quinta-feira, 18 de abril de 2024

ABRIL

 Imagem da net


O Cavaleiro
 


Talvez o espere ainda a Incomeçada 
aquela que louvámos uma noite 
quando o abril rompeu em nossas veias. 
Talvez o espere a avó o pai amigos 
e a mãe que disfarça às vezes uma lágrima. 
Talvez o próprio povo o espere ainda 
quando subitamente fica melancólico 
propenso a acreditar em coisas misteriosas. 

Algures dentro de nós ele cavalga 
algures dentro de nós 
entre mortos e mortos. 
É talvez um impulso quando chega maio 
ou as primeiras aves partem em setembro.

Cargas e cargas de cavalaria. 
E cercos. Conquistas. Naufrágios naufrágios. 
Quem sabe porquê. Quem sabe porquê. 
Entre mortos e mortos algures dentro de nós. 

Quem pode retê-lo? 
Quem sabe a causa 
que sem cessar peleja? 
E cavalga cavalga. 

Sei apenas que às vezes estremecemos: 
é quando irrompe de repente à flor do ser 
e nos deixa nas mãos uma espada e uma rosa.


 Manuel Alegre, in "Atlântico


Há 50 anos, o mês de Abril começou a ter um significado muito especial para nós, Portugueses.; acabou a ditadura, a guerra colonial e tivemos a tão esperada liberdade. 
Escolhi Manuel Alegre para lembrar o 25 de ABRIL


Emília Pinto

segunda-feira, 1 de abril de 2024

FOME

 



Aqui, na Terra, a fome continua, 
A miséria, o luto, e outra vez a fome
Acendemos cigarros em fogos de napalme 
E dizemos amor sem saber o que seja. 
Mas fizemos de ti a prova da riqueza, 
E também da pobreza, e da fome outra vez. 
E pusemos em ti sei lá bem que desejo 
De mais alto que nós, e melhor e mais puro. 

No jornal, de olhos tensos, soletramos 
As vertigens do espaço e maravilhas: 
Oceanos salgados que circundam 
Ilhas mortas de sede, onde não chove. 

Mas o mundo, astronauta, é boa mesa 
Onde come, brincando, só a fome, 
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme.


José Saramago , Os Poemas Possíveis.


Em pleno século XXI " aqui, na terra a fome continua " . Andam os" Astronautas " a explorar o espaço, enquanto vemos, chocados, crianças a morrerem de fome. E o desperdício? É tanto...tanto...

Emília Pinto

sexta-feira, 15 de março de 2024

A LIBERDADE É.....

 

...... é um Dever 



Hoje a liberdade é tida como um direito absoluto. Mas não há liberdade absoluta. A liberdade não é sequer um direito. A liberdade é um dever, um dever fortíssimo. A liberdade é o respeito pelo próximo. O Espinoza dizia: nós supomo-nos livres porque ignoramos as forças que impedem os nossos actos. De maneira que há forças que nos são estranhas, não somos nós. Eu sinto-me um joguete, uma marioneta. Sou conduzido por forças que ignoro. Eu sinto isso, eu pressinto isso. 


 Manoel de Oliveira, in 'Notícias Magazine (DN)


É um DEVER, sim, porque temos de entender que a nossa liberdade acaba onde começa a do outro.

Emília Pinto 

domingo, 3 de março de 2024

UTOPIA

 Imagem Pixabay

 
Cidade...... 
Sem muros nem ameias 
Gente igual por dentro 
Gente igual por fora 
Onde a folha da palma 
Afaga a cantaria 
Cidade do homem 
Não do lobo mas irmão 
Capital da alegria 

Braço que dormes 
Nos braços do rio 
Toma o fruto da terra 
E teu a ti o deves 
Lança o teu Desafio 

Homem que olhas nos olhos 
Que não negas
O sorriso a palavra forte e justa 
Homem para quem 
O nada disto custa 
Será que existe 
Lá para as margens do oriente 
Este rio este rumo esta gaivota 
Que outro fumo deverei seguir 
Na minha rota? 

 Zeca Afonso, in 'Textos e Canções 


Como seria bom.....mas, como o nosso Zeca Afonso escreveu.....UMA UTOPIA

Emília Pinto

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

GUERRAS

 

 Imagem pixabay




 Quem Quiser Acabar com a Guerra 

Quem quiser, de facto, acabar com a guerra tem que intervir resolutamente para que o Estado a que pertence renuncie a uma parte da sua soberania a favor de instituições internacionais; deve estar pronto a submeter o próprio Estado, em caso de qualquer conflito, à arbitragem dum Tribunal internacional; tem de intervir com toda a decisão para que todos os Estados procedam ao desarmamento, conforme está previsto até mesmo no desgraçado tratado de Versalhes; nenhum progresso poderá esperar-se se não for suprimida a educação militar e patriótica — no sentido agressivo — do povo. Nenhum outro acontecimento dos últimos anos foi mais vergonhoso para os Estados actualmente mais considerados, que o malogro das anteriores conferências de desarmamento; pois esse malogro não assenta apenas nas intrigas de estadistas ambiciosos e sem escrúpulos, mas também na indiferença e falta de energia dos homens de todos os países. 
Se isto não se modificar, destruiremos o que os nossos antepassados criaram de verdadeiramente valioso. 

 Albert Einstein, in 'Como Vejo o Mundo


Parece ter sido escrito hoje, este pequeno texto......


Emília Pinto

domingo, 11 de fevereiro de 2024

ANIVERSÁRIO - 15 ANOS

 

Imagem pixabay

 

Meus Amigos 

quando me dão a mão 

sempre deixam outra coisa 

presença 

olhar 

lembrança 

calor 

meus amigos 

quando me dão 

deixam na minha 

a sua mão.


Paulo Leminski


Nunca pensei que o Começar de Novo chegasse aos 15 anos, mas, com a ajuda dos AMIGOS que me foram dando a mão, com a sua presença, com calor humano e muito carinho, chegámos até aqui. Muito obrigada a todos! Espero continuar a merecer a vossa amizade e assim seguir em frente enquanto a vida o permitir. Como sempre digo, os parabéns vão todos para vós, queridos Amigos. Um beijinho e a minha sincera Amizade 


Emília Pinto 

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

A MORTE.....

 

Imagem Pixabay


...... Pela Solidão 


Morrer é quando há um espaço a mais na mesa afastando as cadeiras para disfarçar, 
percebe-se o desconforto da ausência porque o quadro mais à esquerda e o aparador mais longe, sobretudo o quadro mais à esquerda e o buraco do primeiro prego, em que a moldura não se fixou, à vista, fala-se de maneira diferente esperando uma voz que não chega, 
come-se de maneira diferente, deixando uma porção na travessa de que ninguém se serve, 
os cotovelos vizinhos deixam de impedir os nossos e faz-nos falta que impeçam os nossos. 


 António Lobo Antunes, in 'Não é Meia Noite Quem Quer


Hoje em dia há muita solidão e não só nos mais idosos


Emília Pinto