Depois de cada guerra
alguém tem que fazer a faxina.
Colocar uma certa ordem
que afinal não se faz sozinha.
Alguém tem que jogar
o entulho
para o lado da estrada
para que possam passar
os carros
carregando os corpos.
Alguém tem que se atolar
no lodo e nas cinzas
em molas de sofás
em cacos de vidro
e em trapos ensanguentados.
Alguém tem que arrastar a viga
para apoiar a parede,
pôr a porta nos caixilhos,
envidraçar a janela.
A cena não rende foto e leva anos.
E todas as câmeras
já debandaram
para outra guerra.
As pontes têm que ser refeitas,
e também as estações.
De tanto arregaçá-las,
as mangas ficarão em farrapos.
Alguém de vassoura na mão
ainda recorda como foi.
Alguém escuta
meneando a cabeça que se safou.
Mas ao seu redor
já começam a rondar
os que acham tudo muito chato.
Às vezes alguém desenterra
de sob um arbusto
velhos
argumentos enferrujados
e os arrasta para o lixão.
Os que sabiam
o que aqui se passou
devem dar lugar àqueles
que pouco sabem.
Ou menos que pouco.
E por fim nada mais que nada.
Na relva que cobriu
as causas e os efeitos
alguém deve se deitar
com um capim entre os dentes
e namorar as nuvens
Wislawa Szymborsk
Quem foi ?
Wisława Szymborska, Maria Wisława Anna Szymborska (Kórnik, 2 de julho de 1923 — Cracóvia, 1 de fevereiro de 2012) foi uma escritora polaca galardoada com o Prémio Nobel na área de literatura (1996). Poetisa, crítica literária e tradutora, viveu em Cracóvia, onde se formou em Filologia Polaca e Sociologia pela Universidade Jaguellonica. A sua extensa obra, traduzida em 36 línguas, foi caracterizada pela Academia de Estocolmo como «uma poesia que, com precisão irónica, permite que o contexto histórico e biológico se manifeste em fragmentos da realidade humana», tendo sido a poetisa definida, como «o Mozart da poesia»
"
Depois de uma guerra alguém tem de fazer uma faxina... " Mas será que há tempo? Elas sucedem -se , sem intervalos e agora temos mais uma; impossível " colocar uma certa ordem " tamanho é o " entulho " acumulado
A nossa solidariedade com o povo da Ucrânia e com todos os outros povos que vivem em guerra
Hitler voltou reencarnando em Putin. Malditos sejas Putin.
ResponderEliminarGostei de ler este grito poético de alarme e revolta.
.
Saudações cordiais e poéticas
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.
Voltou, sim, Ricardo, um novo facinora e com certeza não será o último. As guerras movimentam muito dinheiro e sede pelo poder parece fazer parte do ser humano, pois nunca houve paz neste nosso mundo. Um beijinho, Amigo e esperemos que a paz volte rápidamente. Obrigada!
EliminarEmilia
Gostei de ler este poema e é tal e qual como está descrito !!
ResponderEliminar-
"Existem gritos que matam..."
Bom fim de semana, e que a Paz se instale!🙏
Beijos
Também gostei muito, Cidália e não conhecia esta poetisa, Aprende-se muito om os blogues. Obrigada pela visi5a. Beijinhos
EliminarEmilia
Poema lindo que muito nos toca!
ResponderEliminarE que triste momento vivemos e temos que assistir.
Imagina os que lá estão ao inferno viver! Tristeza!
beijos, tudo de bom,chica
Dá uma tristeza enorme ver aquela gente numa fuga desesperada, Chica! E as crianças? Já nem onsigo olhar a tv com tantas imagens chocantes. Obrigada, Amiga! Um beijinho e saúde para todos vós
EliminarEmilia
Amiga, parabéns muito sinceros por esta tua postagem!!
ResponderEliminarConhecia extratos do poema , sem saber quem o escrevera.
Realmente a escritora polaca consegue de forma poética e quase ligeira colocar a verdade ante nós no que se passa relativamente a todas as guerras passadas , presentes e futuras, deste nosso mundo.
A História, ao contrário do que é dito por vezes, repete-se, sim .
