu comentário na minha "CASA". Obrigada, querida amiga!
Desejo que tenhas um muito feliz DIA DA MÃE.
Bom Fim-de-semana
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Muito se aprende com os blogs, Mariazita. Já fui ver esse poema e é , sim, muito bonito . Quanto ao livro irei lé-lo com toda a certeza. Está a chegar a época em que leio muito; não gosto de praia e por isso costumo sentar-me numa esplanada a ler e já tenho o teu à espera. Querida amiga, muito obrigada pelas palavras sempre carinhosas e desejo-te uma bela semana; de novo uma segunda feira, mas de certeza diferente e mais uma despedida que fazemos. Um beijinho
EliminarEmilia
Em dia da Mãe, passei apenas para deixar um abraço e desejar um feliz dia.
ResponderEliminarMuito obrigada, querida Elvira. Foi um bom dia, porque tive aquilo que quis, os meus filhos e netos comigo. Só me faltou a minha mãe que, como sabes, vive no Brasil. Espero que tenhas tido também um dia alegre e que assim sejam todos os outros dias. Beijinhos e uma boa semana.
EliminarEmilia
Tempo e dia de mãe . Ele passa , não se repete mas mãe fica . Mas apesar de se saber que nada permanece , só tarde quando as folhas não têm o mesmo viço é que este sentimento de fragilidade bate mais insistentemente a porta .
ResponderEliminarLindo poema , Emília
Parabéns , mãe
Bji
É verdade, Manuela, só " quando as folhas não têm o mesmo viço " é que nos damos conta de que a cada instante estamos a fazer uma despedida e que virá o instante em que ela será definitiva. Custa, mas é essa a única certeza que temos na vida e há que aceitar. Obrigada, querida amiga. Beijinhos e uma boa semana
EliminarEmilia
a
Boa escolha!
ResponderEliminarFez-me lembrar "Ao Mesmo Tempo" de Susan Sontag, de que já falei num dos meus blogues.
Minha linda, bom Dia do Trabalho!
Como disse acima, os blogs ensinam-nos muito e aqui está um assunto que tenho de pesquisar, o teu " Ao mesmo Tempo ". Irei fazê-lo com toda a certeza, São. Muito obrigada pela visita e desejo-te uma boa semana. Beijinhos
EliminarMila
Olá Emília!
ResponderEliminarNão lembro de já ter lido algo dele, mas gostei do que li aqui, por isso vou procurar conhecer um pouco mais da sua obra.
Somos seres em constante mudança, interna e externa. A morte faz parte dessa mudança, acredito que mudamos de casa e de forma.
Gosto de dizer às pessoas o quanto são importantes pra mim, principalmente aos filhos e netos, porque não sabemos o instante seguinte. Mas enquanto estamos por aqui, aproveitemos a vida, que nos dá oportunidades abençoadas de recomeços, convívios, amores.
Obrigada por seu lindo comentário no mulheres.
Grande abraço,
Sônia.
Antes de mais, quero agradecer a sua nova visita ao Começar de Novoe o seu belo comentário. Embora conheça bem Manuel Alegre pelos meios de comunicação e pela importância que teve no fim da ditadura, a obra dele, tenho de confessar, é completamente desconhecida para mim. Mas, como sempre digo, os blogs são um meio muito importante de enriquecimento pessoal e assim irei também conhecê-lo melhor. A morte é a unica certeza que a vida nos dá, mas é muito dificil aceitá-la. Vemos todos os dias pessoas a enfrentarem essa certeza e o nosso coração aperta com o medo de que esse instante nos bata à porta, mas é bom que nos convençamos de que o momento chegarå. Sonia, mais uma vez obrigada pelo carinho e volta sempre. Vai preparando o cafezinho porque estou chegando aí para uma visita. Beijinhos e até...
EliminarEmilia
Realmente Emilia, como em sua resposta as "mulheres 4 estações"concordo plenamente que "os blogs são um meio muito importante de enriquecimento pessoal" Hoje aprendi sobre mais um autor. O Poema é belíssimo. Falar sobre a morte é um assunto que as vezes evitamos, mas devemos aceitar que é o unico tema de que podemos ter certeza nessa vida, ou seja que um dia morreremos. Por isso temos que aproveitar cada minuto da vida e vivê-la plenamente, esbanjando e distribuindo sorrisos, delicadezas, autruismo, sinceriade, carinho e amor a todos os que nos rodeiam.
ResponderEliminaruM grande abraço.
Há muito tempo que não a via por aqui e a sua vinda deixou-me contente. Lourdinha, com certeza conhece uma música de Gilberto Gil que diz: " não tenho medo da morte, tenho sim medo de morrer " Pensando bem é disso que temos medo; se a morte chegasse, leve, sereninha e nos carregasse nas suas asas para o outro lado não nos assustaria; o problema é o sabermos que vamos morrer e que, quanto mais nos aproximamos do fim, pela idade, mais assustados ficamos, porque sabemos que esse caminhar para a morte é doloroso e o final é na maioria das vezes uma tortura, Tornamo-nos autênticos bebés acabados de nascer só que, neste caso há uma imensa alegria e no outro uma dor tremenda para o próprio e para todos os que estão à sua volta. Mas não podemos pensar nisso, amiga! Temos que viver plenamente um dia de cada vez " esbanjando e distribuindo sorrisos, delicadezas, carinho e amor a todos os que nos rodeiam. Obrigada pelo comentário lindo e daqui te envio o meu carinho e o meu melhor sorriso; junto vai um grande abraço.
EliminarEmilia
Oi, Emília, não conhecia esse poeta, que lindo, quanta verdade dita, sim, dura de ouvir, mas é a vida que se vai a cada minuto e que leva consigo sonhos, ilusões, vidas humanas, fauna, flora. Tudo, um dia, será morte. E aí penso se vale a pena tanto desperdício de energia por tão pouco tempo. Estamos dando finalidade errada, não sabemos viver e nunca aprenderemos. Não sei como não temos na cabeça que a vida é breve, deveria ser vivida de outra maneira. E tanta coisa errada que chega a ser ironia o tempo que gastamos inutilmente.
ResponderEliminarBeijos, amiga.
(gostei muito do seu comentário deixado... penso igual, muito já doei).
Obrigada, querida Tais. É muito dificil convencermo-nos de que um dia, tudo acabará e tudo deixaremos. Com o passar do tempo começamos a aprender, mas penso que às vezes ja é tarde demais. O pior é que, depois de termos aprendido, não somos capazes de incentivar os nossos filhos a valorizar mais a essência, e eles lá seguem a sua vida fazendo as mesmas asneiras e dando mais valor ao que menos interessa, Não é esquisito, amiga? Penso que é!!! Fica bem, qierida amiga e boa noite. Um beijinho
ResponderEliminarEmilia