quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A HISTORIA DE HONORINA, A GANSINHA QUE NÃO QUERIA IR PARA A ESCOLA GRANDE

(tirado da net)
Numa pequena aldeia de província chamada Guardagansos, vivia uma gansinha que, por estes dias, apresentava um ar bem pálido. As asas de Honorina tremiam e a gansinha tropeçava nas suas grandes patas. E, contudo, nem sequer era a época da caça. Nessas alturas, muitos gansos ficavam doentes de pura inquietação. A mãe colocou o termómetro debaixo da asa da filha, como fazem todos os gansos quando querem saber se têm febre.
─ Não tens temperatura ─ anunciou. ─ Tanto melhor.
Por precaução, chamaram o Dr. Campo, o médico da capoeira. Este chegou de bicicleta, vestido com um smoking, e trazia um charuto ao canto do bico. Era a sua indumentária habitual:
─ Não vejo faringite, nem laringite, nem otite, nem apendicite, nem sinusite, nem dinamite ─ concluiu, após uma breve observação da doente.
Tirou o livro de receitas do casaco, pegou numa pluma das suas e molhou-a no seu tinteiro. Escreveu: doze bombons de morango por dia, um chocolate quente (com muitas natas), e uma fatia de bolo de castanhas.
─ Porquê bolo gelado de castanhas? ─ interrogou-se a Mãe Gansa, que se espantava sempre com as receitas do Dr. Campo.
─ Porque é delicioso e, neste momento, a sua filha precisa de mimos ─ respondeu o desconcertante médico.
E sussurrou ao ouvido da mãe:
─ Sei perfeitamente qual é a doença da Honorina. Tem dores de escola!
─ Dores de escola? ─ espantou-se a mãe.
Com o seu dedo patudo, o médico indicou na sua agenda a data do primeiro dia de aulas. A mãe sorriu, cúmplice. O extravagante médico tinha razão. Honorina tinha pavor de ir para a Escola Grande.
Desde o início das férias que a mãe lhe dizia:
─ Atenção, Honorina! Vais entrar para a Escola Grande. Na Escola Grande, acabaram-se os brinquedos, o trenó, as bonecas, as casinhas, os bombons, os aniversários. É uma escola a sério!
Quantas vezes tinha a gansinha ouvido já esta expressão “É uma escola a sério!”? Todos lhe diziam que agora era crescida: a tia, a avó, a padeira… E Honorina perguntava-se o que se faria de tão sério assim naquela escola.
─ Talvez tenhamos de fazer o pino. Talvez tenhamos que pintar com as nossas próprias plumas. Talvez tenhamos que conhecer todas as plumas da capoeira. Ou contar milhares de grãos. E talvez nos enfiem num quarto escuro em vez de nos deixarem ir ao recreio e nos depenem como se fôssemos galinhas vulgares…
Está-se mesmo a ver que Honorina tinha uma imaginação muito fértil… O que é normal quando nos sentimos inquietos. Morria de medo só de pensar em todas aquelas hipóteses. Não se costumava dizer “Burra como uma gansa”? Talvez se rissem dela na turma, caso dissesse uma asneira tão grande como ela. E se lá só houvesse perus, pavões, e uma professora galinha insolente, que cacarejaria com má cara e distribuísse bicadas a torto e a direito? Quando Honorina fechava os olhos, via uma casa enorme, enormíssima, com paredes brancas e frias como um hospital. E via-se perdida, no meio daquilo tudo…
Quando a pequena gansa estava a pensar nisto tudo, a mãe entrou no quarto com uma chávena de chocolate quente e uma fatia de bolo de castanhas. Sentou-se e, enquanto acariciava a testa da filhinha, abanava a cabeça. Não sabia como a sossegar. Ela própria não se sentia sossegada. Tinha a impressão de que a sua menina tinha crescido depressa demais, e de que não precisava tanto da mãe. Vê só como se metem ideias falsas na cabeça das pessoas! É que a Honorina achava que a mãe queria ver-se livre dela!
Perguntou à mãe, num fiozinho de voz:
─ Mamã, quando eu for para a Escola Grande, vais estar sempre por perto para me fazeres um chocolate quente? E haverá lá alguém para me ajudar, quando eu me sentir perdida?
A mãe pôs a asa em volta da filha. Os olhos brilhavam-lhe:
─ Honorina, não te apoquentes. Eu vou estar lá contigo, sentada num cantinho da tua secretária.
E murmurou outras coisas ao ouvido da filha, coisas que só as mães sabem dizer às filhas. Histórias que falam de uma criança que cresceu, mas que ainda é criança.
Honorina sorriu. Sentia-se muito melhor. Seria o efeito do chocolate quente, do bolo, ou das palavras açucaradas da mãe? Os seus olhos pestanejaram. Sentia-se tão segura agora que adormeceu debaixo da asa da mãe.
É tão bom, às vezes, ainda ser pequeno …


