segunda-feira, 4 de julho de 2016

ESTAMOS PREPARADOS?


( imagem retirada do google )



Nascemos filhos e esperamos ser filhos para sempre. Mimados, educados
, amados; que nossos pais invistam doses cavalares de amor em todo nosso caminho pela vida, que, quando a vida doer, haja um colo materno, que quando a vida angustiar, encontremos neles um conselho sábio. E, quando isso nos falta, há sempre uma lacuna, um sentimento estranho de sermos exceção. Mesmo adultos, esperamos reconhecer nossa meninice nos olhos dos nossos pais. Desejamos, intimamente, atenções miúdas, como a comida favorita no dia do aniversário ou a camiseta do time de futebol se estamos na casa deles. Não estamos prontos para trocar de lugar nesta relação. É difícil aceitar que nossos pais envelheçam, entender que as pequenas limitações que começam a apresentar não é preguiça nem desdém, que não é porque se esqueceram de dar o recado que não se importam com a nossa urgência. Que pedem para repetirmos a mesma frase porque não escutam mais tão bem - e às vezes, não está surdo o ouvido mas distraído o cérebro. Demora até aceitarmos que não são mais os mesmos - que dirá “super-heróis”? Não podemos dividir toda a nossa angústia e todos os nossos problemas porque, para eles, as proporções são ainda maiores e aí tudo se desregula: o ritmo cardíaco, a pressão, a taxa glicêmica, o equilíbrio emocional. Vamos ficando um pouco cerimoniosos por amor. Tentando poupar-lhes do que é evitável. Então, sem querer, começamos a inverter os papéis de proteção. Passamos a tentar resguardar nossos pais dos abalos do mundo. Dizemos que estamos bem, apesar da crise. Amenizamos o diagnóstico do pediatra para a infecção do neto parecer mais branda. Escondemos as incompreensões do casamento para parecer que construímos uma família eterna. Filtramos a angústia que pode ser passageira ao invés de dividir qualquer problema. Não precisam preocupar-se: estaremos bem no final do dia e no final das nossas vidas. Mas, enquanto mudamos esses pequenos detalhes na nossa relação, ficamos um pouco órfãos. Mantemos os olhos abertos nas noites insones sem poder correr chorando para a cama dos pais. Escondemos deles o medo de perder o emprego, o cônjuge ou a casa para que não sofram sem necessidade e, aí, estamos sós nessa espera; não há colo nem bala nem cafuné para consolar-nos. Quanto mais eles perdem memória, vigor, audição, mais sozinhos nos sentimos, sem compreender por que o inevitável aconteceu. Pode até surgir alguma revolta interior por esperar deles que reagissem ao envelhecimento do corpo, que lutassem mais a favor de si, sem percebermos, na nossa própria desorientação, que eles não têm a mesma consciência que nós, não têm como impedir a passagem do tempo ou que possuem, simplesmente, o direito de sentirem-se cansados. Então pode chegar o dia em que nossos pais se transformem, de fato, em nossos filhos. Que precisemos lembrá-los de comer, de tomar o remédio ou de pagar uma conta. Que seja necessário conduzi-los nas ruas ou dar-lhes as mãos para que não caiam nas escadas. Que tenhamos que prepará-los e colocá-los na cama. Talvez até alimentá-los, levando o talher a sua boca. E eles serão filhos piores porque lembrarão que são seus pais. Reagirão as suas primeiras investidas porque sabem que, no fundo, você acha que lhes deve obediência. Enfraquecerão seus primeiros argumentos e tentarão provar que ainda podem ser independentes, mesmo quando esse momento tiver passado, porque é difícil imaginarem-se sem o controle total das próprias rotinas. Mas cederão paulatinamente, quando a força física ou mental reduzir-se e puderem encontrar no seu amor por eles o equilíbrio para todas as mudanças que os assustam. Não será fácil para você. Não é a lógica da vida. Mesmo que você seja pai, ninguém o preparou para ser pai dos seus pais. E se você não o é, terá que aprender as nuances desse papel para proteger aqueles que ama. Mas, se puder, sorria diante dos comentários senis ou cante enquanto estiverem comendo juntos. Ouça aquela história contada tantas vezes como se fosse a primeira e faça perguntas como se tudo fosse inédito. E beije-os na testa com toda a ternura possível, como quando se coloca uma criança na cama, prometendo-lhe que, ao abrir os olhos na manhã seguinte, o mundo ainda estará lá, como antes, intocável, para ela brincar. Porque se você chegou até aqui ao lado dos seus pais, com a porta aberta para interferir em suas vidas, foi porque tiveram um longo percurso de companheirismo. E propor-se a viver esse momento com toda a intensidade só demonstrará o quanto é grande a sua capacidade de amar e de retribuir o amor que a vida lhe ofereceu