A minha compaixão e solidariedade para todas as pessoas inocentes que sofrem as consequências da ambição e dos interesses de quem detém o Poder.
Minha querida , caloroso abraço e que tudo seja sereno na tua vida.
O que mais me encantou neste poema foi precisamente o que tu escreveste, " a escritora consegue de forma poética e algo ligeira colocar a verdade ante nós no que se passa relativamente a todas as guerras " Não conhecia nem o poema, nem a escritora, mas foi fácil descobri-la quando procurei algo que mostrasse a inutilidade, a estupidez das guerras, onde nunca há vencedores e que , mesmo assim, não deixam de existir. O povo, de um lado e do outro é quem mais sofre, pois os poderosos que a desencadeiam ficam sempre bem. E não tenhamos esperanças, São, pois continuarão. A sede pelo poder é enorme e está acima de qualquer pingo de humanidade. Muito obrigada, querida Amiga e, apesar de já ser bastante tarde, ontinuemos a esperar que este conflito acabe o mais depressa possivel. Um beijinho e saúde para todos
EliminarEmilia
Que belo poema, querida Emília, sim, amiga, a coisa está tão feia, e cada vez mais difícil, aquela vidinha tranquila que tínhamos, não existe mais, tomara que volte. Parece que estamos acostumando com as catástrofes, enchentes que varrem cidades inteiras, pandemia, guerras… e outros tantos desencontros, que loucura. Em segundos uma cidade vira escombros, como temos visto atualmente
ResponderEliminarAdorei conhecer essa maravilhosa poeta, Wisława Szymborska, vou atrás de seus poemas , tantas verdades ditas, a verdade é que o mundo dá suas voltas e recomeça, tudo igual. Não aprendemos nem com os erros dos outros e nem com os nossos. Em suma, amiga, “Assim Caminha a Humanidade”, assim será.
Deixo um beijinho, aí já é tarde, aqui, finzinho de tarde.
Um domingo de paz, querida amiga, tua postagem está maravilhosa!!! Como sempre.
Saúde aí pra todos vocês.
(Até!!!) 🧡💛💙💚💜
Querida Tais, " a nossa vidinha tranquila " vai voltar, sim, mas nunca mais será a mesma para aqueles que sofrem os horrores da guerra, das catástrofes, das enchentes, terramotos e outro tipo de horrores, quer sejam naturais, quer sejam provocados por misseis disparados por ordem de loucos poderosos. Não conseguimos nem devemos ficar indiferentes e a cada noticia, a cada imagem, a tristeza invade-nos, mas, por enquanto, continuamos com casa, comida e nossos filhos e netos protegidos. A pandemia acabará e depressa será esquecida, mas, as crianças que vivem este horror alguma vez esquecerão o som de tantos canhões e o barulho insuportável das sirenes? Será um 5rauma para a vida! Também não conhecia esta poetisa e também já procurei outros poemas que me fascinaram. Acho que vou voltar a ela, aqui, no Comecar de Novo. Triste, muito obrigada pelo belo comentário onde se nota, em cada palavra, um sentimento de nostalgia o que, em nada me surpreende. Beijinhos e saúde para todos aí em casa
EliminarEmilia
Um poema muito realista...ninguém se lembra do que fica para trás, o terror que ainda fica depois dos tiros, das explosões... e ninguém aprende com os erros do passado...
ResponderEliminarObrigada pela partilha.
Beijos e abraços
Marta
Ninguém aprende nada, Marta e a prova é que as guerras sucedem-se, com armamento cada vez mais sofisticado nas mãos de lideres loucos; o terror manter-se-á, quando tudo terminar, principalmente nas crianças que fogem assustadas sem entenderem o motivo da fuga.Muito obrigada, querida Amiga, pela visita e espero que estejam todos bem de saúde. Beijinhos
EliminarEmilia
Boa tarde de domingo, querida amiga Emília!
ResponderEliminarUma veracidade impressionante.
Não estamos tendo tempo de arrumar a casa interior sequer...
É tanto entulho que mal podemos ter força espiritual que seja para consolar os que estão enlutados tanto pell vírus maldito que ainda não acabou quanto da guerra fruto do egoísmo dos que assumem o poder para massacrarem seus semelhantes.