Sophie Carquain

24 comentários:

  1. Precisamos das nssas mães...precisamos de ser mães...precisamos de ser avós também. às vezes não é nada fácil....Ainda gora a minha mãe regressou ao Brasil e já sinto falta dela. Bonita história, Hermínai. Um beijinho
    Em´lia

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    1. Quando se pensa na partida ,já se sente saudades, quem estar a par, sempre dá a consolação, o que é agradecido, mas mesmo assim , são palavras vãs, quase sem sentido,são as tais pedras com que esbarramos e tentamos contornar.
      Bem , agora mais livre, espero por si.
      Até breve
      ~Herminia

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  2. Dei uma "recuada" nas postagens,ouvindo Paulo Carvalho em "Mãe Negra",lindo,,, recordando Gonçalves Dias na "Canção do Exílio", tão
    recitada nas escolas brasileiras e venho me deliciar com esta gancinha que representa todos nós, na saída da meninice, sem querer sair das "asas maternas". Amamos a todos da família mas, a mãe, está acima de todos, é inegável...

    Um forte abraço, Emília,
    da Lúcia

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    1. O Nosse blogue é o nosso retrato, somos como já disse autênticas, transmitimos o que nos vai na alma.
      Gostei da história que escolhi, muito se aprende com ela, fatos reais no nosso dia a dia.~
      Volte sempre a esperamos.
      Até breve
      Herminia

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  3. Um doce, esta história.
    Sou bem ler, ainda mais nestes dias de tantas más notícias.

    Beijinhos

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    1. Tem razão, neste Potugal conturbado,a história apela-nos ao amor, coisa que parece crer desaparecer, infelismente até os pais começam a estarem tão preocupados , com a sobreviv~encia dos filhos, que os pequenos promenores começam a falhar, esses que são por vezes pilares ,estrutura so ser humano.
      Até breve e volte
      Herminia

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  4. Uma histórinha para nos abrir os olhos.
    Policiar nossas palavras para não traumatizar a criança, as vezes só um especialista para ajudar!
    celle

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  5. Refleti, mesmo, sem querer, estamos a crear "papões", é que nem damos por ela , vão aparecendo os medos, que na realidade têm a sua base.
    Gostei ,já a li mais do que uma vez, era bom que as mães e avós passassem por aqui, porque sempre levavam alguma coisa consigo.
    Até breve e volte.
    Herminia

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  6. Hermínia, minha amiga
    Muiro obrigada pelo seu abraço, que me aqueceu interiormente.
    Que bom sentir o carinho dos que nos rodeiam! (mesmo que só virtualmente).

    Já passaram mais de três meses, mas a dor continua muito viva.
    No entanto, vou-me esforçando todos os dias para ver se consigo uma "pretensa" normalidade dentro da triste realidade actual.
    Nesse sentido decidi recomeçar a escrever o meu livro, e, como treino de escrita, compus um texto que publicarei amanhã, dia 14.
    Se quiser... apareça por lá.

    Um beijinho muito grato

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  7. Lendo a tua história tão real, revivi os anos em que leccionei (nomeadamente o 1-º ano) e "vi" as carinhas ansiosas dos pequenitos/as e a das mães!

    Era um dia lindo! O amor e protecção de mãe!

    Beijos.

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    1. Esta história leva-nos realmente ao passado , que se prolonga pelo hoje.
      Parece-me estar com sete anos e ver aquela escola, que vejo , quando vou a S.Pedro do Sul, era uma vontade, mas ao mesmo tempo instalava-se o medo!
      Nos dias de hoje esta historia ainda ensina muito, pois existe ainda quem amedronte as crianças.
      Do infantário para a Escola é um passo muito grande,daí compreendê-los a dar-lhes o máximo de amor e confiança.
      Tenho passado pelo seu blogue para ver as bonitas paisagens que nos deixa, leio o seu pai"mermurios e belezas", mas como já tenho dito, não consigo entrar para deixar uma mensagem, mas mesmo assim saiba, que passo por lá, para ver as suas lindas fotos! e no principio de cada mês não deixo de ler o seu pai, ao qual deixo os meuas parabéns.
      Até breve
      Herminia

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  8. Emília, querida amiga
    Obrigada pelas tuas palavras, sempre tão gentis e… aconchegantes.