By Ana Lúcia Gosling - in obvious


Talvez já conheçam este texto, mas, mesmo assim, resolvi colocá-lo no Começar de Novo, porque é muito difícil para nós quando percebemos que os papéis se inverteram. Somos agora PAIS DOS NOSSOS PAIS. Como custa aceitar essa realidade, amigos!

Emília Pinto

45 comentários:

  1. Texto tão verdadeiro quanto triste, querida Emília. Mas é isso mesmo, e no fim vemos um amor bonito, reconhecido, triste porque sabemos o caminho todo...onde vai desembocar. Quando existe esse amor, é o amor mais comprometido de todos, pois foi uma vida lado a lado, de vencer obstáculos, de enfrentar tristezas e rir das alegrias - tudo junto. E um medo terrível da perda.

    Beijinho, amiga.

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    1. Tens razão, Tais, esta é a única certeza que temos na vida! Se não morrermos cedo iremos ser filhos dos nossos filhos e é bom que comecemos a dar-lhes bons exemplos sendo carinhosos pais dos nossos pais; ninguém dá aquilo que não tem e portanto há que ensinar os mais novos a respeitarem os idosos. Muito obrigada, amiga , pelo carinho da visita. Um beijinho e tudo de bom!
      Emilia

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  2. Triste mas muito lindo e aponta grandes verdades e temos que parar pra pensar nelas! Linda semana! beijos, tudo de bom,chica

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    1. Temos, sim, Chica de refetir nestas verdades, porque um dia seremos nós , isto se a vida permitir que cheguemos mais longe. Um beijinho e obrigada
      Emilia

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  3. Nunca estaremos preparados, porque doí muito ver os nossos Pais perderem o controlo sobre si próprios. Senti isso na pele quando os meus Pais perderam o interesse em tudo e ficaram perdidos num Mundo muito deles. Tudo o que temos a fazer é dar-lhes todo o carinho possível e deixar que se libertem com dignidade da vida. Por muito que nos custe ver que se esqueceram do nosso nome e termos que repetir "Não sou a Ana; sou a Marta"...
    Obrigada pela partilha.
    Beijos e abraços
    Marta

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    1. Obrigada, Marta pelo teu comentário, deixando aqui a tua experiência. Também já passo por isso e sei o que custa. Temos que fazer tudo para que passem este fim do caminho com amor e atenção por parte daqueles a quem tudo deram. Amiga, um beijinho e até breve
      Emilia

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  4. Fui mãe da minha Mãe durante um ano .
    Fisicamente não foi fácil. Mas o grande afecto que nos unia deu-me forças [ até para mudar de cidade ] .
    Faria tudo nóvamente . Ela fez muito mais por mim . Ensinou-me , com o seu exemplo , a ser eu e a gostar de o ser . A coisa mais importante na vida .