Querida amiga, está mesmo difícil digerir tanta calamidade, tanta dor, tanto descaso.
Vamos orar para virem dias melhores.
É o mínimo, bem sei... Mas é o que está ao meu alcance por ora, em relação à guerra.
Tenha dias de descanso abençoados!
Beijinhos carinhosos e fraternos
Sim, Rosélia, somos pequeninos demais para parar as atrocidades do ser humano, mas podemos sempre fazer a nossa parte, contribuindo para que a paz reine em nossas casas, no bairro, entre amigos e até entre familiares que, infelizmente, por pequenas coisas geram verdadeiras guerras. Todos conhecemos casos destes e poucas vezes tentamos apaziguar as partes. Obrigada, querida Amiga, pela visita, sempre cainhosa e, junto-me a ti nas orações pela paz, não só nesta guerra, mas em todas as que há hoje em dia. Beijinhos e saúde para todos vós
EliminarEmilia
😘🕊️💙
EliminarQuando fica alguém para fazer a faxina, amiga.
ResponderEliminarA situação atual, é tão triste e tão grave ao mesmo tempo.
Abraço, saúde e boa semana
Dizes bem, Elvira, a chacina é tão grande que às vezes não fica ninguém para " fazer a faxina". É muito triste e assustador, porque as armas hoje têm um poder de destruição nunca visto em guerras anteriores. Um beijinho, querida Amiga e espero que estejam todos bem de saúde
EliminarEmilia
Que escolha de poema, minha Amiga Emília! Não podia ser mais contundente e reflexivo. Que não falte a coragem e a sorte ao povo ucraniano. Que consigam defender o país e a família de quem tiveram que se separar. Que a paz regresse depressa e que "esse senhor da guerra" tenha o castigo que merece.
ResponderEliminarContinue a cuidar-se bem.
Uma boa semana.
Um beijo.
Verdade, Graça, um poema que não conhecia, mas que " calou fundo " em mim, quer pelo retrato que faz das consequências duma guerra, quer pela leveza com que a poetisa o tratou. O tema é pesado, doloroso e apesar de o ter sido sempre, desta vez parece doer mais porque as informações são constantes e as imagens que as acompanham chocam-nos; parece que só agora entendemos a gravidade de uma guerra, não é verdade? Obrigada, querida Amiga, pela visita e desejo que, apesar do momento tão preocupante, estejam todos tranquilos e com saúde. Um beijinho
EliminarEmilia
Oxalá já estivéssemos a fazer a faxina depois desta guerra.
ResponderEliminarO poema foi uma excelente escolha e bom seria que fosse uma premonição de que hoje ou amanhã a guerra cessasse.
Boa semana, amiga Emília.
Beijo.
Seria muito bom, mesmo, Jaime, mas, duvido que acabe já e receio que fiquem muito poucos para arrumar tanto entulho. Obrigada, Jaime e votos de saúde para todos vós. Um beijinho
EliminarEmilia
eminente Poetisa, que escrever ... é viver
ResponderEliminargostei de a encontrar aqi
beijo
Que bom, Manuel! Fico feliz por saber que gostaste de encontrar aqui esta " eminente poetisa ". Espero que estejas bem, assim como toda a tua familia e que a serenidade não vos falte, apesar de tudo. Um beijinho
EliminarEmilia
Querida Emília
ResponderEliminarE já lá vão alguns dias neste terror que aumenta cada vez com mais ameaças.
A Ucrânia invadida, bombardeada, o mundo em expectativa temendo o pior,
ou seja, uma guerra nuckear.
Depois do vírus temível que nos enclausurou durante dois anos, começávamos
a respirar um pouco e, pronto, vemo-nos reféns de um ditador com sonhos
hegemónicos.
O poema que nos trazes, dessa poetisa que não conhecia, laureada com o
Nobel da Literatura, mostra-nos o pós-guerra e toda a desolação que fica
depois da passagem desse vendaval.
Tema oportuno e tomara que "os senhores da guerra" o lessem...e meditassem
nas terríveis consequências de um mundo em guerra.
Saúde, minha amiga, na companhia dos teus entes queridos.
