terça-feira, 30 de abril de 2024

EVOLUÇÃO

 Imagem Pixabay



Fui rocha, em tempo, e fui no mundo antigo, 
Tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onde, espumei, quebrando-me na aresta 
Do granito, antiquíssimo inimigo ... 

Rugi, fera talvez, buscando abrigo 
Na caverna que ensombra urze e giesta; 
Ou, monstro primitivo, ergui a testa 
No limoso paúl, glauco pascigo... 

Hoje sou homem – e na sombra enorme 
Vejo, a meus pés, a escada multiforme, 
Que desce, em espirais, na imensidade... 

Interrogo o infinito e às vezes choro... 
Mas, estendendo as mãos no vácuo, adoro 
E aspiro unicamente à liberdade


Antero de Quental.


Há 50 anos Portugal conquistou a Liberdade o que nos permitirá. amanhã, 1 de Maio, festejar , nas ruas, esse dia dedicado aos trabalhadores .Creio que temos evoluído para melhor, em mutos aspectos, no entanto, não temos entendido bem que a nossa liberdade acaba onde começa a do outro; essa é a principal causa de tantas guerras e de tanta violência.

Emília Pinto 

quinta-feira, 18 de abril de 2024

ABRIL

 Imagem da net


O Cavaleiro
 


Talvez o espere ainda a Incomeçada 
aquela que louvámos uma noite 
quando o abril rompeu em nossas veias. 
Talvez o espere a avó o pai amigos 
e a mãe que disfarça às vezes uma lágrima. 
Talvez o próprio povo o espere ainda 
quando subitamente fica melancólico 
propenso a acreditar em coisas misteriosas. 

Algures dentro de nós ele cavalga 
algures dentro de nós 
entre mortos e mortos. 
É talvez um impulso quando chega maio 
ou as primeiras aves partem em setembro.

Cargas e cargas de cavalaria. 
E cercos. Conquistas. Naufrágios naufrágios. 
Quem sabe porquê. Quem sabe porquê. 
Entre mortos e mortos algures dentro de nós. 

Quem pode retê-lo? 
Quem sabe a causa 
que sem cessar peleja? 
E cavalga cavalga. 

Sei apenas que às vezes estremecemos: 
é quando irrompe de repente à flor do ser 
e nos deixa nas mãos uma espada e uma rosa.


 Manuel Alegre, in "Atlântico


Há 50 anos, o mês de Abril começou a ter um significado muito especial para nós, Portugueses.; acabou a ditadura, a guerra colonial e tivemos a tão esperada liberdade. 
Escolhi Manuel Alegre para lembrar o 25 de ABRIL


Emília Pinto

segunda-feira, 1 de abril de 2024

FOME

 



Aqui, na Terra, a fome continua, 
A miséria, o luto, e outra vez a fome
Acendemos cigarros em fogos de napalme 
E dizemos amor sem saber o que seja. 
Mas fizemos de ti a prova da riqueza, 
E também da pobreza, e da fome outra vez. 
E pusemos em ti sei lá bem que desejo 
De mais alto que nós, e melhor e mais puro. 

No jornal, de olhos tensos, soletramos 
As vertigens do espaço e maravilhas: 
Oceanos salgados que circundam 
Ilhas mortas de sede, onde não chove. 

Mas o mundo, astronauta, é boa mesa 
Onde come, brincando, só a fome, 
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme.


José Saramago , Os Poemas Possíveis.


Em pleno século XXI " aqui, na terra a fome continua " . Andam os" Astronautas " a explorar o espaço, enquanto vemos, chocados, crianças a morrerem de fome. E o desperdício? É tanto...tanto...

Emília Pinto