    Um forte abraço , Emília , e obrigada por este texto ,
    Maria

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    1. É assim mesmo que tem de ser Maria! Nunca nos podemos esquecer do quanto fizeram por nós, dos sacrifivios que passaram para nos criarem, em muitos casos , comendo pouco para sobrar para os filhos; hoje muitos passam fome e os filhos nem um telefonema fazem para ver como estão. Como sabes, os meus estão no Brail e pt sou mãe deles quando lá vou; o meu irmão, sim, é pai dos dois, apesar de viverem em casas separadas. Quando voltei de lá em Janeiro, custou-me muito ver que o meu pai não sabia se eu vinha de avião ou de carro e muitas vezes achava que eu era a irmã dele. Muito, muito dificil, Maria! Um beijinho e obrigada por contares a tua experiência. Nunca é demais falar deste tema, pois, infelizmente, vemos pessoas abandonadas em lares, pois os filhos não os visitam; pior do que estarem no fim da caminhada é sentirem-se abandonados por aqueles a quem deram tudo o que tinham. Fica bem, amiga!
      Emilia

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  5. Bom dia
    Nunca estamos preparados. Um dia chegará a nossa vez.
    Os nossos Pais foram aqueles que mais amor nos deram gratuitamente. Foi tanto o seu amor que algumas vezes pensámos que isto era uma obrigação. Depois o tempo passou e foi preciso dar-lhes um pouquinho de amor mas aí nós já estávamos oferecendo o nosso amor aos filhos e os nossos velhos ficaram para trás com a sua solidão.

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    1. Uma grande verdade, Luis, " um dia chegará a nossa vez " e o que tivermos dado será o que provavelmente receberemos. Mesmo dando um bom exemplo, não temos certeza nenhuma de que não seremos abandonados por aqueles a quem demos tudo. Muito obrigada, Luis e fica bem. Um beijinho
      Emilia

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  6. Bom dia, querida Emília

    Não conhecia o texto. Conheço a situação mas não da forma pungente e dramática que o texto descreve. Essa parte coube à minha irmã mais velha e por isso mesmo estar-lhe-ei agradecida para o resto da vida. Na verdade, ela fez pelos nossos pais tudo aquilo que nós, os outros cinco irmãos, também nos cabia a nós, e que a distância não nos permitiu. Mas, mesmo de longe eu ia acompanhando e apoiando em tudo, estando presente sempre que era preciso. Contudo, sei que no dia-a-dia é que residia toda a dificuldade.

    É triste essa fase da vida, tanto para os pais que, lúcidos mas já incapazes de se valerem a si próprios, não querem dar trabalho como para os filhos que se sentem desamparados por já não terem aquele porto seguro e transformarem-se em pais dos pais, como o texto nos transmite de uma forma bem vívida.

    Minha amiga, muito obrigada por este texto que nos convida a mais uma reflexão sobre as coisas da vida, situações que nos tocam de muito perto.

    Beijinhos

    Olinda

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  7. Bom dia, querida Emília

    Não conhecia o texto. Conheço a situação mas não da forma pungente e dramática que o texto descreve. Essa parte coube à minha irmã mais velha e por isso mesmo estar-lhe-ei agradecida para o resto da vida. Na verdade, ela fez pelos nossos pais tudo aquilo que nós, os outros cinco irmãos, também nos cabia a nós, e que a distância não nos permitiu. Mas, mesmo de longe eu ia acompanhando e apoiando em tudo, estando presente sempre que era preciso. Contudo, sei que no dia-a-dia é que residia toda a dificuldade.

    É triste essa fase da vida, tanto para os pais que, lúcidos mas já incapazes de se valerem a si próprios, não querem dar trabalho como para os filhos que se sentem desamparados por já não terem aquele porto seguro e transformarem-se em pais dos pais, como o texto nos transmite de uma forma bem vívida.

    Minha amiga, muito obrigada por este texto que nos convida a mais uma reflexão sobre as coisas da vida, situações que nos tocam de muito perto.