Beijinhos
Olinda
Querida Olinda, por mais que nos choquem as noticias e as imagens , não conseguimos desviar os olhos da televisão; é terrivel a debandada de tantas pessoas inocentes, deixando para trás tudo o que tinham e vendo outros a morrerem ; mulheres, crianças e tantos idosos fugindo como se fossem criminosos praticamente só com a roupa do corpo. Valha-nos a grande solidariedade de todos os paises que se uniram para minorar o sofrimento desse povo que foge dum maluco sanguinário; nem mesmo o povo russo merece esta guerra cujas consequências vão ser terriveis tambem para ele. Às vezes penso que já foram assassinados lideres que proclamavam a paz que defendiam os direitos das minorias e a este assassino, Putin, ninguém tem coragem de lhe dar um tiro. Claro, deve ter uma segurança tão temivel quanto ele Amiga, obrigada pela visita e, apesar dos receios, espero que estejam todos tranquilos e com saúde. Um beij8nho e bom fim de semana
EliminarEmilia
Não conhecia, de todo, esta poetisa.
ResponderEliminarO poema é forte, contundente, faz estremecer.
E tão verdadeiro!
Que haja pessoas suficientes e com foças e ânimo bastantes para arrumar a bagunça que vais restar!
Não há guerras justas, mas esta, além de injusta, é irracional.
Tempos duros e muito tristes nos aguardam.
Um abraço grande para ti, querida amiga, com votos de muita saúde para ti e família.
Continuação de boa semana.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Também não conhecia , mas gostei tanto do modo simples que esta poetisa tem de dizer coisas tão graves, que voltei a repetir; o novo post tem um outro poema que também é muito apropridado para este momento dificil que estamos a viver. De novo, ela mostra-nos, de uma modo leve, os problemas do mundo que continuam os mesmos, século após século. Querida Amiga, muito obrigada pelo carinho da visita e espero que a saúde não vos falte e que, apesar destes momentos terriveis, esteja8s todos serenos. Um beijinho e um bom fin de semana
EliminarEmilia
Un poema precioso en el que das rienda suelta a los sentimientos que manan de tu corazón ante una situación tan real y triste, que hace que todos nos solidaricemos con aquellos que la están sufriendo.
ResponderEliminarAún no hemos salido de una gran pandemia y hay cabezas que piensan y llevan a cabo una guerra ¿Es que este virus nos ha afectado?
No dejo de pensar en el sufrimiento de estas familias que tienen que abandonar sus hogares y en otros que han perdido la vida por el capricho de otros.
Ha sido un placer leer tu entrada.
Cariños.
Kasioles
Gostei muito de te ver aqui, Kassioles! Tens razão, estavamos a sair da pandemia, a ter já uma vida mais normal, saindo de casa, visitando amigos e familiares e , de repente, tudo muda para pior, com uma guerra que ninguém esperava e que nos deixa muito receosos. Amiga, muito obrigada por teres vindo visitar- ne e desejo-te saúde e serenidade . Um bom fim de semana
EliminarEmilia
Um poema que retrata e sente as “dores” de uma guerra e o “pior” pode até ainda estar para vir, mas o problema que se arrasta é saber quanto tempo ainda vai levar até que a “faxina” esteja dada por terminado e quanto tempo estas pobres gentes ainda vão ter de sofrer.
ResponderEliminarAbraço e bom fim de semana
Caro João, fico feliz por te ver por aqui e espero que voltes mais vezes. É verdade, Amigo, pelo que estamos a ver, esta guerra vai durar e a " faxina " não será tão cedo e, além disso, vai haver muito " entulho " para desviar das estradas, " deixando passar os carros que transportam cadáveres, " Uma faxina " dificil de sercfeita. Um beijinho e bom fim de semana, com saúde
EliminarEmilia
Quanta verdade e actualidade nestas palavras... Um verdadeiro privilégio encontrar por aqui, a obra desta grande poetisa que eu desconhecia! Enfim!... Não se recuperam vidas interrompidas... nem sonhos amputados... mas ajeitam-se os destroços... até ao conflito seguinte... enquanto as partes, se armam de novo... neste ciclo sem fim...
ResponderEliminarMais uma partilha excepcional, Emília! Beijinhos! Continuação de um feliz domingo!
Ana