sexta-feira, 6 de agosto de 2010

INTERESSA-ME....


".... a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família. Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.

Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.


E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente."


Parte de um texto de:

Pedro Afonso
Médico psiquiatra

Gostei deste artigo! Penso que é preocupante a saúde mental não só dos portugueses mas também a de todos os cidadãos do mundo inteiro.
Emília Pinto

16 comentários:

  1. Ufa cheguei. Outro dia bati na porta e ninguém respondeu. Agora que Mila me falou que é aqui mesmo, já me sinto em casa. Brasileiro é muito abusado mesmo.
    Sabe Mila, este é um problema mundial mesmo. O progresso, a TV, a liberdade excessiva...parece que tudo mudou mesmo. Já estamos lá no poço. A esperaná é que a mola nos faça subir mais conscientes.
    Hoje é domingo, dia dos pais. Desejo a todos o bem mais precioso do mundo: saúde!
    Eu, por aqui, rezo e luto por um pequeno milagre.
    Nem me atrevo a pedir um grande.
    beijos.

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  2. O que interessa é que chegou, Eliane e que venha com frequência. Adoro o dito" abuso" dos brasileiros, abuso esse que me deliciou nos 14 anos que com eles vivi. Eu continuo com esperança de que o ser humano acorde a tempo e as coisas mudem. Sabe, aqui o dia dos pais é no dia 19 de Março dia de S.José e isso fez com que me esquecesse de dar os parabéns ao meu pai que mora no Brasil com o meu irmão. Ele não vai nem ligar, pois já sabe que me confundi. A saúde é um bem incalculável e muitas vezes só quando a perdemos é que nos apercebemos disso. Eu sinto que vai conseguir o seu pequeno milagre, pois é lutadora e não vai desistir; isso é fundamental para que consigamos os nossos milagres. Tenha fé que tudo se vai resolver. Um beijinho carregadinho de pensamentos positivos e muito obrigada pela visita
    Mila

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  3. Olá meninas como vão? É este texto é muito bom!
    Nos faz refletir, sobre tantas coisas imediatistas nestes novos tempos.
    Abraços apertados, hoje aqui no Brasil-São Paulo faz um dia cinzento, sem sol e um pouco frio.

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  4. Olá Emília,

    Excelente documento que deixa bem clara a situação de desigualdade, cada vez mais nítida na sociedade em que vivemos. Saem vitoriosos e impunes aqueles que nada fazem e entram em depressão os que por incúria dos seus governantes, dos administradores das empresas onde trabalhavam, lutam no desespero para sobreviver.

    É urgente que isto mude mas para isso é também urgente haja coragem para eliminar a corja de parasitas que vivem à custa do trabalho e do sofrimento alheio.

    Beijos com ternura
    Margarida

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  5. Olá Ro. A nossa sociedade precisa de mudar e cada um de nós tem de fazer a sua parte. Corre-se demais atrás de dinheiro e depois gasta-se esse dinheiro a tratar da saúde mental, pois não há quem aguente o stress causado por tamanha correria. Não há qualidade de vida nos tempos de hoje, pois não se pára um pouquinho sequer para se curtir as coisas belas do dia a dia. Um beijinho e obrigada pela visita.
    Mila

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  6. Tens razão, Margarida!É uma vergonha o que ganham certos gestores públicos; salários fabulosos que levam o dinheiro das empresas, culpando-se depois os salários dos trabalhadores como responsáveis pela situação económica precária do nosso país. Tira-se sempre a quem mais trabalha e menos ganha.A situação está má mas só para aqueles que pouco têm e que vivem com o medo constante de perderem o emprego. Para os que estão lá em cima não há crise nenhuma e os ferraris, mercedes e audis continuam a vender muito. É triste, amiga, mas é a pura realidade. Um beijinho e obrigada pela visita
    Emília

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  7. Bom dia Meninas!! Estava com saudades de vocês...andei ausente do blog, mas agora estou de volta...


    Grande Beijo!

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  8. Com certeza esse é o quadro que se apresenta no MUNDO...........e cá do outro lado do oceano,tb me preocupa.

    afagos preocupados

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  9. Também já estava com saudades, Simone! Agora continuaremos as nossas visistas. Um beijinho e até breve!
    Emília

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  10. Pois é, Denise, o mundo todo está sofrendo do mesmo mal e não vejo grandes sinais de mudança. Mas temos que manter as esperanças, não é verdade? Um beijinho e vamos lá continuando a fazer a nossa parte. Obrigada pela visita.
    Emília

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  11. Olá

    Um texto real.

    A crise mental é consequência da crise económica que atravessamos,que leva à desestruturação das famílias.

    Bjs.

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  12. Olá!

    Muito interessante este post.
    Faz mesmo falta que se mudem mentalidade e que a justiça e a igualdade sejam valores que sejam postos em prática.

    Gostei mesmo muito deste texto.

    Beijinhos a ambas

    Ps. Está tudo bem com a amiga Herminia? Estranho a sua ausencia... Que esteja tudo bem é o que desejo.

    Joana

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  13. Que bom tê-la por cá de novo, Monalisa!.Claro que as incertrzas, a falte de emprego e toda esta crise financeira abalam as pessoas; a juntar a tudo isto temos os governantes que só sabem tirar aos pequenos e deixam os especuladores e os corruptos impunes. Resta-nos a esperança de que as coisas vão mudando aos poucos, embeora não veja jeito disso. Um beijinho e obrigada pela visita.
    Emília

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  14. Antes de mais, Joana, obrigada pela tua preocupação com a Hermínia. Está tudo bem com ela. Está na Póvoa a passar férias, mas, como nem sempre tem acesso à internet, não tem postado. É só esse o problema. Tenho estado com ela lá, pois moramos perto uma da outra quando estamos na Póvoa de Varzim. Fico contente que tenhas gostado do texto. Um beijinho e volta sempre, pois já nos habituámos à tua presença.
    Emília

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  15. Oi Emilia!
    O texto é mais uma reflexao do nosso dia a dia.Jovens que se julgam Deus e outros, que se deixam arrastar pelas grandes misérias , que vemos no dia a dia.
    O certo é que esta sociedade está de tal maneira arrazada, que a maioria dos pais já não tiveram a educação precisa , não tiveram a transmissão de valores, uns porque não lhes foi dado , por independencia dos pais, outros pelos divórcios sucessivos onde não há a compreensão precisa para educarem uma criança, que não teve culpa de vir ao mundo .
    Assim se vão criando os homens de amanhã e quem sabe os nossos governantes.
    É realmente urgente começarem por sensibilizarem os pais e com a continuação na escola.
    Até breve
    Herminia

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  16. É isso mesmo, Hermínia. A nossa sociedade tem que mudar muito para que um dia os nossos netos não sofram desta doença mental que temos na sociedade de hoje. Penso que as coisas vão mudar...têm de mudar, mas parece-me que vai ser lenta a mudança...já não estaremos aqui para ver. Um beijinho e obrigada pela visita
    Emília

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