    Beijinhos

    Olinda

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    1. Olá Olinda! Que bom ver-te por cá! Estou a viver uma situação igual à que viveste; vivo muito longe dos meus pais e pouco posso ajudar o meu irmão nessa difícil tarefa de cuidar deles; a única coisa que posso fazer é ouvir os seus desabafos e dar a minha opinião, mas, mesmo isso nem sempre ajuda, pois quem vive a situação é que sabe. Como sabes estive no Brasil 3 meses a ajudei, mas é muito pouco e a distância é grande demais para estar mais presente. Como tu, também eu terei para com ele e minha cunhada uma dívida de gratidão. Os meus pais preferiram ficar no Brasil quando eu decidi voltar e assim, mais uma vez, a vida decidiu por nós; nem sempre temos o poder de escolha, como se costuma dizer, a vida, sim, manda muito e leva-nos para direcções que nem sempre são as que gostariamos de seguir. Eles vinham a Portugal todos os anos, mas agora isso não é possivel, principalmente por causa do meu pai; a minha mãe sofre muito por isso e ela ainda teria condições de vir, mas, claro sem o marido não vem. Esta fase da vida, é muito triste, não só por vermos os efeitos que a idade teve neles, mas também por sabermos que um dia estaremos nós nessa situação.
      Querida amiga, muito obrigada pelo teu testemunho e espero que já estejas completamente recuperada do teu joelho. Um beijinho
      Emilia

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    2. Sim, amiga, acompanhei-te daqui enviando-te do fundo do coração todo o meu apoio, sabendo quão difícil era a tua situação. Desejo aos teus pais vida longa com dias aprazíveis e ao teu irmão muita força aliada ao seu imenso amor de filho.

      O meu joelho vai melhorzinho. Um afago daqui outro dali vamos lá ver o que o futuro lhe reserva. Muito obrigada pelos teus votos.

      Desejo-te um bom fim de semana.

      Beijinhos

      Olinda

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    3. Sim, amiga, acompanhei-te daqui enviando-te do fundo do coração todo o meu apoio, sabendo quão difícil era a tua situação. Desejo aos teus pais vida longa com dias aprazíveis e ao teu irmão muita força aliada ao seu imenso amor de filho.

      O meu joelho vai melhorzinho. Um afago daqui outro dali vamos lá ver o que o futuro lhe reserva. Muito obrigada pelos teus votos.

      Desejo-te um bom fim de semana.

      Beijinhos

      Olinda

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    4. Muito obrigada, Olinda, por teres voltado aqui e fico contente por saber que o teu joelho está a melhorar. Desejo-te também um bom fim de semana, aproveitando da melhor maneira estes dias lindos de sol. Beijinhos, amiga,
      Emilia

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  8. Adorei o texto, Emília! Brilhante partilha!...
    Uma realidade, que aos poucos, já me toca um pouco... mas é o inevitável e imparável ciclo da vida...
    Beijinhos! Continuação de uma boa semana!
    Ana

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    1. É verdade, Ana, é o ciclo da vida e há que aceitar. Estou longe dos meus pais, como podes ler acima, mas o meu irmão já há muito está a ser o pai dos meus pais e, apesar de terem enfermeiras de dia e de noite, tem que passar lá todos os dias e ouvir as queixas, as incompreensões, as briguinhas com quem trata deles, as idas ao médico, etc, etc, . Muita coisa para uma só pessoa, mas, nada posso fazer a não ser apoiá-lo e ouvir os seus desabafos. Obrigada, Ana e tudo de bom. Um beijinho
      Emilia

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  9. OI EMÍLIA!
    UM TEXTO ESPLÊNDIDO, RICO NAS VERDADES QUE TRÁS, OS PAPÉIS SE INVERTEM SIM, DE FILHOS PASSAMOS A PAIS DE NOSSOS PAIS E ASSIM SE SUCEDERÁ COM RELAÇÃO A NOSSOS FILHOS, QUE, TOMARA TENHAM TODA ESTA PERCEPÇÃO DA CONTINUIDADE DA VIDA.
    LINDO DEMAIS.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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    1. É verdade,Zilani, " tomara que nossos filhos tenham essa percepção da continuidade da vida" , pois um dia serão eles a filhos dos filhos. Temos que dar o exemplo sabendo tratar com carinho os nossos idosos, pois assim há mais probabilidades de recebermos deles toda a atenção. Um beijinho, amiga e obrigada pelo carinho
      Emilia

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  10. É bem verdade, os pais podem transformar-se em filhos... mas, quando isso acontece, normalmente é porque já atingiram uma idade avançada. E então temos que os tratar mesmo com se fossem nossos filhos.
    Um excelente texto, minha amiga, obrigado pela partilha.
    Emília, tem um bom fim de semana.
    Beijo.