    Pelos vistos, as nossas Mães tinham afinidades, pelo menos no que respeita a animais de estimação. Achei imensa graça à particularidade do nome Luisa, ou Luis.
    Uma cunhada minha contou-me que quando mudou para a casa onde hoje vive ouvia todos os dias, ao entardecer, uma vizinha chamar, da janela: Pedrinho! Pedrinho! E ela (minha cunhada) pensava: esse menino Pedrinho é safadinho… a estas horas ainda na rua…
    Qual não é o seu espanto quando descobriu que o Pedrinho era uma gato!
    Eu acho engraçado porem-se nomes de pessoas aos animais. Alguns são melhores do que pessoas…

    Obrigada pela força quanto ao meu livro. Tenho que arranjar coragem e “atirar-me” a ele.

    Um óptimo fim de semana.
    Beijinhos

    Hermínia, amiga
    Adorei esta história (gosto muito deste tipo de histórias, lendas...tudo que "fuja" à realidade).
    É bem verdade que todos nós precisamos SEMPRE da "asa" da Mãe, e, quando esta já não está disponível no mundo físico... também sabe bem um ombro amigo.
    Parabéns pela postagem.

    Bom fim de semana. Beijinhos

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    1. Amiga, obrigada por ter vindo, sempre dá uma saidinha o que neste momento lhe faz tão bem.
      Toca a trabalhar nesse livro, que é o seu pilar neste momento, embre nhada nele o tempo passa quase sem dar pelas horas, e logo logo ´somos nós a deleitarmo-nos com a sua escrita, por isso nada de "malandragem", o caminho é sempre enfrente.
      Até breve
      Herminia

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  9. Minha Querida
    Que história maravilhosa e com uma grande lição! Vou levá-la, se me permites, para os meus meninos da catequese que já recomeça no último sábado deste mês. Os mais pequeninos vão adorar!
    Que saudades tenho eu das "asas" da minha mãe...ás vezes bastava-me só a sua presença!!
    Um beijo carinhoso e um fim de semana feliz.
    Graça

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    1. Amiga Graça, as crianças são o nosso jardim, onde não crescem ervas daninhas,diversas flores todas cheirosinhas, e cada uma na sua cor, é uma linda mistura.
      Fico todos os dias encantada quando vou buscar a minha neta ao infantário,parece-me que todas elas me conhecem, (mas não), grande partes estão à espera dos seus avós, que vão buscar para almoçar,tanta inocência, tanto sorriso lindo.
      A minha este ano começa com catequese,claro que estou ansiosa pelo dia.
      Tudo de bom e ´obrigado,espero um dia encontrarmo-nos.
      Herminia

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  10. Que história linda, Hermínia!
    Amo umas asas que ficaram velhinhas de tanto serem usadas... No entanto, continuam a ser as mais aconchegantes do mundo!
    Bem-haja, amiga por partilhar...
    Um grande beijinho para um Grande Coração de Avó e para o seu Pequeno Grande Jardim :) que o Sol vos sorria sempre com amor e coisas boas BFS

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    1. Obrigada pelo comentário.O coração de mãe é grande e o de avó é ainda maior, alberga duas gerações
      Não pedem, nós damos sem disso darmos conta, são as tais asas que esticam até não poderem mais.
      São doçuras que não têm receita!
      Até breve
      Herminia

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  11. Linda história,

    como gostaria hoje de estar debaixo das asas de minha mãe.


    abraços, sonia.

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    1. É sonia, também gostaria, sente-se a falta fisica, mas sei que está por aí sempre a espreitar ,dá conmfiança e esperança.
      Até breve e obrigada
      Herminia

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  12. Herminia, querida
    Hoje estou passando para trazer um abraço de agradecimento pelas suas lindas plavras. Obrigada!

    Uma semana feliz. Beijinhos

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    1. Tudo o que é feito com sentimento,. não tem agradecimento.Nada é feito de cor, nem de imitação ,daí a lembrança será sempre a sua companheira.
      Até breve
      Herminia

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  13. Minha querida

    Mesmo gastas e quebradas as asas de mãe são sempre o aconchego nos abriga das tempestades da vida...e mesmo quando se vão a sua lembrança nos adoça a dor.
    Quero também agradecer as palavras lindas que me deixaste pelo aniversário do meu blogue...e a tua amizade é para mim muito importante, gosto da tua maneira de ser, que se sente no que escreves.

    Um beijinho com carinho
    Sonhadora

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    1. Muito obrigada pelo carinho, Rosa! Foi com grande prazer que participei da festa de aniversário do teu blog, pois já me sinto fazendo pare dele, assim como tu já és da família do Começar de Novo. E assim se vão construindo belas amizades através da palavra. Um beijinho, amiga e até breve!
      Emília

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