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    1. Hoje em dia vive-se muito, mas a ciência ainda não foi capaz de descobrir algo que faça com que o cérebro acompanhe o corpo e chega-se a um ponto em que já não sabemos sequer quem somos e as tarefas mais simples tornam-se impossiveis de serem realizades. E aqui atingimos uma dependência que assusta , se ficarmos a pensar muito nisso. Amigo Jaime, muito obrigada pelo carinho. Tudo de bom. Um beijinho
      Emilia

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    2. É isso mesmo. Beijinhos querida amiga.

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  11. ♩♫╮
    Mesmo que os filhos sejam pais dos seus pais... os filhos não estão preparados para repetir o ciclo, envelhecer e ser os filhos novamente!...

    Bom fim de semana!
    Beijinhos.
    °.♪♫╮

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    1. Inês, eu já estou a passar por essa fase e, no inicio é muito dificil, precisamente por nunca estarmos preparados para a situação inversa. Com o tempo vamos aceitando, mas a dificuldade não diminui, porque do outro lado também custa a aceitar que tenham de se comportar como filhos. Obrigada, Inês e desejo-te uma bela semana
      Emilia

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  12. Querida Emília!
    Lindo e triste texto, o qual eu não conhecia.
    Eu já não tenho meus pais vivos,ambos desencarnaram por estarem doentes, mas totalmente lúcidos e foi tudo muito rápido, o que é uma bênção, dói muito vê- los sofrendo.
    Imagino o quanto é difícil viver uma situação assim, o quanto você se preocupa e entristece, principalmente por estar longe, mas na vida nada é por acaso e estamos sempre no lugar que nos compete para nosso crescimento e evolução.
    Confesso que sinto uma ponta de receio em pensar que um dia eu venha a ser a filha dos meus dois filhos. Apesar de ama-los imensamente, prefiro partir antes, mas quem somos nós para decidir tal feito não é mesmo?
    Obrigada por seus comentários amorosos no blog.
    Um abraço,
    Sônia

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  13. Antes de mais, Sonia, muito obrigada pelas palavras carinhosas e pelo teu testemunho. Nenhum filho gosta que os seus pais partam cedo, mas, quando se vive a situação a que chegam, a uma total dependência e sem lucidez, chega-se a desejar que a vida se compareça deles e interrompa a sua caminhada; nunca pensei muito nestas coisas, mas depois de ter chegado a minha vez de ver e viver estas situações. Comecei a " sentir receio de um dia vir a ser filha dos meus dois filhos " mas, como não temos poder algum para decidir seja o que for, não vale a pena pensar nisso. Amiga, desejo-te uma bela semana e até breve. Beijinhos
    Emilia

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  14. Um texto verdadeiro, contundente, que nos deixa, mesmo sabendo da grande verdade que contém, uma certa nostalgia, uma certa tristeza que no meu caso consigo identificar como não tendo mais meus pais para voltar a ser "mãe" deles. Interessante, amiga, é que esta relação inversa, quando bem estabelecida, faz com que os pais sintam mais "proteção e aconchego" do que propriamente "vergonha ou tristeza" por estar sendo cuidados pelos filhos que um dia cuidaram. A relação que vivi com meus pais no final de seus dias foi estabelecida de forma que se sentissem protegidos, amados, e se em algum momento ficaram constrangidos por terem sido cuidados pela filha, não demonstraram. Um belo momento do qual sempre me recordo é quando lia para eles, naquela inversão das histórias infantís que os mesmos liam para mim. Para a mamãe, um romance. Para o papai, os jornais do dia. E depois os comentários que fazíamos prolongando aquele momento gostoso de interação total.
    Por isso, minha querida amiga, grata por esta partilha de um texto tão edificante e que enseja reflexões tão profundas...
    Que sorrisos nunca faltem na tua caminhada, e que estrelas estejam sempre a iluminar este teu olhar tão bonito para a vida.
    Com carinho,
    Helena

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    1. Olá querida Helena. É bem verdade o que dizes; se tivermos cuidado e muito carinho nessa inversão de papéis eles não se sentirão constrangidos, Como sabes em meados de Outubro tive de ir ao Brasil, pois a minha mãe estava muito mal; fiquei lá 3 meses e ela foi recuperando aos poucos e felizmente agora está bem; nas primeiras semanas depois de ter voltado do hospital as enfermeiras que cuidam deles diziam-me que a mãe aparecia de manhã molhada, mas que negava 3 não aceitava fralda; pediram-me ajuda e então eu conversei com ela com muito cuidado dizendo que as perdas de urina eram frquentes, que conhecia senhoras muito mais novas que, por precaução de noite usavam calcinha/fralda, pois assim dormiam descansadas Ela respondia-me que não precisava, mas de que de facto às vezes tinha o pijama um pouco humedecido, mas não a cama molhada; eu expliquei-lhe que tb era importante, apesar de não molhar a cama ( molhava...) para evitar que a infecção urinária dela reaparecesse . Ela aceitou e mandou-se comprar a fralda. Fiz questão que ela não se sentisse uma criança que faz xixi na cama. À medida que foi melhorando, deixou de precisar. Estes cuidados são muito necessário para que eles se sintam cuidados e não humilhados. Com o meu pai tb não foi fácil, mas o problema dele é demência e, dependendo da altura , nem sabe que usa fralda, Temos muita sorte com as cuidadoras deles, pois além de eficientes são muito meigas. Não estou lá para ajudar o meu irmão e a minha cunhada e isso preocupa-me, pois, apesar deles terem todos os cuidados em casa ele fica muito sobrecarregado; ainda trabalha e todos os dias tem de passar lá para resolver os problemas que sempre surge. Amiga, muito obrigada pelo carinho e daqui te mando um grande abraço , apertado, de amizade carregadinho
      Emilia

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  15. Essa relação pais e filhos nem sempre decorre com o que se pode chamar de normalidade, pois pode haver um desvio nesse caminho por algum ato ou comportamento quer dos pais, quer dos filhos. Poderíamos dizer que “normalidade” seria os filhos manterem o carinho e o respeito pelos pais, e, por outro lado, os pais não esquecerem que aquele filho e aquela filha, que já são adultos, deixaram em seus corações o registro da criança que foram, e que aí a manterão pelo resto de suas vidas. Acho que isso não é apenas um consolo para os país, mas também o seu conforto.
    Abraço, Emília.
    Pedro.

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    1. É verdade Pedro, nem sempre as correm bem no relacionamento entre pais e filhos e isso tem várias causas, claro. Os filhos crescem e levam no seu coração aquilo que lhes foi incutido desde que nasceram. Desde bem pequeninos que a educação que lhes damos deve ser baseada nos valores de respeito pelos outros, etica e amor; se não crescerem com estes sentimentos como os mais importantes não saberão ser pais dos seus filhos e muito menos ser pais dos seus pais; não saberão também viver a verdadeira cidadania. Os adultos serão sempre o reflexo da sua meninice, da educação que receberam.Pedro, muito obrigada pela sua opinião sobre um assunto que a todos nos toca. Um bom fim de semana, amigo. Um beijinho
      Emilia

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  16. Emília, tem um bom fim de semana.
    Beijo.

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    1. Obrigada, Jaime. Estes dias lindos e cheios de sol contribuem muito para que o fim de semana seja bom; sê-lo-å com certeza. O mesmo te desejo a ti, amigo. Um beijinho
      Emilia

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  17. O mundo mudou muito, sem dúvida, com o principal foco na produção: se produzes, interessas, se já não consegues produzir, sai da fila. Ou seja, a vertente humana não foi acautelada, dando azo a enormes desequilíbrios.
    Muito haveria a dizer sobre o tema, mas limito-me a deixar a interrogação: que queremos nós da vida?

    Uma boa semana :)

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  18. O mundo mudou muito, sem dúvida, com o principal foco na produção: se produzes, interessas, se já não consegues produzir, sai da fila. Ou seja, a vertente humana não foi acautelada, dando azo a enormes desequilíbrios.
    Muito haveria a dizer sobre o tema, mas limito-me a deixar a interrogação: que queremos nós da vida?

    Uma boa semana :)

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    1. Olá António! Um assunto que " daria pano para mangas" como se costuma dizer. Tens muita razão no que dizes e se não ensinarmos aos mais novos um novo conceito de ver a vida o mundo vai continuar a desvalorizar o lado humano. O que temos querido da vida é aquilo que o dinheiro pode comprar e quanto mais melhor e, infelizmente temos constatado que não fizemos a melhor opção. Com o passar dos anos, tenho aprendido a dar mais valor ao que é essencial, mas será que não foi tarde demais? E será que consegui passar para os meus filhos a noção de que para se ser feliz basta ter o suficiente? Sabes, costuma-se dizer que as crises têm o seu lado bom e acredito que sim . Quem sabe, estes problemas económicos a nivel mundial não vão contribuir para uma mudança de mentalidades? É possivel SER muito TENDO menos e a preocupação com o TER faz com que as pessoas esqueçam do essencial, a qualidade de vida, a familia, os filhos, os amigos; No fim, quando " sairem da fila" só restará a solidão e a tristeza de nem sequer terem notado que o tempo passou tão grande foi a correria. Obrigada, António e um bom fim de semana
      Emilia

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    2. Amigo AC, desculpa por te ter tratado por António. Sigo o blog Existe sempre um lugar do amigo António e foi essa a razão de ter usado esse nome Quero no entanto sublinhar que não foi confusão, pois distingo-os bem pela maneira de escrever; foi só o A que me levou a isso, um beijinho, amigo AC
      Emilia

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  19. Passando só para deixar um beijinho, e desejar um óptimo domingo...
    Ana

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    1. Muito obrigada Ana. Um abraço de grande amizade e que os teus dias sejam serenos, com saúde e sem grandes problemas, pois os pequenos são normais, fazem parte da vida. Até breve, amiga.
      Emilia

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  20. Uma postagem que fez pensar, refletir. Deu-me muita saudade de meus pais. A gente nunca esta preparada para tal situação, mais esse caminho é preciso passar. É difícil aceitar ver nossos pais envelhecendo, mais é a lei da natureza, não podemos fazer nada, a não ser dá amor, carinho e respeito enquanto eles estiverem entre nós.
    A minha sogra esta passando por essa situação. Hoje ela se tornou uma criança devida o Alzheimer. E os papeis se inverteram. Ninguém esta preparado, mais tem que assumir essa troca de papeis se necessário e com muito amor, porque se fosse os pais que tivesse que voltar a cuidar dos filhos eles faria com muito orgulho e amor.

    Um beijo, sorrisos e flores pra ti Emília.

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    1. Uma grande verdade, Smareis! Os pais nunca reclamaram de nootes mal dormidads , de dor por ver seus filhos sofrendo, de atitudes menos correctas. Até ao último suspiro têm sempre ima palavra para confortatarem os seu pequeninos. Mas chega uma altura em que o papel se inverte e para eles é muito dificil aceitar que estão a dar trabalho aos filhos; esta é sempre a maior preocupação, não serem um estorvo na vida dos filhos. ? Querida amiga, muito obrigada pelo teu comentário e força para poderes dar à tua sogra tudo o que ela precisa nesta fase dificil. Um beijinho e até breve
      Emilia

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  21. Grandes verdades contem este texto, minha querida Emília!
    Quem tem a felicidade de ver os seus pais atingirem uma idade avançada sabe, por experiência própria, que é exactamente assim que as coisas acontecem.
    Eu posso considerar-me feliz pois acompanhei os meus Pais, ambos já falecidos, nos últimos 10 anos de vida (sempre convivi com eles, mas nos últimos 10 anos de suas vidas viveram na minha casa), e acompanhei-os até o último suspiro.
    Embora sejamos cinco filhos, eu sou a única a viver em Portugal... Logicamente, quando não tinham muita saúde, desfizeram-se dos seus bens, na Figueira da Foz, e vieram para minha casa.
    O meu Pai faleceu com um cancro no recto; os últimos dois meses tratei dele como se trata de um bebé, dando-lhe a comida e bebida na boca (pois ele não tinha forças para o fazer) trocando fraldas, enfim, fazendo tudo o que era necessário... Contratei duas enfermeiras que vinham todas as manhãs dar-lhe banho e trocar a roupa da cama e o pijama, (o meu Pai era uma pessoa muito forte, e embora tivesse perdido muito peso com a doença, era muito grande e uma pessoa só não conseguia movê-lo).Mas o resto do dia era eu que o cuidava.
    Mas conservou-se sempre lúcido e com uma inteligência fora do vulgar até ao dia anterior à grande viagem.
    Passei muitas noites à sua cabeceira porque nas duas últimas semanas as dores eram tão fortes que o médico acabou por dar-lhe morfina, e isso causava-lhe alucinações, e eu tinha que o sossegar com muito amor e carinho. Nessa altura ele chamava-me mãe, imagina!
    Com a minha Mãe foi diferente. Ela era uma florzinha de estufa, que mal se alimentava. Passava a maior parte do tempo deitada, e partiu 11 meses depois do meu Pai. Eu estava junto dela, com a mãozinha dela entre as minhas, fez-me um aceno com a mão livre, fechou os olhos, e partiu, como uma vela que se apaga porque chegou ao fim...
    Portanto, tive a felicidade de retribuir (sei que apenas em parte...) o que os meus pais fizeram por mim...
    Querida, sei a situação porque estás passando e a tua preocupação por não poderes dar mais apoio. Foi exactamente o que se passou com as minhas irmãs, que vivem há imensos anos nos Estados Unidos, e nada puderam ajudar, além de apoio psicológico...

    Não conhecia este texto, e embora já tinha lido bastantes artigos do género, gostei de ler este.
    Fizeste bem em partilhar.

    Continuação de boa semana.
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

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    Respostas
    1. Mariazita, é sim uma felicidade poder acompanhar os pais nos últimos momentos de suas vidas; não é bom vê-los sofrer, mas é uma bênção sentir que estão lúcidos. O meu não sofre, mas é doloroso ver uma pessoa sempre tão forte e activo a não conhecer, muitas vezes quem está junto dele; foi muito duro para mim despedir-me dele e ouvir perguntar-me para onde ia e se ia de carro. Estar longe também não é fácil, pois parece que tudo é pior do que quando se está presente, mas, amiga, a vida manda muito e foi assim que decidiu; há que aceitar! Muito obrigada pelo teu testemunho e, permite que te diga, tens passado uns bocados bastante duros; pelo menos sentes a satisfação de teres podido retribuir de alguma forma todo o bem que te fizeram e todo o amor que te deram. Beijinho e que os teus dias te permitam momentos de muita alegria. Tu mereces, querida amiga!
      Emilia

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  22. É realmente muito dificil ver o "definhar" fisico e mental dos nossos pais, como custa vê-los sofrer e não podermos fazer nada para aliviar as suas dores, pois só temos o nosso amor e carinho para os confortar.
    Os finais dos meus pais foram bem dificeis, principalmente o da minha mãezinha.
    Beijinhos
    Maria

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    1. A vida é bela, mas também muito cruel, Maria. Quando chegasse a hora de partir, tudo em nós se apagaria, feito vela que chega ao fim e assim partiriamos sem sofrimento; assim deveria ser, mas, infelizmente na maioria das vezes , é com um sofrimento tremendo. Muito obrigada, amiga e tudo de bom. Beijinhos
      Emilia

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